terça-feira, 26 de outubro de 2010

UNITA: Uma Estratégia de Poder

Durante esta semana um alto cargo da UNITA, afirmou, que seria uma questão de tempo para o seu partido chegar ao poder. A interrogação que coloco é a seguinte, quanto tempo?
Parece-me uma evidência que destronar o actual partido do poder é uma tarefa extremamente difícil, porque o MPLA detém o controlo absoluto do poder político e económico em Angola.
A expressão do seu poder é desmesuradamente grande ao ponto de relegar a oposição a um valor cada vez mais residual, na prática, a oposição tem cada vez menos visibilidade na sociedade e menos capacidade de intervenção, aliás, a verdadeira oposição em Angola é feita por alguma imprensa corajosamente independente.
Parece-me que a oposição está muito focalizada na pessoa do Presidente da República, é verdade, que a omnipresença do Presidente na vida angolana pode gerar um sentimento de opressão, e que muitos angolanos não votariam no candidato José Eduardo dos Santos, no entanto, nunca deixariam de votar no MPLA, portanto, uma crítica exclusivamente centrada no Presidente tem pouco efeito erosivo. Seria mais oportuno explorar os erros de governação que o MPLA tem cometido e não têm sido poucos.
Se a UNITA pretende um dia ser Governo em Angola penso que é fundamental rever a sua estratégia de actuação e de fazer oposição. Penso ser vital que a UNITA tome os seguintes passos:
1. Definir um projecto político para uma Angola de Futuro, que esteja assente num conjunto reduzido de políticas-chave, nomeadamente, na economia, na justiça, na saúde e no desenvolvimento.
2. É necessário que as políticas-chave sejam facilmente identificáveis e perceptíveis, é fundamental, que estas políticas tenham um rosto, portanto, é imperativo o partido encontrar os quadros mais capacitados para assumir a expressão deste rosto.
3. Este conjunto de quadros deve assumir a função de um Governo sombra, ser responsável pela denúncia dos erros de governação do MPLA, ser capaz de explicar à população como os erros e os vícios da governação do MPLA comprometem o futuro dos angolanos e propor politicas alternativas. É vital que a exposição mediática seja aproveitada ao máximo através de uma mensagem e uma comunicação fácil e directa.
4. É imperativo à UNITA demonstrar a incompetência governamental como principal factor de pobreza e exclusão social em Angola. É prioritário a UNITA assumir o desígnio nacional de reduzir as assimetrias sociais e promover uma distribuição mais equitativa da riqueza. É fundamental que o desígnio seja transmitido de uma forma simples e abrangente para que a maioria da população possa entender e sentir-se identificada. Desta forma, promove-se a mudança de opinião.
5. É necessário que a UNITA abra o partido à sociedade civil promovendo jornadas de reflexão sobre o país que sejam susceptíveis de atrair independentes, académicos e intelectuais com intuito de debater o presente e o futuro do país. Seria importante que a UNITA tivesse capacidade para promover um evento de reflexão que fosse uma referência nacional.
6. Uma vez que a exposição mediática da UNITA é reduzida é necessário que o combate político, nomeadamente, das bases partidárias seja feito junto das populações através de uma política de proximidade que permita não só preservar a sua base social mas também incrementa-la.

domingo, 17 de outubro de 2010

Pagar ou Não Pagar? Eis a Questão

Mais uma vez estalou a histeria em Portugal porque supostamente Angola não paga e nem permite o repatriamento dos lucros das empresas de construção civil. É verdade que há sensivelmente 2 anos os exportadores portugueses começaram a constatar e a manifestar dificuldades e atrasos na regularização das dívidas angolanas. Um sentimento depressivo que se intensificou com a queda abrupta do preço do crude e a forte quebra de divisas no BNA, que acabou por levar o Governo a pedir a intervenção do FMI para regularizar a sua Balança de Pagamentos.
Os atrasos nos pagamentos às empresas portuguesas fizeram-se sentir, ao ponto, que muitas ameaçaram parar as obras, enquanto outras reduziram à sua actividade e diminuíram o número de trabalhadores. O Governo ao atrasar os pagamentos limitou-se a fazer gestão de tesouraria, financiar-se ao máximo à custa dos seus fornecedores, o problema, é que muitas empresas de construção civil portuguesas também têm problemas de tesouraria e a este problema acresce o facto de Angola ser cada vez mais um mercado importante no seu portfolio de negócios, pois o mercado português está estagnado.
O risco de uma política de tesouraria muito agressiva, de efectuar pagamentos muito para além do limite tolerável, consiste em os fornecedores cortarem o fornecimento e deixarem de conceder crédito, com as naturais consequências na actividade económica e na imagem do próprio país.
A questão pode resultar bastante inconveniente, principalmente, quando um país pretende emitir dívida internacional e sujeitar-se ao escrutínio das agências de rating, porque se coloca a questão, se o Estado não honra os seus próprios compromissos como vai honrar a sua dívida soberana?
No entanto, parece que o Governo tem vindo a regularizar as dívidas ás construtoras portuguesas, mas reforçou as exigências no cumprimento da lei cambial, naturalmente, as empresas com maior implantação e conhecimento do mercado angolano, não sentiram as dificuldades que muitas construtoras de menor dimensão e menos conhecimento estão à sentir em Angola, porque apesar do país não ter uma administração pública eficiente e estar muitas vezes conotado com a corrupção, o país também tem regras, e em Angola ter acesso à informação é um activo muito precioso.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Angola Trajectória Descendente

Parece que o crescimento económico do país está a perder fulgor, no inicio do ano projectava-se um crescimento aproximado de 9%, um valor que foi depois revisto para 6% e agora temos uma nova projecção que nos situa na casa dos 4%.
O Governo justifica a perda de dinamismo da economia nacional com a crise financeira internacional, é certo, que com um maior condicionamento do financiamento internacional, as multinacionais e os investidores têm tendência para retrair a sua actividade e adiar decisões de investimento.
No entanto, não deixa de ser curioso, constatar que o crédito bancário em Angola conheceu um crescimento mas ainda não tem dimensão para sustentar a economia nacional, nomeadamente, as necessidades de financiamento do país.
Pessoalmente, tinha a expectativa que Angola retoma-se a senda dos crescimentos fortes porque a variável fundamental do país (o petróleo) tem-se mantido no seu preço natural nos mercados internacionais, por isso, considero todo o crescimento económico inferior à 6% como decepcionante.
Talvez, se a prioridade económica nacional não fosse a aquisição de participações financeiras em bancos estrangeiros, mas sim, concentrar esses fluxos para investimentos produtivos no país, que se traduzem pela criação de riqueza na economia real, possivelmente, a economia angolana neste momento estaria mais diversificada e não estaria tão exposta aos choques externos e o Governo não teria que fazer tanta contenção e tanta contrição.
É estranho, um país que carece de tantas infra-estruturas, de indústria, de serviços, de tecnologia, de recursos humanos qualificados, se dedique ao jogo da especulação financeira, Angola não pode ser uma economia de casino, necessita ser uma economia produtiva.