sábado, 22 de janeiro de 2011

Os Negócios da Sonangol

Esta semana que termina terá sido excelente para a Sonangol, logo, por inerência, para a economia angolana. Foi uma semana que culminou com as aquisições da Escom e da Coba, mas também, com a autorização do Banco de Portugal que permite a Sonangol aumentar a sua participação financeira no Millennium BCP até 20% do capital.
Para avaliar se uma aquisição foi boa, é fundamental, conhecer o preço que foi pago, algo, que ainda não foi revelado. No entanto, mesmo sem conhecer o preço, considero as aquisições positivas, principalmente, pela qualidade dos dois activos adquiridos. Além disso, creio que foram efectuadas em tempo oportuno, o contexto, da economia portuguesa é de falta de liquidez, portanto, existe uma grande pressão para fazer caixa (dinheiro).
É necessário considerar que a falta de liquidez, é uma consequência da quebra do crédito, o que implica uma maior pressão sobre os mercados de dívida, a consequência, é a elevação das yields das obrigações do tesouro, algo que tem um efeito directo na avaliação de qualquer negócio, porque se as taxas de desconto são mais elevadas, o valor actual dos cash-flows futuros é mais pequeno, portanto, o preço é menor, principalmente, do que seria num contexto económico normal. Portanto, não será errado presumir que as aquisições foram feitas a desconto, ou pelo menos, deveriam ter sido.
Se analisarmos a qualidade dos dois activos (Escom e Coba) verificamos que são excelentes activos, ambos são referências internacionais nos seus ramos de actividade e detentores de um extenso portfolio de negócios.
A Escom tem uma presença assinalável nos principais sectores económicos de Angola, nomeadamente, construção, minério, petróleo, gás, cimentos e imobiliário. É verdade que alguns sectores poderão estar em desaceleração, mas por exemplo, passar a ser detentor da Opway Angola, é de capital importância. Trata-se de uma empresa que fazia parte do universo de umas das melhores construtoras portuguesas.
Portanto, uma empresa detentora de um grande know-how especializado em engenharia, com excelentes recursos humanos, com um sistema de gestão avançado e uma boa equipa de gestão. Além disso, é uma aquisição que se enquadra nas necessidades de infra-estruturação do país, tem uma natureza estruturante e susceptível de provocar sinergias com outras áreas de actividade.
O mesmo raciocínio, se pode aplicar em relação a Coba, uma empresa especializada em projectos de engenharia, nomeadamente, em aproveitamentos hidráulicos (barragens, mini-hídricas), produção e transporte de energia, agricultura e desenvolvimento rural, sistemas de abastecimentos de águas, infra-estruturas de transporte, ambiente e estruturas geotécnicas. Como verificamos, é uma empresa que desenvolve a sua actividade em sectores essenciais para a economia angolana, mas que ao mesmo tempo são deficitários. Basta lembrar, o entrave económico, que supõem a deficiente produção e o respectivo fornecimento de energia eléctrica em Angola. Para superar, este constrangimento, vai ser necessário, alguém (Coba) para conceptualizar projectos nesta área e depois alguém (Opway Angola) para construir. Parecem-me duas excelentes aquisições, ainda por cima, são activos que já se encontram internacionalizados.
Em relação ao Millennium BCP, não considero um investimento interessante, creio que Angola deve ter outras prioridades, mas se a Sonangol considera o investimento estratégico, penso que só faz sentido se a Sonangol tiver uma posição dominante no Millennium BCP, algo que, nas circunstâncias actuais passa pela concentração e reforço da estrutura accionista. É preciso ter consciência que a aplicação de Basileia III vai implicar um forte reforço dos capitais próprios do banco, nem todos os accionistas estão em condições de acompanhar esse reforço, o banco pode ficar numa posição vulnerável, a cotação em bolsa fechou esta semana nuns escassos 0,61 euros, a cotação durante estas ultimas semanas esteve quase a quebrar o suporte dos 0,5 euros, convém ter consciência que o valor nominal das acções é 1 euro. Creio que não será necessário consultar o código das sociedades comerciais? Espero que a Sonangol não caía na tentação de deixar reduzir o valor nominal das acções.
O banco necessita de uma estrutura accionista forte, não há espaço para os mais fracos, sob pena, de por em causa o próprio banco, a Sonangol neste momento tem um poder imenso sobre o sistema financeiro português, é uma oportunidade única para assumir uma posição de domínio, o Millennium BCP é o maior banco privado português, portanto, com maior risco sistémico, se a Sonangol forçar a queda das cotações do Millennium BCP, põe o sistema financeiro português no tapete, portanto, agora mais do que nunca, a Sonangol deve promover o reforço e a concentração accionista. Apenas com uma estrutura accionista forte, será possível, restituir a credibilidade, o prestígio e a excelência ao Millennium BCP. Caso contrário, vamos continuar a assistir ao arrastar do banco em bolsa. Apenas para terminar, o maior banco privado português, Millennium BCP, está cotado em bolsa a 0,61 euros, enquanto o maior banco privado espanhol, Santander, está cotado em 9,07 euros, não deveria fazer pensar?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Patologia Económica

Recentemente, o INEA revelou os seguintes dados económicos referentes ao 3T, as exportações conheceram um decréscimo de 1,63% enquanto as importações sofrem um acréscimo de 34,38%. No que diz respeito as exportações, o produto mais vendido foi o Petróleo Bruto que representa 97,32% das exportações, num valor estimado de 13,8 Biliões de dólares. No que diz respeito as importações constata-se que os produtos mais importados, foram precisamente, os combustíveis num valor estimado de 1,6 Biliões de dólares.
Verificamos uma excessiva dependência da economia angolana em relação à exportação de Petróleo, uma dependência perigosa porque torna o desempenho da economia muito volátil, já que existe uma excessiva exposição a flutuação dos preços do crude nos mercados internacionais e por outro lado existem limites quantitativos da OPEP que impedem a expansão da produção. Um efeito que pode ser bastante penalizador quando existe uma baixa significativa dos preços.
Em relação as nossas importações, elas indicam uma ausência de tecido produtivo interno e uma grande dependência em relação ao exterior, portanto, a diversificação económica ainda não se fez sentir na economia e não passa de um chavão em discursos de circunstância política.
Esta excessiva dependência em relação ao exterior deveria fazer-nos reflectir, somos um país exportador de recursos naturais, exportamos produtos em bruto para outras economias transformarem, incorporando e introduzindo valor nos seus produtos para depois exportarem esses mesmos produtos já transformados de volta para Angola. O caso mais sintomático é o Petróleo Bruto que exportamos e o Petróleo Refinado que importamos. O que significa isso?
Significa que a nossa economia não é detentora de uma cadeia de valor, não somos capazes de produzir produtos com valor acrescentado, significa que temos um deficit de capital humano, de know-how, de tecnologia e de marcas próprias. Se tivermos em conta que os recursos são escassos e finitos, no dia em que se esgotarem, não teremos nada para exportar porque nada sabemos produzir. O país estará irremediavelmente condenado ao fracasso e ao empobrecimento, se este padrão económico não for invertido.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Má Gestão das Empresas Públicas

Numa manhã do mês de Dezembro, a cidade de Almada foi surpreendida por uma chuva de peças de motor oriundas de um avião da TAAG que sobrevoava os céus portugueses, por sinal, o avião pertencia a mais recente frota comprada pela Transportadora Aérea à Boeing, portanto, tratavam-se de aviões novos.
A aquisição da frota implicou um avultado investimento público e coincidiu precisamente com o anúncio da inclusão da TAAG na lista negra da União Europeia, que impede as Transportadoras Aéreas de sobrevoar o espaço aéreo europeu.
Foi um duro golpe para a TAAG porque impossibilitava a empresa de rentabilizar a sua frota recém comprada, pois estava impedida de voar para os seus principais mercados, sem mencionar, o duro golpe na imagem e na credibilidade da empresa.
Sinceramente, não sei dizer, se depois do ostracismo europeu, a frota foi utilizada para fazer outras linhas aéreas ou se os aviões, simplesmente, ficaram parados em Luanda a apanhar sol, mas em qualquer dos casos, mesmo parados em Luanda e sem voar não é razão para poupar na manutenção dos aviões.
Mesmo contra todas as expectativas, conseguiu-se um regime de excepção para à TAAG, que permitiu o regresso dos aviões da Transportadora Aérea aos aeroportos portugueses, mas ficando interdita ao remanescente espaço aéreo europeu. Esta excepção, foi de suma importância porque permitiu retomar a capacidade operacional da empresa, gerar cash-flows e rentabilizar o investimento efectuado.
Mas todas as excepções implicam uma responsabilidade redobrada, neste caso, em concreto, era um autêntico teste a competência e a capacidade da empresa, num cenário, onde a margem de erro era tremendamente reduzida porque todos os focos de atenção estavam apontados para a empresa.
Com o incidente de Almada fica plenamente justificada a decisão da Comissão Europeia em interditar a TAAG do espaço europeu porque a empresa não reúne condições de segurança para voar. Portanto, não é crível que num futuro imediato ou mesmo longínquo a TAAG abandone a lista negra, porque os responsáveis europeus têm bom senso e noção da prudência, ninguém está na disposição de assistir a um desastre aéreo protagonizado pela TAAG em solo europeu, com excepção, de Portugal.
A situação da TAAG ilustra como as empresas públicas são mal geridas, planeiam mal os seus investimentos, não têm em conta todos os cenários possíveis, não se acautelam com cláusulas contratuais perante situações imprevistas, portanto, têm pouca capacidade de negociação e um grande desconhecimento contratual. A gestão das empresas públicas não é empresarial, não se traduz por planeamento, controlo, fiscalização e auditoria, porque existe uma ausência gritante de procedimentos e processos internos bem definidos. O mais problemático é que esta situação é totalmente transversal nas empresas públicas. Se ainda considerarmos a ausência de pensamento estratégico, a carência de conceitos de marketing e a deficiente gestão de talento, o cenário, das empresas públicas apenas pode ser dantesco.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As Duas Faces da Moeda

O processo de Independência de Angola coincide com a ascensão do MPLA ao trono do país, convém notar, que o MPLA era um partido com um axioma ideológico profundamente marcado pelo marxismo-leninismo, a tal facto, não é alheio a influência cubana e soviética que se fizeram sentir em solo angolano.
A ideia original era converter Angola num Estado Socialista, na mais dura acepção do termo, com um Estado Centralizador e uma economia totalmente planificada. O período pós-independência não foi fácil, marcado por uma guerra civil intensa que devastou o país e que incutiu uma cultura Estatal fortemente repressora e militarizada.
Durante o decurso da guerra civil pudemos assistir a queda do muro de Berlim, ao fim do regime soviético, a progressiva transição das economias comunistas para economias de mercado, muitas delas sob a forma de economias mistas, onde existe convivência entre o público e o privado. Talvez, o mais correcto seria designar este processo de abertura, de Capitalismo de Estado, um fenómeno, a que Angola não ficou alheio.
O grande rosto do Capitalismo de Estado em Angola, chama-se, Sonangol, a empresa petrolífera estatal, a sua influência é tão intensa e expressiva, que muitos analistas a consideram como um verdadeiro Fundo Soberano. De facto, a Sonangol tem muita força financeira, é um instrumento primordial da política económica angolana, no entanto, considero que muito mal utilizado, principalmente, considerando o perfil de Angola.
O país necessita de investimento produtivo, para diversificar a sua economia e reduzir a sua dependência exterior, no entanto, tal não se verifica, porque a grande obsessão da Sonangol é investir na banca, nomeadamente, no Millennium BCP, uma aposta que se tem revelado ruinosa para os interesses da empresa e supérflua para os interesses do país. Se o capital dessa aplicação tivesse sido direccionado para outro tipo de investimento, nomeadamente, para sectores produtivos que permitam um efeito de substituição das importações e a recuperação de sectores com potencial exportador, o efeito final, na economia angolana teria sido mais benéfico para o país. Não deixa de ser caricato, ver um país tão carenciado, ser tão obcecado por possuir participações financeiras em bancos. É verdade, que a Sonangol não pode substituir o mercado nem os demais agentes económicos, mas no caso angolano, creio que não será exagero afirmar que a Sonangol é o próprio mercado.
Mercado, economia de mercado, é a outra face da moeda, um conceito que foi ganhando espaço em Angola, com a abertura e a liberalização da economia, onde o expoente máximo da iniciativa privada se encontra tipificado no rosto de Isabel dos Santos, aliás, de uma forma geral, todos os grandes grupos privados angolanos estão intimamente conotados com o circulo do poder, por isso, não estranha observar que a maioria dos negócios privados desenvolvem-se sob a protecção de grandes monopólios e são detentores de enormes barreiras de entrada. O que explica, em parte, a grande falta de competitividade da economia angolana, por sua vez, o deficit de competitividade, é o detonante da grande obsessão dos investidores privados, que tal como o Estado, vivem obcecados com o negócio bancário, preterindo, o investimento produtivo. Por isso, não é estranho, verificar o sistemático reforço da posição de Isabel dos Santos no Banco BPI, porque em essência os investimentos financeiros proporcionam lucros mais rápidos do que os investimentos produtivos, sendo a lógica do investidor privado a maximização do lucro, justifica-se.
O problema é o vazio que estas opções provocam na economia angolana, uma ausência total de investimento estruturante e a descapitalização da economia. Penso que seria mais útil que o dito Fundo Soberano, estivesse mais focalizado em desenvolver os sectores com maior potencial produtivo, estimulando parcerias e fomentando a iniciativa privada. Seria de toda a utilidade capitalizar a imagem de Isabel dos Santos a favor de Angola, constituindo uma marca do país, que se caracteriza por uma Angola jovem, dinâmica e empreendedora. Será de vital importância incutir uma cultura empresarial e empreendedora no país, facilitando o surgimento de novos empreendedores e mais projectos empresariais. É fundamental que este processo de desenvolvimento e de diferenciação da iniciativa privada, não seja, enviesado pelos contactos privilegiados que certos agentes privados possam ter no seio do poder, é primordial, que a livre iniciativa seja caracterizada pela igualdade de oportunidades.