segunda-feira, 25 de julho de 2011

Hooliganismo Político

O fenómeno do hooliganismo surgiu no mundo do futebol com especial incidência no Reino Unido durante os Governos de Margaret Thatcher. O hooliganismo consistia basicamente na organização violenta dos adeptos de um clube com intuito de caçar e agredir os adeptos das equipas rivais. Também havia uma grande consciência do território, o estádio de cada claque e as ruas circundantes eram considerados territórios inexpurgnáveis. O hooliganismo apesar de ter origem no Reino Unido muito rapidamente se propagou aos restantes países europeus, fomentando ódios e rivalidades. O episódio mais trágico do hooliganismo aconteceu em Heysel Park numa final entre Liverpool e Juventus, onde vários adeptos italianos morreram por esmagamento devido a onda de violência e provocações que antecedeu o jogo.

Noto em Angola alguns vestígios de Hooliganismo, nomeadamente, Hooliganismo Político após as manifestações pacificas que decorreram em Luanda. Vários participantes foram intimidados, ameaçados, inclusivamente, agredidos. Existem até relatos onde existiu o recurso ao uso de armas de fogo. Também existem denúncias, da formação de uma espécie de milícias políticas em certos bairros de Luanda, a ser verídica esta situação, penso que a intenção é aumentar o controlo das populações locais, fomentar medo e aumentar a repressão. De certa forma, assistimos a uma cultura de Hooliganismo Político que consiste numa caça ao adversário político. Mas penso que o recurso ao Hooliganismo Político uma estratégia pouco inteligente, penso que é preferível e mais sensato permitir o livre exercício da cidadania, ainda por cima, de forma completamente pacífica, porque permite um maior controlo dos próprios manifestantes, um maior conhecimento das suas actividades e a própria identificação dos manifestantes. Uma cultura de forte intimidação e repressão apenas vai conduzir a uma coisa, a clandestinidade dos manifestantes, portanto, a perda de controlo. A clandestinidade tem consequências, nomeadamente, o agudizar da luta contra o sistema com tácticas não convencionais, entenda-se terrorismo.
Poderá argumentar-se que em Angola os manifestantes não têm capacidade operacional para executar semelhantes actividades, é uma verdade, mas existem diversas estruturas internacionais dispostas a apoiar este tipo de actividades. Temos um exemplo bem recente na Noruega, onde um individuo com ramificações a extrema-direita executou um massacre.
Em Angola a maioria da população sabe manejar uma arma de fogo, muitos tiveram uma boa preparação militar, uma estratégia de repressão pode ter efeitos perniciosos, penso ser mais sensato dar espaço as pessoas para manifestarem a sua opinião, embora diferente e critica em relação ao Governo. Angola necessita desta liberdade, porque vai contribuir para o enriquecimento da sociedade, o debate de ideias de forma livre vai permitir a emancipação das consciências, o despontar dos melhores e o desafio da arte de rebater os argumentos. Este é o passo necessário para o crescimento da democracia, a selecção dos melhores entre os melhores, e não uma legião de acéfalos. Em pleno século XXI não me parece positivo a prática do terror sobre as populações, é tempo de fazer crescer uma democracia participativa, é importante, assistir a uma evolução ideológica no interior dos partidos, não é exequível no século XXI ainda ser refém de velhos dogmas. Por tudo isto: Não ao Hooliganismo Político em Angola.

sábado, 16 de julho de 2011

O Rating de Angola

A Standard & Poor's (S&P) acaba de elevar o rating da República de Angola para o escalão BB-, os fundamentos apresentados para justificar a revisão da classificação da dívida de longo prazo de Angola, foram os seguintes:

1.) Fortalecimento da situação orçamental e comercial;
2.) Elevação do preço do petróleo;
3.) Reformas estruturais efectuadas;
4.) Regularização das dívidas em atraso de 2008/2009.

A S&P salienta também os esforços realizados pelo Governo em matéria de fortalecimento na gestão das finanças públicas, bem como a implementação de procedimentos orçamentais com intuito de prevenir a acumulação futura de dívidas. Os analistas da agência de rating acabam por reconhecer vários méritos à Governação, acredito que a actividade governativa seja complexa, principalmente, quando o legado é um país totalmente destruído e devastado pela guerra. Apenas posso dar os meus parabéns ao Governo por esta melhoria gradual, que não é perceptível no quotidiano da maioria dos angolanos. No entanto, sou daqueles que pensa, o esforço merece ser reconhecido e louvado.
Mas um BB- não é motivo para a euforia, é uma classificação que continua a colocar o país no patamar do Junk (Lixo). Ninguém paga para ser Junk. Temos um exemplo bem próximo, a Moddy´s colocou Portugal no patamar do Junk, bem como as suas principais empresas, reacção portuguesa, rescindir o contrato com a Moddy´s. Volto a repetir: Ninguém paga para ser Junk.
Devemos ser conscientes que com uma classificação de BB-, nunca teremos acesso aos mercados internacionais, ainda por cima, se o nosso único fundamento económico for o petróleo. Senão, vejamos, porque razão nunca nenhum sindicato bancário se atreveu a realizar uma emissão angolana? Provavelmente, porque não tem procura nos mercados internacionais, e se tiver, o custo será exorbitante. Mas sendo assim, porque razão não organizam uma emissão com tomada firme? Porque sabem a um custo exorbitante Angola não vai ter condições de devolver a dívida. Mas os bancos, pedem sempre uma garantia, porque razão o colateral não é o próprio petróleo? Porque seria um colateral demasiado volátil, muito provavelmente, Angola ficaria hipotecada O resultado final é sempre o mesmo, Angola acabaria por não pagar, entraria em Default.
Neste espaço, sempre defendemos, o erro que seria para Angola submeter-se ao rating, continuamos a manter essa posição, porque ninguém se submete ao rating para ser classificado como Junk. Gostaria de salientar, que notamos uma alteração no paradigma que rodeia as agências de rating, elas estão a perder credibilidade, devido à Crise do Euro, as agências são acusadas de falta de transparência nas suas avaliações, as suas revisões em baixa coincidem sempre na véspera de alguma emissão importante da Zona Euro, suscitando a dúvida sobre os interesses obscuros que rodeiam as agências de rating. Parece que trabalham a soldo dos especuladores.
No entanto, para ilustrar a dimensão do erro que supõe estar exposto ao rating, um país com as características de Angola, ilustra-se da seguinte forma, Angola ter uma classificação BB-, significa que o aparelho empresarial angolano reflecte esta notação, por inerência, a Sonangol. Uma empresa como a Sonangol ser classificada ou rotulada com um BB- é extremamente penalizante. A Sonangol, só por si, é merecedora de uma classificação muito mais elevada. Desta forma, fica associada a uma percepção de risco que a empresa não detém. Convém lembrar, a Sonangol, é a empresa mais importante de Angola. Portanto, um BB- é um erro. Enfim, sempre podemos presumir de ter um rating melhor do que a Nigéria.