segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Perigos e Similitudes Chinesas/Angolanas

Alguns conceituados analistas internacionais prevêem o abrandamento da economia chinesa num curto espaço de tempo. Existem alguns sinais económicos que são o pronúncio desta eventualidade, nomeadamente, a contracção pelo terceiro mês consecutivo da actividade manufactureira, o crescimento da borbulha no sector da construção, os preços dos activos chineses entraram numa tendência de caída e as empresas do sector têm cada vez mais dificuldades em financiar-se. A dívida dos Governos locais atinge 27% do PIB e considera-se que 80% é incobrável. As empresas chinesas cotadas em Wall Street caíram consideravelmente, depois, de ser conhecido a manipulação das suas contabilidades.
Uma caída abrupta da Bolsa Chinesa poderá ter o efeito perverso de corroer as poupanças das famílias chinesas, provocar falências em massa e disparar o desemprego chinês. O contágio com o resto do mundo seria imediato, com consequências directas para Angola, tanto ao nível do financiamento da própria economia, como no Investimento Directo Chinês no país, bem como no apetite pela procura de recursos naturais. Um efeito negativo na economia chinesa tem um efeito imediato na economia angolana. Uma menor pressão na procura de commodities implicará uma queda nos preços, logo nas receitas fiscais do Estado angolano, e possivelmente, uma quebra no PIB e um deficit na conta-corrente. Existe ainda, mais uma questão, que convém frisar, a existência em Angola de uma borbulha imobiliária ou um sobreaquecimento do sector? Quando irá estoirar? Será em simultâneo com a China? Quais as consequências? A interconexão entre a economia chinesa e angolana é forte, para o bem e para o mal.
O próprio modelo político chinês poderia estar em causa, num cenário de grave crise económica, ele baseia-se na seguinte premissa, o povo abdica do processo de tomada de decisões, em troca, o Estado governa de forma centralizada, com o objectivo de criar emprego e promover uma crescente prosperidade do povo chinês. Neste, ponto existe uma divergência, em relação à Angola, o Executivo ainda foi capaz de promover esta forte onda de criação de emprego e trilhar o caminho da prosperidade. Curiosamente, o Governo chinês começa a ser assolado por alguns dos males mais recorrentes em Angola, como, por exemplo, a corrupção ao nível dos seus funcionários públicos, que apesar, de ser punida pela pena capital, não tem desmobilizado esta práctica na China, por outro lado, assistimos a uma cada vez maior assimetria social no país, os trabalhadores das grandes cidades chegam a ganhar 3 vezes mais do que os camponeses, sem referir a ascensão meteórica dos multimilionários chineses. Não surpreende, por isso, que no último ano na China tenham ocorrido mais de 180.000 manifestações de rua clamando por uma maior Justiça Social. Existem semelhanças entre os problemas que assolam Angola e China, a principal, diferença é que os problemas chineses têm um impacto muito maior tanto na economia angolana como mundial, mas o caldo social de onde surgem, detêm os mesmos nutrientes. Portanto, um problema grave na China terá sempre um impacto grande em Angola, é curioso, verificar que muitos dos problemas que existem na economia chinesa são semelhantes à angolana mas com dimensões totalmente distintas. Possivelmente, este seja um dos factores que explica a cumplicidade Chino/Angolana, sem mencionar o interesse estratégico chinês.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Sucessão Presidencial

Há muito tempo se especula sobre uma eventual sucessão presidencial em Angola, alegando ser tempo de passar o testemunho. Uma ideia reforçada pelas convulsões sociais nos países norte-africanos e pelas manifestações nas ruas de Luanda. No entanto, segundo, a nova Constituição da República, a eleição presidencial deixou de ser unipessoal para ser uma eleição de carácter partidário. Portanto, a questão da sucessão de José Eduardo dos Santos é mais uma questão do foro interno do MPLA, do que, uma questão nacional.
Um observador externo caracterizaria José Eduardo dos Santos como uma pessoa discreta, ponderada, equilibrada e pouco propenso a excentricidades. Uma pessoa que reúne condições para promover a estabilidade e a previsibilidade no país. Sendo Angola, uma reserva energética e uma fonte de diversificação no abastecimento das principais potencias mundiais, estas características são bastante apreciadas.
Por isso, penso que a sucessão de José Eduardo dos Santos é bastante complexa, tanto pelas suas características pessoais, como pela forma, como é percepcionado pelos principais lideres mundiais. Inclusivamente, dentro do próprio MPLA é difícil encontrar uma personalidade que possa suprir José Eduardo dos Santos. No entanto, a sucessão é inevitável pelas próprias circunstâncias da condição humana, por isso, é preferível que seja bem planeada.
Alguns nomes têm sido veiculados, entre eles, Manuel Vicente, alguém com um perfil semelhante à José Eduardo dos Santos. Considero que poderia ser uma boa escolha porque se trata de uma pessoa bastante calejada na alta esfera dos negócios, tanto, nacionais como internacionais. Apesar, de ter um percurso invejável, tem uma falha grave, pelo menos, segundo, o meu ponto de vista, Manuel Vicente, como Presidente da Sonangol, pode ficar na história de Angola como o responsável pelo negócio mais ruinoso do país, refiro-me a aposta no Millennium BCP. Enquanto, esta situação não for invertida, penso que Manuel Vicente, não tem condições para suceder à José Eduardo dos Santos. Não faz sentido uma sucessão com uma personalidade fragilizada.
No meu ponto de vista, de acordo com a conjuntura de profunda crise internacional e um contexto de elevada incerteza em relação ao futuro, penso que a melhor opção para a sucessão presidencial, é o próprio, José Eduardo dos Santos. Não antevejo grandes alternativas, é preferível a aposta na continuidade, por aquilo que já conhecemos, do que apostar pelo desconhecido, quando se aproxima uma enorme tempestade à nível mundial. Pessoalmente, desejaria que o futuro Governo estivesse mais focado na luta contra a pobreza e um combate mais forte à corrupção. Penso que estas, são as duas maiores falhas da Governação de José Eduardo dos Santos, devem ser corrigidas, é certo que é impossível elimina-las, mas podem e deveriam ser atenuadas.