sábado, 11 de dezembro de 2010

Erros de Governação do MPLA

Recentemente, li no Jornal de Negócios, que a Comissão Europeia dava a conhecer que Angola deve 9 Mil Milhões de dólares às empresas comunitárias, especialmente dos sectores da construção civil, montantes relativos à 2008 e 2009. Segundo o Comissário Europeu, Andris Piebalgs, o valor de 9 Mil Milhões de dólares, deu origem em 2009 a um deficit recorde de 8,6% do PIB, contribuindo decisivamente para o abrandamento da economia em 2010 para cerca de 4,5% contra a previsão inicial de 9,7%.
O Comissário Europeu vai ainda mais longe, afirmando, que estes atrasos funcionam como um travão para o crescimento da economia e diminuem a confiança das empresas na capacidade do Governo de cumprir as suas obrigações de pagamento.
O argumento do Comissário Europeu é válido, como já referimos inúmeras vezes aqui neste espaço, Angola em muitos sentidos sofre de um problema de crescimento rápido, um problema muito comum em muitas empresas que se encontram na mesma fase do ciclo de crescimento, e que por inaptidão dos seus gestores não são capazes gerir essa fase do ciclo de crescimento rápido, normalmente, o que acontece, é que o esforço que a empresa faz para aumentar as suas vendas não é acompanhado pelo esforço ao nível dos seus fornecedores, o que implica um aumento das suas necessidades de fundo de maneio, quando elas estão mal planeadas ou não previstas, normalmente, acontece uma ruptura na tesouraria, ou seja, existe falta de liquidez.
A consequência é que os fornecedores ficam mais receosos, reduzem o nível de crédito concedido, exigem o pagamento a pronto, ou então, suspendem o fornecimento. O que implica uma paralisação na actividade económica. Numa política saudável de cash-management tenta-se sempre pagar o mais tarde possível e receber o mais atempadamente possível, de forma, a maximizar o auto-financiamento espontâneo, mas sempre dentro de limites aceitáveis, que não comprometam a imagem e o bom funcionamento da empresa.
Creio que a economia angolana está a passar por um processo semelhante, mas com uma única diferença, está a financiar-se em demasia à custa dos seus fornecedores, de tal forma, que já se notam repercussões na sua actividade económica, com efeitos directos na performance do PIB.
É perfeitamente legitimo que os empresários ou investidores ajustem as suas expectativas, sejam mais prudentes e reduzam a sua exposição ao mercado angolano.
Quando ocorre uma ruptura de liquidez, o primeiro passo é procurar uma linha de financiamento, algo que Angola fez, recorrendo ao FMI para equilibrar a sua Balança de Pagamentos. Se as fontes de financiamento secarem, o passo seguinte será alienar os activos mais valiosos e líquidos do país. Ou então incorrer em incumprimento e assumir todas as consequências que possam advir deste facto.
Na minha opinião, Angola incorre ainda num outro risco, que chamaria de risco de rating, o país expôs-se ao escrutínio do rating na altura menos propicia (em plena crise financeira internacional) e ainda por cima expôs-se ao rating sabendo que em nenhuma circunstância obteria um bom rating. Não respeitou uma máxima dos mercados, apenas, se deve submeter ao escrutínio do rating, quem tiver a convicção absoluta de que vai obter um bom rating, caso contrário, é preferível não submeter-se ao rating.
Angola submeteu-se ao rating com a intenção de emitir dívida soberana para os mercados internacionais, mas com a crise da dívida soberana europeia os mercados ficaram fechados, se pensarmos que activos com a classificação de A atingem yields na casa dos 7 a 11%, quanto será expectável obter por um activo angolano de classe B+?
Pois o natural é esperar um preço demasiado baixo, o que se reflecte numa yield basta elevada, aliás, proibitiva para qualquer emissor, porque tanto o emissor como o investidor sabem que o Estado não vai conseguir pagar e honrar o seu compromisso, portanto, a dívida soberana não terá procura, por isso, não surpreende que a primeira emissão de dívida angolana tenha sido adiada.
Em circunstâncias normais, perante, as noticias de atrasos na regularização das dívidas angolanas, o normal, teria sido as agências de rating reverem a notação de Angola em baixa, dificultando ainda mais o acesso do país aos mercados financeiros internacionais.
A percepção do rating da República de Angola pode ainda ter efeitos mais perniciosos porque permite uma percepção mais clara para os investidores do real risco da economia angolana, portanto, se a economia tem um maior grau de risco será natural que os investidores exijam maiores prémios de risco, o que tem implicações nas taxas de desconto com que avaliam os seus projectos de investimento, portanto, muitos investimentos que a partida poderiam ser viáveis, poderão simplesmente deixar do ser, porque os investidores exigem taxas de remuneração mais elevadas e portanto uma maior capacidade na geração de cash-flows.
A consequência é bastante gravosa e penalizadora para a economia angolana porque vai dificultar a atracção de Investimento Directo Estrangeiro para o país, cuja consequência imediata é amputar as possibilidades de diversificação económica do país. Por isso, não estranha observar a fuga de capitais angolanos com destino à Portugal, nomeadamente, no reforço das suas participações nos bancos portugueses, algo que pode ser interpretado, como um claro sinal de que a classe empresarial angolana deixou de acreditar na economia do seu país.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Nomeação de George Chicoti

A nomeação de George Chicoti constituiu uma surpresa, é possível que em certos sectores do MPLA possa ter gerado um certo desconforto, no entanto, a escolha de José Eduardo dos Santos foi uma decisão inteligente. Passo a enumerar algumas razões para sustentar a minha afirmação:
1. Esta nomeação dá um claro sinal de abertura do Governo porque George Chicoti não pertence a génese do MPLA;
2. A nomeação não foi feita com base na profunda nomenclatura do MPLA mas baseia-se em critérios de experiência e competência (Chicoti foi Vice-Ministro das Relações Exteriores e é referenciado como pessoa competente);
3. A nomeação de um dissidente da UNITA pressupõem sempre um duro golpe para o principal partido da oposição;
4. Por fim, esta nomeação permite ao MPLA criar a imagem de ser o único partido em Angola com capacidade para congregar e integrar todos os Angolanos.
No meu entendimento, esta nomeação, implica um risco mínimo para José Eduardo dos Santos mas uma exigência máxima para George Chicoti porque se o mandato correr bem, o Presidente da República pode presumir que o seu Governo é suficientemente dinâmico e flexível para que um quadro não formado no MPLA possa ter êxito, se a experiência correr mal, é sempre possível estigmatizar o falhanço devido ao seu passado na UNITA.
Penso que é do interesse de todos que George Chicoti tenha sucesso à frente do seu Ministério, o primeiro problema delicado a ser resolvido, é a embaraçosa situação da embaixada em Washington, será fundamental compreender o problema e tomar decisões com base na transparência, é uma questão de credibilidade diplomática para Angola.
As teorias da reciprocidade são coisas do passado, próprias de Estados anacrónicos, em nenhuma circunstância se deveriam ponderar, principalmente, contra a maior potência mundial, o país com mais peso nas mais importantes Instituições e Organismos Internacionais, seria um suicídio diplomático, basta analisar o conteúdo dos documentos filtrados pelo Wikileaks durante estes últimos anos, para ter noção de como os Estados Unidos fazem diplomacia e encaram as questões de política geoestratégica, não é nada conveniente ter atritos diplomáticos com os norte-americanos.
Angola necessita de uma diplomacia positiva baseada em alianças estratégicas com outros países parceiros porque o país já é demasiado castigado pelo estigma da corrupção que permanentemente paira quando são divulgados os rankings internacionais sobre esta matéria. Necessitamos de uma diplomacia competente que transmita a imagem de um país em progresso e que pretende ser um actor essencial na sua área de influência. Precisamos fundamentalmente de uma diplomacia geradora de consensos, esse deve ser o papel de Angola, ser um pilar de equilíbrio no continente africano, isto apenas se consegue com uma diplomacia séria, credível e susceptível de transmitir confiança. Estes serão os grandes desafios de Angola e agora em particular de George Chicoti, será que vão ser alcançados?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Extracto Bancário Congelado

As comemorações da Independência de Angola em Washington ficaram marcadas por um incidente internacional. A embaixada de Angola viu as suas contas bancárias congeladas, o que implicou um forte constrangimento na actividade da embaixada, já sem mencionar o embaraço diplomático.
É sabido que após o atentado ás Torres Gémeas, as autoridades norte-americanas reforçaram em muito o seu sentido de alerta. Para os EUA, as actividades financeiras ilícitas são uma questão de Segurança Nacional porque muitas delas são provenientes da máfia ou têm como objectivo financiar operações terroristas no país, portanto, percebe-se e justifica-se o controlo apertado que existe nos EUA nesta matéria.
Por outro lado tem que se perceber a atitude preventiva dos Bancos, principalmente, dos grandes Bancos, num contexto, de crescente crise financeira internacional, á reputação de um Banco é cada vez mais um activo precioso e fundamental, obviamente, nenhum Banco com reputação internacional quer ver a sua imagem associada com suspeitas de operações ilícitas.
Não foi há muito tempo que a Transparency International divulgou o seu Índice de Percepção da Corrupção 2010, notamos que Angola ocupou a posição 168 do ranking com uma modesta classificação de 1,9 numa escala entre 0 e 10, talvez agora se perceba a importância de sair bem classificado nestes rankings porque eles formulam opinião.
Para mim, o que realmente é estranho, é como uma embaixada opera num país sem conhecer o enquadramento jurídico desse mesmo país, questiono-me, será que a embaixada não podia ter minimizado o risco contratando assessoria jurídica? As embaixadas não servem apenas para conceder vistos e renovar passaportes, também têm como função prestar auxílio jurídico aos seus concidadãos quando é necessário.
Sabendo que os EUA se caracterizam pelo escrupuloso cumprimento da lei, onde as Instituições do país são fortes e os poderes são totalmente independentes, exigia-se a embaixada um outro tipo de comportamento. Pedir reciprocidade de actuação perante a maior potência mundial é uma estupidez, principalmente, quer Angola queira ou não, é uma reserva estratégica dos EUA, se começar a causar problemas provavelmente Angola passará a sofrer interferências internas.
Penso, que o essencial é perceber qual é o problema e encontrar uma solução coordenada com as autoridades norte-americanas e os Bancos, não quero acreditar que estivessem a usar uma embaixada para fazer lavagem de dinheiro, principalmente, uma embaixada nos EUA porque seria demasiada estupidez. Existem formas mais simples de lavar dinheiro, basta abrir uma conta bancária numa off-shore e depois pedir um empréstimo usando o montante da conta bancária como colateral, este é o processo mais sintético de lavagem de dinheiro, que pode ser muito mais complexo e sofisticado se envolver vários off-shores, vários veículos financeiros e produtos derivados. Até para branquear capitais é preciso ser competente, não é para todos.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Extravagâncias do Poder

Por muito que custe ouvir, o MPLA é o único partido com vocação de poder em Angola, mas isso não significa que um dia não possa surgir alternância política. Seria saudável para o próprio país se existisse mais debate político e uma oposição mais presente e mais expressiva porque Angola carece de ideias e de uma visão de futuro.
Uma oposição mais forte seria positivo para o próprio MPLA que seria obrigado a pautar a sua actividade política com base na competência e no mérito, e não ser uma espécie de veículo para a satisfação de interesses pessoais e privados.
É precisamente a falta de perspectivas na oposição e a percepção do MPLA como único veículo de poder que contribui para a degradação moral da sociedade e a decadência do Estado. Porque existe uma tendência para converter o veículo de poder num albergue de oportunistas onde reina a promiscuidade entre negócios públicos e privados.
Não vale a pena negar esta realidade, porque Angola é sempre posta em evidência quando são divulgados os rankings que várias organizações internacionais produzem para aferir os índices de corrupção, os índices de desenvolvimento humano e o ambiente de negócios. O país impreterivelmente sai sempre mal classificado, sempre no fundo da tabela.
O MPLA é o único partido que pode presumir de ter uma experiência de Governação acumulada, o que lhe permite ter quadros altamente qualificados e por isso deveria ser capaz de capitalizar essa experiência em prol e beneficio do país, mas isso não acontece porque o partido esta mais focado em gerir susceptibilidades pessoais.
Não existe uma estabilidade governativa no país, sistematicamente, ministros são exonerados e outros são nomeados, não existe uma continuidade nas políticas porque cada ministro tem o seu cunho pessoal, além disso, necessita tempo para conhecer as matérias, entretanto, tudo fica parado como se Angola se pudesse dar ao luxo de parar.
O excesso de poder permite estas extravagâncias de nomear incompetentes para os cargos de maior exigência e responsabilidade do país, é fundamental, que o MPLA faça um exame de consciência porque não é aceitável que um dos maiores produtores de crude do continente africano tenha uma esperança de vida de 48,1 anos, uma escolaridade de 4,4 anos, um rendimento nacional per capita €4.900, um índice de desenvolvimento humano de 0,403 e ocupe a posição 146 do relatório de 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Percepção da Corrupção em 2010

Recentemente a Transparency International divulgou o seu Índice de Percepção da Corrupção para 2010, que inclui este ano 178 países. O índice tem uma escala que varia entre 10 (países sem corrupção) e 0 (países totalmente corruptos).
Apesar de Angola manter a sua baixíssima pontuação de 1,9 numa escala que varia entre 0 e 10, o que coloca o país como um dos mais corruptos do mundo, Angola este ano ocupa uma posição ainda mais baixa no ranking, passou da posição 162 para à posição 168.
Se considerar-mos apenas o ranking regional correspondente à África Subsariana que inclui 47 países, Angola ocupa a posição 42, ficando ao nível de países como a Guiné Equatorial, Burundi, Chade e o Sudão. Sendo inclusivamente ultrapassado por países como a República Democrática do Congo, Guiné, Quénia e Camarões, apenas, para citar alguns países.
É de notar que o país mais corrupto do mundo é a Somália que ocupa a posição 178 do ranking, e a posição 47 no ranking regional da África Subsariana, com uma pontuação de 1,1. Apenas 0,8 pontos separam Angola da Somália, creio que é caso para pensar.
Convém lembrar que estes índices são consultados pelos mais importantes investidores, executivos e analistas mundiais, nomeadamente, como uma forma de avaliar o risco de investir num determinado país, portanto, são uma informação essencial nas suas decisões de investimento.
Decidir investir num país com uma elevada percepção de corrupção corresponde para muitos investidores ao pagamento de um imposto oculto, que obviamente, não é tributado porque nunca entra nos cofres do Estado. E muitos investidores por uma questão de ética, de imagem ou de risco não estão na disposição de pagar o dito imposto oculto, em prejuízo da economia local que fica privada de fontes de geração de desenvolvimento e riqueza.
A corrupção tem sempre o efeito de acentuar as desigualdades sociais porque promove a concentração da riqueza numa minoria, portanto, implica uma má distribuição da riqueza cuja consequência é o incremento da pobreza para a generalidade da população.
Para terminar o artigo deixo o link onde o ranking pode ser consultado:
http://www.transparency.org/policy_research/surveys_indices/cpi/2010/results

terça-feira, 26 de outubro de 2010

UNITA: Uma Estratégia de Poder

Durante esta semana um alto cargo da UNITA, afirmou, que seria uma questão de tempo para o seu partido chegar ao poder. A interrogação que coloco é a seguinte, quanto tempo?
Parece-me uma evidência que destronar o actual partido do poder é uma tarefa extremamente difícil, porque o MPLA detém o controlo absoluto do poder político e económico em Angola.
A expressão do seu poder é desmesuradamente grande ao ponto de relegar a oposição a um valor cada vez mais residual, na prática, a oposição tem cada vez menos visibilidade na sociedade e menos capacidade de intervenção, aliás, a verdadeira oposição em Angola é feita por alguma imprensa corajosamente independente.
Parece-me que a oposição está muito focalizada na pessoa do Presidente da República, é verdade, que a omnipresença do Presidente na vida angolana pode gerar um sentimento de opressão, e que muitos angolanos não votariam no candidato José Eduardo dos Santos, no entanto, nunca deixariam de votar no MPLA, portanto, uma crítica exclusivamente centrada no Presidente tem pouco efeito erosivo. Seria mais oportuno explorar os erros de governação que o MPLA tem cometido e não têm sido poucos.
Se a UNITA pretende um dia ser Governo em Angola penso que é fundamental rever a sua estratégia de actuação e de fazer oposição. Penso ser vital que a UNITA tome os seguintes passos:
1. Definir um projecto político para uma Angola de Futuro, que esteja assente num conjunto reduzido de políticas-chave, nomeadamente, na economia, na justiça, na saúde e no desenvolvimento.
2. É necessário que as políticas-chave sejam facilmente identificáveis e perceptíveis, é fundamental, que estas políticas tenham um rosto, portanto, é imperativo o partido encontrar os quadros mais capacitados para assumir a expressão deste rosto.
3. Este conjunto de quadros deve assumir a função de um Governo sombra, ser responsável pela denúncia dos erros de governação do MPLA, ser capaz de explicar à população como os erros e os vícios da governação do MPLA comprometem o futuro dos angolanos e propor politicas alternativas. É vital que a exposição mediática seja aproveitada ao máximo através de uma mensagem e uma comunicação fácil e directa.
4. É imperativo à UNITA demonstrar a incompetência governamental como principal factor de pobreza e exclusão social em Angola. É prioritário a UNITA assumir o desígnio nacional de reduzir as assimetrias sociais e promover uma distribuição mais equitativa da riqueza. É fundamental que o desígnio seja transmitido de uma forma simples e abrangente para que a maioria da população possa entender e sentir-se identificada. Desta forma, promove-se a mudança de opinião.
5. É necessário que a UNITA abra o partido à sociedade civil promovendo jornadas de reflexão sobre o país que sejam susceptíveis de atrair independentes, académicos e intelectuais com intuito de debater o presente e o futuro do país. Seria importante que a UNITA tivesse capacidade para promover um evento de reflexão que fosse uma referência nacional.
6. Uma vez que a exposição mediática da UNITA é reduzida é necessário que o combate político, nomeadamente, das bases partidárias seja feito junto das populações através de uma política de proximidade que permita não só preservar a sua base social mas também incrementa-la.

domingo, 17 de outubro de 2010

Pagar ou Não Pagar? Eis a Questão

Mais uma vez estalou a histeria em Portugal porque supostamente Angola não paga e nem permite o repatriamento dos lucros das empresas de construção civil. É verdade que há sensivelmente 2 anos os exportadores portugueses começaram a constatar e a manifestar dificuldades e atrasos na regularização das dívidas angolanas. Um sentimento depressivo que se intensificou com a queda abrupta do preço do crude e a forte quebra de divisas no BNA, que acabou por levar o Governo a pedir a intervenção do FMI para regularizar a sua Balança de Pagamentos.
Os atrasos nos pagamentos às empresas portuguesas fizeram-se sentir, ao ponto, que muitas ameaçaram parar as obras, enquanto outras reduziram à sua actividade e diminuíram o número de trabalhadores. O Governo ao atrasar os pagamentos limitou-se a fazer gestão de tesouraria, financiar-se ao máximo à custa dos seus fornecedores, o problema, é que muitas empresas de construção civil portuguesas também têm problemas de tesouraria e a este problema acresce o facto de Angola ser cada vez mais um mercado importante no seu portfolio de negócios, pois o mercado português está estagnado.
O risco de uma política de tesouraria muito agressiva, de efectuar pagamentos muito para além do limite tolerável, consiste em os fornecedores cortarem o fornecimento e deixarem de conceder crédito, com as naturais consequências na actividade económica e na imagem do próprio país.
A questão pode resultar bastante inconveniente, principalmente, quando um país pretende emitir dívida internacional e sujeitar-se ao escrutínio das agências de rating, porque se coloca a questão, se o Estado não honra os seus próprios compromissos como vai honrar a sua dívida soberana?
No entanto, parece que o Governo tem vindo a regularizar as dívidas ás construtoras portuguesas, mas reforçou as exigências no cumprimento da lei cambial, naturalmente, as empresas com maior implantação e conhecimento do mercado angolano, não sentiram as dificuldades que muitas construtoras de menor dimensão e menos conhecimento estão à sentir em Angola, porque apesar do país não ter uma administração pública eficiente e estar muitas vezes conotado com a corrupção, o país também tem regras, e em Angola ter acesso à informação é um activo muito precioso.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Angola Trajectória Descendente

Parece que o crescimento económico do país está a perder fulgor, no inicio do ano projectava-se um crescimento aproximado de 9%, um valor que foi depois revisto para 6% e agora temos uma nova projecção que nos situa na casa dos 4%.
O Governo justifica a perda de dinamismo da economia nacional com a crise financeira internacional, é certo, que com um maior condicionamento do financiamento internacional, as multinacionais e os investidores têm tendência para retrair a sua actividade e adiar decisões de investimento.
No entanto, não deixa de ser curioso, constatar que o crédito bancário em Angola conheceu um crescimento mas ainda não tem dimensão para sustentar a economia nacional, nomeadamente, as necessidades de financiamento do país.
Pessoalmente, tinha a expectativa que Angola retoma-se a senda dos crescimentos fortes porque a variável fundamental do país (o petróleo) tem-se mantido no seu preço natural nos mercados internacionais, por isso, considero todo o crescimento económico inferior à 6% como decepcionante.
Talvez, se a prioridade económica nacional não fosse a aquisição de participações financeiras em bancos estrangeiros, mas sim, concentrar esses fluxos para investimentos produtivos no país, que se traduzem pela criação de riqueza na economia real, possivelmente, a economia angolana neste momento estaria mais diversificada e não estaria tão exposta aos choques externos e o Governo não teria que fazer tanta contenção e tanta contrição.
É estranho, um país que carece de tantas infra-estruturas, de indústria, de serviços, de tecnologia, de recursos humanos qualificados, se dedique ao jogo da especulação financeira, Angola não pode ser uma economia de casino, necessita ser uma economia produtiva.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Inflação e a Pobreza

A inflação tem um efeito perverso, principalmente, em países pobres porque acentua a injustiça na distribuição da riqueza. Entende-se por inflação, o aumento generalizado dos preços numa economia durante um determinado período de tempo. Quando a inflação é maior do que os ganhos salariais existe perda de poder compra.
Numa economia, como Angola, onde a maioria da população tem níveis de rendimento muito baixos, isso significa que a maioria do rendimento disponível das famílias é dedicado ao consumo, portanto, as famílias não são capazes de gerar poupança.
Se existe um aumento generalizado dos preços, sem o correspondente incremento a nível dos salários ou das fontes de rendimento, isto, significa que o orçamento familiar vê-se reduzido, portanto, com o mesmo orçamento compram-se menos coisas, se a totalidade do orçamento é dedicado ao consumo, nomeadamente, bens essenciais, isso, significa que as famílias ao perder poder de compra vão passar fome agravando o nível de pobreza.
Quando a generalidade da população entende que a sua subsistência é posta em causa, a reacção normal, é manifestar o seu protesto, uma manifestação pela sobrevivência pode facilmente converter-se num motim social.
A inflação em Angola assume um nível desproporcionado, não foi há muito tempo que Luanda foi considerada a cidade mais cara do mundo. Não me parece razoável uma inflação de dois dígitos no país, muito menos uma inflação que cresce mais do que a própria economia.
O processo inflacionário em Angola surge de um desajustamento da oferta interna, que implica a incorporação da inflação através das importações, uma pressão que ainda é incrementada pela elevada pauta aduaneira, que acabam por subverter os preços dos bens. Por outro lado, também podemos encontrar pressão inflacionista nas crescentes entradas de capitais no país, via créditos internacionais, que implicam um aumento da circulação monetária, cuja consequência é a desvalorização da moeda nacional, portanto, geração de inflação através da pressão monetária.
Penso que o passo primordial para reduzir expectativas inflacionistas, passa pela dita diversificação económica, que deve ter como função promover um efeito de substituição, das importações por produto nacional (existirão nichos de mercado que permitirão promover a exportação nacional). Em relação, a pressão monetária, o Governo deve promover uma politica que permita uma adequada absorção dos fluxos financeiros internacionais, ajustando de forma correcta as suas necessidades de financiamento aos fluxos financeiros solicitados.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Insensatez Política

Nos países do continente africano cometem-se inúmeros pecados, entre os quais, destacaria a corrupção e a insensatez política. A corrupção em África é gritante, além de ser, uma prática diária e institucionalizada. Assistimos como pessoas praticamente do nada enriquecem subitamente, um enriquecimento difícil de explicar mas fácil de entender.
É possível, que para a maioria da população, por falta de instrução, seja difícil compreender algumas engenharias financeiras, que não entendam os processos de branqueamento de capitais, apesar, do povo não entender estas complexas operações, percebe perfeitamente, senão fosse a posição privilegiada que algumas pessoas ocupam na esfera do poder, esse enriquecimento não teria sido possível.
A insensatez política resulta do facto dos políticos tentarem negar as evidências considerando a generalidade da população ignorante e desprovida de inteligência, só assim, se explicam algumas afirmações que constituem verdadeiros insultos a qualquer pessoa pensante.
Não foi há muito tempo que assisti a um Procurador Provincial da República a desafiar todo o povo angolano a denunciar casos de corrupção na Procuradoria mas com o tónico das denuncias estarem sustentadas em provas concretas, fiquei perplexo, porque numa democracia funcional basta a existência de indícios, que supõem a pratica de um crime, para desencadear um processo de investigação, aliás, em Angola não faltam indícios, bem pelo contrario, abundam, mesmo que o Ministério Público sofresse de miopia crónica bastaria uma denuncia anónima para accionar todos os mecanismos de investigação. Pelo menos, assim deveria de ser, se a Justiça em Angola fosse competente e independente.
É esta falta de sensatez nas afirmações de muitos responsáveis que ocupam cargos de extrema relevância e responsabilidade em Angola que alimentam a indignação de muitos cidadãos, é a falta de razoabilidade e de bom senso em muitas das decisões políticas que muitas vezes é responsável por cenários de explosão social.

sábado, 18 de setembro de 2010

O Rastilho Moçambicano

Para muitos ocidentais, Moçambique era apontado como um bom modelo de Governação no continente africano, portanto, a explosão social que ocorreu no país após o anúncio de um aumento de preços foi uma surpresa para muitos deles.
É um lugar comum dizer que nos países africanos existe uma injusta distribuição da riqueza, onde ela é detida por uma imensa minoria em detrimento da generalidade da população que vive com grandes carências e dificuldades extremas. Por isso, não deveria ser surpresa a ocultação que os meios de comunicação social angolanos fizeram sobre a situação moçambicana. Parece-me difícil uma convivência democrática sem estar assegurada a liberdade de expressão, não quero com isto dizer, que tenha havido uma interferência directa e explicita do Governo para restringir o direito à informação, mas basta analisar quem são os detentores dos meios de comunicação social em Angola para perceber o porquê da omissão sobre o que estava a acontecer em Moçambique.
Mais preocupante ainda, é a tentativa de pessoas próximas ao poder de tentar controlar e condicionar os meios de comunicação social pela via accionista, assistimos em Angola a um capitalismo com tiques fascistas, onde a censura existe de uma forma declarada mas encapotada porque o censor não é o Governo de uma forma directa mas o accionista privado que faz parte do seu circulo intimo e para fazer parte tem que agradar pois é a única forma de salvaguardar os seus próprios interesses.
Entendo a necessidade de restringir a informação, pois são conhecedores das precárias condições de vida do povo angolano, enquanto eles vivem na opulência, por essa razão é conveniente evitar o alarme e o conflito social. Angola não está imune a esse risco, considero que a ocorrência de uma situação semelhante à moçambicana no país difícil mas a verificar-se acredito que as proporções serão muito maiores.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sonangol: Um Cartel Bancário?

É uma realidade que a Sonangol está presente na estrutura accionista de vários bancos em Angola, mas não só, tem inclusivamente uma expressiva presença em Portugal através do Millennium BCP. Seria interessante, questionar, o que move este gigante angolano pelo sector bancário?
É um facto que a banca, é um sector estruturante em qualquer economia, ou pelos menos, devia ter essa função. O sector bancário através da concessão de crédito e o financiamento permite aos agentes económicos realizar os seus projectos de investimentos. É óbvio, que o objectivo da banca é fazer dinheiro através da intermediação financeira mas também será de toda a utilidade encarar a banca como um parceiro.
Mas estando a Sonangol presente em tantos bancos, não poderá ser conflitual, porque sendo os bancos todos concorrentes entre si, lutando pelo mesmo mercado e tendo todos um accionista comum, que conhece em detalhe os planos estratégicos de cada banco não poderá existir uma tendência para uma gestão mais ineficiente por possíveis conflitos de interesses. Será que não existem bancos que podem ser prejudicados ou beneficiados porque existe um accionista com informação privilegiada sobre cada um deles?
Talvez, sendo a banca um pilar da economia e sendo Angola um regime Presidencialista, exista uma estrita necessidade de controlar a economia, uma das formas, de fazê-lo seria através da banca. Mas esse estrito controlo bancário não permitiu evitar a drástica redução das Reserva Internacionais Liquidas, parece que algo falha neste puzzle.
Sendo a Sonangol um promotor de vários projectos bancários, as explicações mais lógicas, passam por evitar uma excessiva concentração bancária no país, cuja consequência, é uma redução dos serviços bancários e um aumento dos custos para os clientes, com um maior número e mais elevadas comissões e também por praticar spread’s mais elevados.
Também, foi interessante ler a entrevista de Jardim Gonçalves, fundador do BCP, associando a entrada da Sonangol no BCP a uma questão de Estados, na verdade, nada do que acontece em Angola de relevante em termos económicos não passa pelas mãos do Presidente, a entrada no BCP sempre foi encarada como estratégica apesar da desvalorização verificada do BCP em Bolsa, a natureza estratégica, do BCP pode residir no facto de poder ser uma estrutura importante na captação de fundos angolanos, mas para garantir a total salvaguarda do interesse angolano seria de toda conveniência um maior controlo accionista da Instituição e uma maior influência na sua gestão.
No entanto, considero que seria mais importante para a economia angolana, se a Sonangol tivesse mais focada no desenvolvimento dos sectores mais estratégicos do país, do que, dedicar-se a ser um cartel bancário porque em Angola existem vários sectores com imenso potencial e que estão em subdesenvolvimento ou praticamente inexplorados.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A Intolerância Zero

Nesta fase da crise mundial observamos como certos Estados estão a ser confrontados com os seus deficits excessivos, após, numa primeira fase terem sido convidados a iniciarem um conjunto de pacotes de estímulos à economia, que consistia em aumentar a despesa pública e reduzir as taxas de juro. Estas medidas tinham como objectivo evitar uma grande depressão económica mas como efeito colateral aumentou os deficits fiscais e a divida pública.
A zona Euro mais fragilizada pela situação grega e alvo dos especuladores antecipou o seu processo de ajustamento económico, anunciando a necessidade de medidas de austeridade fiscal, as agências de rating reagiram baixando progressivamente as suas notações, argumentando, que as medidas de ajustamento iriam reduzir as perspectivas de crescimento económico, logo, aumentando o risco da divida soberana.
Obviamente, se a economia cresce menos do que a dívida, a divida aumenta e as receitas geradas pela economia são insuficientes para pagar a divida, logo, o peso da divida acaba por ser insustentável podendo levar ao incumprimento.
É neste contexto, que me parece interessante algumas intervenções que surgiram em Luanda, fazendo um apelo para uma maior compreensão dos programas e dos instrumentos orçamentais. Penso que este apelo não é alheio ao actual contexto internacional que estamos a viver mas também não é alheio ao facto da economia angolana estar ser monitorizada pelo FMI.
O domínio dos instrumentos orçamentais parece-me importante pela sua função de controlo, nomeadamente, para corrigir e justificar os desvios verificados em relação ao planeado e eliminar despesa improdutiva. É um elemento que introduz maior rigor e eficiência nas contas públicas. A total compreensão dos diplomas legais parece-me um preceito importante, principalmente, para evitar as típicas situações de incompatibilidade que normalmente dão azo a situações dúbias de corrupção.
É importante que exista domínio destes instrumentos, principalmente, se algum dia Angola tiver necessidade de realizar um ajustamento fiscal, será sempre mais produtivo realiza-lo através da despesa, do que, via impostos. Além de que a via dos impostos em Angola seria totalmente inexpressiva.
Para acompanhar este tema, parece-me interessante a ideia da obrigatoriedade dos titulares de cargos públicos declararem o seu património, no entanto, no curto prazo a ideia parece-me vetada ao fracasso, porque Angola carece de uma maquina fiscal e administrativa minimamente informatizada e eficiente, que permita o cruzamento e a confirmação de dados. É um passo necessário, mas apenas credível se existir uma modernização de todo o aparelho fiscal e administrativo do país, caso contrário, será apenas uma distracção.
No entanto, penso que são passos importantes, muitos deles não darão resultados imediatos, mas no longo prazo creio que serão uma realidade porque acredito que Angola estará obrigada a mudar, quer seja pela mudança de paradigma económico que se está a verificar no mundo, quer seja pela convicção de que os recursos são escassos e necessitam de ser melhor geridos, e para isso, são necessários melhores recursos humanos, quer seja, pelo facto das gerações vindouras serem mais exigentes e elas próprias em seu próprio interesse promoverem essa mudança.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Problemas da Gestão da Divida Angolana

Tem sido recorrente na imprensa lusa o tema da dívida angolana as empresas portuguesas, ao ponto, da visita do Presidente da República portuguesa à Angola ter ficado associada a uma tentativa de regularização das mesmas. Obviamente, quem vende pretende receber e quem compra pretende pagar o mais tarde possível, é uma pura questão, de cash management.
Por um lado temos Angola, um país em rápido e forte crescimento económico, que tem necessidade de financiar esse crescimento, mas é confrontado com a falta de poupança interna para emitir divida domestica e ao mesmo tempo é confrontado com mercados de capitais em crise que não permitem com razoabilidade colocar ou emitir divida soberana. Ainda temos de considerar a forte quebra nas receitas, causada pela queda do preço do crude, com impacto directo nas contas públicas do país e que condicionou o financiamento e a execução de diversos programas e projectos.
Esta situação é equiparável ao que acontece em muitas empresas com crescimento rápido mas mal planeado, acaba sempre por existir uma ruptura ao nível da tesouraria porque as necessidades de fundo maneio foram mal avaliadas. Normalmente, este tipo de situação pode levar a falência da empresa mesmo sendo economicamente viável.
Na questão angolana, apenas implica um atraso no pagamento da sua dívida, deixando o fardo para o credor, que desta forma acaba por financiar mais do que desejaria o seu devedor, neste caso, o Estado angolano.
Por outro lado, entende-se a urgência na regularização das dívidas, por parte das empresas, pois elas necessitam de cash para cumprir com os seus próprios pagamentos, num cenário caracterizado precisamente pela falta de liquidez, onde o crédito é inacessível ou tem preços proibitivos. O risco de falência é real e cortante para as empresas, principalmente, para aquelas que estiverem bastante endividadas, tiverem montantes elevados a haver e necessitem de receber com urgência os seus montantes em dívida.
A falta de pagamento associada ao clima de crise que se verifica a nível mundial, com mais incidência nos países desenvolvidos, acaba sempre por influenciar a capacidade investimento dessas empresas em novos projectos, nomeadamente, em Angola. A consequência imediata será adiar os novos projectos até que o clima económico se altere ou as dívidas sejam regularizadas. Os efeitos são sempre nefastos porque implicam sempre menos investimento e logo mais desemprego.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Incomodidade Lusófona Portuguesa

Esta semana Luanda recebe uma comitiva liderada pelo Dr. Cavaco Silva acompanhada por vários empresários no âmbito da nova presidência da CPLP que Angola vai passar a presidir. Questiono-me qual é a verdadeira intenção da visita do Presidente da República portuguesa, será efectivamente, discutir e reflectir o espaço estratégico que uma comunidade de 250 Milhões de pessoas que partilham a mesma língua, o português, deve ter ou o propósito da sua visita é apenas resolver os pagamentos em atraso do Estado angolano as empresas portuguesas?
Porque razão na comitiva portuguesa apenas há empresários e não se encontram pessoas ligadas à cultura?
A mim pessoalmente chateia-me este pedinchar português, porque Angola honra os seus compromissos sempre e quando os outros honrem os seus compromissos com Angola. Além disso, parece-me redutor reduzir a comunidade lusófona a uma mera perspectiva económica, porque a lusofonia deve ser encarada como algo mais do que uma simples conjectura de oportunidades de negócio.
Se pretendermos ter uma lusofonia forte e firme com base na língua portuguesa, creio que o primeiro foco a ser estimulado devia ser precisamente o lado do ensino da língua portuguesa e o lado cultural, por exemplo, uma forte aposta na produção literária em língua portuguesa, acompanhada pela produção cinematográfica e pelas artes plásticas. Creio que são estes os elos diferenciadores e identificadores de uma comunidade, no verdadeiro sentido da palavra, caso contrário, será apenas uma comunidade baseada nos interesses e nas vantagens de circunstância.
Parece-me que o país que melhor tem percebido esta faceta tem sido o Brasil, um verdadeiro pólo animador da lusofonia, não só porque vai ser uma economia líder a nível mundial mas também porque é um foco de inovação e produção cultural baseada na literatura, cinema, teatro e artes plásticas. Um conjunto de dimensões que conferem outro significado a comunidade e uma maior elevação da lusofonia, enquanto a posição portuguesa é sempre redutora.

domingo, 11 de julho de 2010

O Papel do IDE na Diversificação

Há certos temas que são recorrentes pela importância que representam para Angola e por essa razão não me canso de repeti-los. Mesmo, no léxico de muitos políticos angolanos a palavra Diversificação ganhou um estatuto especial, com frequência ouvimos responsáveis e decisores políticos afirmarem que é necessário diversificar a economia angolana.
Creio que é uma evidência para a maioria das pessoas, se pensarmos que o crude é responsável por praticamente 95% das exportações e contribui com 50% na formação do PIB. Notamos que a economia angolana está exposta a uma grande volatilidade que resulta das variações no preço do crude, que tem impactos imediatos na actividade interna do país, além disso, um modelo económico unicamente assente no papel de exportador de crude não é um modelo sustentável a longo-prazo porque os recursos são finitos e além disso existe uma tendência cada vez maior para os países reduzirem a sua dependência em relação a essa matéria-prima.
Por isso, urge que o país caminhe para a diversificação das suas actividades económicas, um processo que em Angola tem sido lento, porque faltam competências fulcrais ao país para promover esse processo, nomeadamente, recursos humanos qualificados, um sistema de educação de qualidade, um tecido empresarial competitivo e uma sociedade civil que estimule o empreendedorismo e a inovação.
Um conjunto de factores que Angola carece porque não existe um aparelho produtivo no país com essas competências, não existe um sistema de educação que promova a qualidade e incentive a inovação em articulação com as empresas, como carece destes factores, resulta impossível para as empresas locais desenvolverem novos produtos/serviços e explorar novos mercados. Sem recursos humanos qualificados, menor é o estímulo para desenvolver projectos empresariais próprios, portanto, sem empreendedorismo é mais difícil desenvolver as novas oportunidades de negócio que existem no mercado.
Os efeitos, notam-se na economia via Balança Conta Corrente, porque o país importa praticamente tudo o que consome, o que provoca uma atrofia no aparelho produtivo nacional mas também é responsável pela pressão inflacionária que o país pode sentir, além, do efeito hemorrágico ao nível das divisas. Um conjunto de factores que condicionam as opções de política económica, financeira e monetária do país.
A diversificação económica é urgente, não estando o país capacitado para realiza-la pelos seus próprios meios, a melhor solução, é promover e atrair o IDE.
Normalmente, o IDE é proveniente de países mais desenvolvidos, que procuram investir em países onde existam oportunidades de negócio que lhes permitam desenvolver vantagens competitivas, com o objectivo de alcançarem elevadas taxas de crescimento ou importantes volumes de negócio. Por regra, são oportunidades que se encontram inexploradas nos mercados receptores, é este processo de exploração da nova oportunidade de negócio que inicia a diversificação económica no país receptor.
A diversificação económica é intensificada com o IDE porque além de investirem nos sectores onde existem mais oportunidades de negócio inexploradas e também com maiores vantagens competitivas, desencadeiam em muitos casos, um processo de transferência de tecnologia na economia local, isto acontece, quando a filial da empresa estrangeira introduz novos produtos/serviços ou novos processos, os seus trabalhadores adquirem novas competências e novos conhecimentos, o que contribui para elevar o capital humano do país. Ao mesmo tempo, as empresas que são clientes ou fornecedoras da empresa estrangeira, de uma forma, indirecta incorporam nos seus processos os efeitos da difusão da nova tecnologia que acaba de entrar no mercado.
A presença do IDE permite elevar a produtividade na economia receptora, porque a empresa estrangeira conta com mais experiência, melhor tecnologia e capital mais sofisticado, portanto, têm níveis de produtividade superiores as empresas locais, o que obriga as demais empresas a elevar os seus standards de produtividade.
Portanto, o IDE pela sua natureza obriga a economia receptora adquirir e desenvolver novas competências, nomeadamente, um melhor sistema de educação que contribua para uma maior qualificação dos recursos humanos e um tecido empresarial mais competitivo, factores chave, para que a diversificação económica possa ocorrer.

domingo, 4 de julho de 2010

A Vergonha Estatal

Já não era novidade para ninguém, as condições precárias de edificabilidade do Hospital Geral de Luanda, nestes últimos dias as condições de sustentabilidade da estrutura do Hospital agravaram-se e implicaram o encerramento de unidades e a consequente transferência de pacientes para outras unidades de saúde.
Causa perplexidade que uma obra desta envergadura, construída apenas à 4 anos e com um custo orçamentado de US$ 8 Milhões se encontre nesta situação indignante e merecedora da mais profunda repulsa cívica.
Seria importante questionar quantas empresas com projectos milionários pagos pelo Estado angolano estão em condições para executar com boas práticas, com competência e com total garantia de bom sucesso esses mesmos projectos. Convém também, questionar quando um projecto público é orçamentado em US$ 8 Milhões por uma empresa privada, se essa mesma empresa vai implementar e executar o projecto no terreno pelo valor orçamentado ou apenas por metade ou menos do valor orçamentado, cortando em custos e reduzindo a qualidade dos materiais? Será que o custo orçamentado está sobrevalorizado em relação ao custo real?
Este caso é elucidativo e demonstra a ausência de Estado em Angola, não houve uma única Entidade capaz de fiscalizar a obra, não houve nenhuma Entidade capaz de salvaguardar os interesses do próprio Estado. O Estado em Angola não existe ou então é sinónimo de MPLA e de incompetência.
Não se analisam os investimentos numa perspectiva de custo/beneficio, não se analisa em perspectiva nenhuma, na coisa pública, o mínimo que se exigia era rigor, mas como existe a crença interiorizada que o dinheiro nunca vai acabar entregam-se projectos de milhões de dólares e de interesse público à empresas que não têm competência técnica para executa-las, ou então, por manifesta má fé são mal executadas.
Se existiu manifesta má fé por parte da empresa responsável pela construção do Hospital, lesando o Estado e os contribuintes, gostava de saber, qual vai ser a estrutura do Estado que vai chamar esta empresa a responsabilidade e exigir a correspondente indemnização que o Estado angolano tem direito?
Angola não pode ser um albergue para empresas sem capacidade técnica e sem competência demonstrada, para fazerem fortuna a custa de um Estado ineficiente e que não sabe gerir os seus recursos com critério e rigor.
Esta situação é um péssimo exemplo para todo o sector, porque vai criar um mau ambiente e um clima de muita desconfiança sobretudo nos projectos públicos, porque um decisor politico minimamente esclarecido deveria sempre questionar-se sobre a verdade dos orçamentos e projectos apresentados, e perguntar-se se os números não estarão sobreavaliados e a segunda questão que deveria colocar-se, é a inclusão de clausulas penalizadoras nos contratos quando existem situações tão flagrantes como o Hospital Geral de Luanda. Sem mencionar que todas as obras devem ter uma fiscalização rigorosa, algo básico, precisamente para evitar estas situações.
Vivemos numa época caracterizada pela escassez de liquidez, o mínimo que se exige a quem governa é que administre bem os parcos recursos a sua disposição, porque se o critério for esbanjar dinheiro e delapidar recursos públicos, penso que qualquer cidadão que passa pelo Roque Santeiro pode ir viver para a Cidade Alta e governar o país.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Angola em contra-ciclo mundial

Parece que o BNA se prepara para baixar a reserva obrigatória e possivelmente também a taxa de redesconto, o que vai implicar uma maior criação monetária via concessão do crédito. Por outro lado, se a taxa de redesconto baixar vai implicar uma redução das taxas de juro praticadas no mercado interbancário. Precisamente, o contrario, do que esta acontecer no resto do mundo, onde se prepara uma contracção da política monetária.
Curiosamente, quando a crise começou, as maiores economias mundiais adoptaram medidas expansionistas nas suas politicas monetárias e orçamentais, enquanto, Angola apostou por medidas opostas, a contracção das políticas monetárias e orçamentais.
Parece que Angola anda em contra-ciclo com o mundo, a questão, é que os problemas económicos angolanos são distintos das grandes economias mundiais e por essa razão também requerem políticas económicas distintas. No entanto, não deixa de ser incompreensível, perante, um cenário de contracção generalizada da actividade económica mundial, o país adopte politicas económicas cujo efeito final é reforçar a contracção económica, inclusivamente podem levar à recessão, e em alguns casos à estagnação.
Para terminar o artigo, gostava de referir que as reservas obrigatórias não têm por função salvaguardar os depósitos dos depositantes, as reservas obrigatórias são um instrumento que permite regular a criação da massa monetária, alem disso, é um indicador da quantidade mínima que os bancos devem ter na sua posse para as suas operações correntes, se num determinando momento, todos os depositantes se dirigissem aos bancos para levantar os seus depósitos os bancos simplesmente não teriam dinheiro disponível para entregar aos depositantes, esta corrida aos bancos pelos depositantes provocaria a falência do sistema bancário e financeiro.
Existe um instrumento de salvaguarda dos depósitos que se designa fundo de garantia bancária, um fundo formado pelos próprios bancos, no caso, de existir uma falência no sistema bancário possa ser utilizado para restituir parcialmente os depósitos aos depositantes, o reembolso do deposito é sempre parcial e nunca pela quantidade total depositada, se a quantidade depositada for superior ao limite máximo que abrange a garantia.

domingo, 27 de junho de 2010

Contradições Angolanas

Não posso deixar de comentar uma notícia que saiu no Angonoticias em que o economista, Alves da Rocha menciona que Angola pode converter-se na 5ª maior economia de África em 2014. A concretizar-se está notícia é fonte de enorme satisfação para o país e para todos os angolanos porque em teoria todos nós viveremos um pouco melhor.
Indiscutivelmente, Angola é detentora de inúmeros recursos, o potencial de negócios e fazer dinheiro é enorme, por isso, não é surpreendente o interesse dos empresários estrangeiros em investir em Angola. De facto, parece que temos um horizonte brilhante pela frente, ao ponto, de ficarmos a frente de Marrocos e da Líbia, se no futuro este cenário se verificar, Angola terá crescido imenso economicamente, mas pergunto, terá progredido?
Porque nestes países (Líbia e Marrocos), tanto em Tripoli como em Rabat, os seus Hospitais tem a capacidade de realizar transplantes, como por exemplo, do rim, e em Luanda existe algum Hospital que tenha a faculdade realizar transplantes de órgãos?
Se a simples interpretação de um ecocardiograma a 2 dimensões realizado num Hospital de Luanda têm que ser interpretado via telemedicina por um cardiologista que está nos Hospitais da Universidade de Coimbra, de que serve tanto crescimento económico se depois não existem melhores hospitais com melhores médicos e recursos técnicos?
É possível que a base do petróleo Angola um dia seja a 5ª maior economia africana mas não acredito que o país tenha evoluído nas questões principais e mais prioritárias para o desenvolvimento do país e dos anseios da sua população.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

As Multinacionais e os Mercados

Muitas vezes se questiona o porquê da presença de Multinacionais em países muito periféricos, com níveis de desenvolvimento muito baixos e com instituições de fraca qualidade, como poderia ser o caso de Angola, a resposta mais imediata é argumentar que estes países têm fortes perspectivas de crescimento económico, ou seja, o seu PIB vai crescer a ritmos elevados e rápidos.
No entanto, apesar dos elevados e rápidos ritmos de crescimento, observamos que estes países têm uma dificuldade em atrair fluxos de capital, podemos ainda observar que na estrutura dos fluxos de capital, o IDE tem um peso bastante importante. Seria de todo o interesse dos decisores económicos nacionais compreenderem porquê isso acontece e qual é o significado para os demais agentes económicos. É importante perceber se um peso excessivo do IDE no total dos fluxos de capital é um bom sinal económico?
A principal razão porque isto acontece deve-se ao facto dos mercados nesses países serem extremamente ineficientes e imperfeitos, convém lembrar que o IDE significa propriedade, portanto perante a constatação das ineficiências e imperfeições do mercado, que podem resultar da ausência de fornecedores fiáveis, fornecedores com poder de monopólio ou simplesmente mercados pouco desenvolvidos, as Multinacionais ponderam o custo entre realizar as operações internamente e o custo de confiar nos agentes económicos locais, normalmente, as Multinacionais nestes mercados pouco desenvolvidos preferem internalizar essas actividades e alargar a fronteira das suas actividades. As Multinacionais substituem-se ao próprio mercado sendo este um indicador claro da fragilidade e do subdesenvolvimento dos mercados em que estão a operar.

domingo, 20 de junho de 2010

Efeitos da Politica Monetária

A crise financeira internacional eclodiu em dois momentos, quando o barril de crude atingiu o seu máximo histórico e com a falência do Lehman Brothers. A subida galopante do preço do crude era uma boa noticia para a economia angolana, alias, muito da estratégia económica angolana passava por ser o maior exportador de crude do continente africano, portanto, a subida agressiva do preço do crude parecia ser um indicador de saúde económica para Angola, provavelmente, poucos pensaram que a crise pudesse desembarcar em Luanda.
O preço mostrou-se insustentável, Bancos de Investimento começaram a especular contra as posições de outros Bancos de Investimento, o preço do crude quebrou e caiu em flecha arrastando toda a economia mundial e por inerência o sistema financeiro.
Em Angola começavam a surgir as primeiras notícias de quebras fortes nas reservas internacionais líquidas, gerou-se o pânico e a apreensão, a fonte de receita tinha secado e o dólar parecia desvanecer.
O Governo decidiu então usar a política monetária para estabilizar a economia, aumentou a taxa de redesconto para 25% e aumentou as reservas obrigatórias para 30%, a consequência imediata, foi a contracção do crédito e a contracção da criação monetária.
O objectivo da medida seria estabilizar as reservas, com um kwanza mais forte, resultado da elevação das taxas de juros e da contracção dos agregados monetários, além disso, a medida impediria a escalada da inflação.
O efeito negativo destas medidas fez-se sentir na contracção da actividade económica, menos crédito, uma maior escassez de liquidez, houve um efeito de crowding out na economia angolana, ou seja, devido a escassez do crédito nem todos os bons projectos encontraram financiamento, portanto, financiar um bom projecto implicava sempre preterir outros bons projectos.
Não foi por acaso que assistimos no final do ano a entrada do FMI em Angola para equilibrar a balança de pagamentos, devido, as crescentes dificuldades de tesouraria do Estado angolano em honrar os seus compromissos.
A política monetária não se veio a revelar tão bem sucedida como se pretendia, mas foi possivelmente, um pré-requisito necessário para permitir um acordo com o FMI. Com o recuperar dos preços do crude parecem dissipar-se os efeitos da crise, o PIB angolano vai voltar a crescer aproximadamente 2 dígitos mas os problemas estruturais da economia angolana continuam a existir e não deixaram de ser os mesmos: uma economia pouco diversificada (o que implica um grande peso das importações) e petro-dependente.
The Little Fish

Parece que finalmente o caso BNA está esclarecido com a divulgação dos detidos, o que resulta surpreendente, é constatar que os prevaricadores na sua grande maioria são raia miúda.
Este episódio descredibiliza por completo o BNA e não tem mais impacto porque Angola não faz parte da agenda internacional. Num momento de crise internacional, onde os Estados são confrontados com os seus elevados deficits orçamentais, com os seus elevados níveis de divida pública e externa, em que os Bancos Centrais devem ser o fiel da balança da politica monetária, em Angola, temos o caso estranhíssimo em que tanto o recepcionista como o motorista andavam a desviar fundos daquele que devia ser o regulador e supervisor do sistema financeiro angolano. Com tamanha falta de controlo interno será possível confiar no BNA para cumprir as suas funções?
O que mais me espanta é pensar que todos estes delitos económicos foram feitos sem o conhecimento das hierarquias superiores do BNA, é surpreendente como um mero funcionário de base pode extorquir milhares sem que ninguém na estrutura dirigente do BNA note o desvio dos fundos.
Se um Banco Central não tem capacidade para controlar a sua própria moeda, como vai controlar os demais bancos que fazem parte do sistema financeiro? Será que alguém acredita hoje que o BNA está capacitado para gerir de forma correcta as reservas de divisas do país?

sábado, 29 de maio de 2010

O Esquadrão da Morte

Há uns anos atrás o Brasil era notícia no mundo pelos massacres protagonizados pelos seus Esquadrões da Morte que tinham o intuito de eliminar a pequena delinquência juvenil que assolava os comerciantes das grandes metrópoles brasileiras. Essa pequena delinquência juvenil eram na sua grande maioria meninos de rua, órfãos de pais e de futuro, eram o símbolo e o expoente máximo de uma sociedade corrupta e desigual. Eram apenas o sintoma de uma doença mais profunda e cancerosa que assolava a sociedade brasileira.
Hoje muitos desses meninos de rua, subiram as favelas, procuraram refugio, converteram-se em narcotraficantes, que travam verdadeiras guerras contras as forças policiais do Estado como se fossem autênticos paramilitares.
Em Angola a existência dos Esquadrões da Morte também são uma realidade que encobertos por uma farda policial fazem justiça pelas próprias mãos eliminando todos aqueles que segundo o seu critério são considerados indesejados, uma conduta imprópria de um Estado que se pretende ser civilizado e democrático.
São apenas o reflexo de uma doença maior, uma sociedade que não promove a igual de oportunidades entre os seus cidadãos, uma sociedade desigual onde não existe uma distribuição equitativa da riqueza, uma sociedade corrupta que promove a miséria do seu semelhante.
Os Esquadrões da Morte não irão resolver nenhum problema em Angola apenas irão promover o reforço e a concentração da pequena delinquência porque sentirão a necessidade de organizar-se em núcleos mais duros e violentos para ripostar com violência a violência policial. Enquanto a roleta rola, o acaso e a arbitrariedade, ceifarão a vida de mais inocentes, que apenas lutam por ter uma vida digna e honrada. Violência apenas gera mais violência, é isso que queremos para o futuro de Angola?
Uma Nova Política

Parece que a UNITA vive um momento de indefinição em relação ao seu futuro, que resulta da sua incapacidade para perceber a insatisfação do povo angolano e encontrar um discurso político adequado. As últimas eleições demonstraram que a UNITA perdeu grande parte do seu eleitorado, ou pior do que isso, a base social da UNITA não era tão grande como se suponha ser, sendo um partido sobreavaliado no seu apoio popular.
Pode resultar um paradoxo tentar perceber como num país com tão flagrantes desigualdades sociais, o partido do governo tenha uma maioria democrática tão esmagadora, que apenas, se explica porque existe na população a percepção de que a UNITA não é uma alternativa credível.
Tal como acontece nas empresas, quando termina o ciclo de vida dos seus produtos, a empresa reinventa-se e lança novos produtos, ou então, fecha as portas e dá lugar a outras empresas.
Penso que será este o dilema que ocupa os pensamentos de Abel Chivukuvuku, refundar politicamente a UNITA ou procurar um espaço político próprio. Reposicionar a UNITA dependerá muito das forças internas, se existir uma grande resistência para a mudança, impedindo o surgimento de um projecto político ganhador e com perspectivas de crescimento político, haverá um estímulo para Abel Chivukuvuku procurar um novo projecto político.
Quando o estigma do passado é muito grande e muito presente na memória colectiva, é preferível iniciar um projecto do zero, sem sombras e sem pesos, no entanto, este caminho é o mais difícil porque depende dos apoios que conseguir reunir para encerrar a porta do passado e defrontar a maquina trituradora do MPLA na política angolana.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Baptismo do Rating

O país acabou por submeter-se ao escrutínio das agências de rating e ficou a conhecer a sua notação, um B+ que coloca Angola ao nível da Nigéria, tendo em conta o contexto africano. Um B+ não é propriamente uma boa classificação, é uma indicação de non investment grade, normalmente, designa as Junk Bonds. Creio que não seria expectável um rating melhor para Angola, principalmente, tendo em conta o horizonte sombrio da economia mundial e por se tratar de uma primeira notação.
O facto, de Angola ter um rating não significa por si só que o país tenha um acesso facilitado aos mercados financeiros internacionais, somente, que os investidores passam a ter uma referência para os prémios de risco que passam a exigir pelo seu capital. Algo, que pode não ser necessariamente bom, principalmente, para quem tem um mau rating porque a um maior risco corresponde sempre uma maior remuneração. Será interessante saber se Angola conseguirá colocar a sua divida nos mercados e a que preços.
A necessidade do rating resulta da ausência de poupança interna, ou seja, incapacidade de se endividar a longo prazo no mercado doméstico, portanto, ter necessidade de endividar-se no mercado externo, nomeadamente, em dólares. O que provoca um desajustamento da moeda e expõem o país ao risco de câmbio, principalmente, se ocorrer uma valorização do dólar que normalmente é sempre acompanhada pela desvalorização do crude.
É precisamente esta variável do crude que representa 95% das exportações angolanas e 50% do PIB angolano que conferem uma grande volatilidade a economia do país e um carácter especulativo a sua divida.
O rating é uma avaliação continua, portanto, pode ser revisto quando a conjuntura ou as condições estruturais se alteram, o que implica um maior rigor na Governação para evitar eventuais punições que uma revisão em baixa implicam, nomeadamente, aumento do custo da divida e o estrangulamento do financiamento. Não será de todo compatível situações do género, o Estado não honrar os seus pagamentos e não efectua-los dentro dos prazos estipulados, como não será compatível situações absurdas de corrupção no Banco Central que é suposto ser o supervisor e regulador do sistema financeiro, como não será compatível politicas económicas que ponham em causa o crescimento económico de uma forma sustentada ou o excessivo recurso a divida.
Creio que a maior virtude do rating será obrigar a uma governação mais rigorosa, já que a economia nacional vai encontrar-se mais monitorizada a nível internacional, sob pena, do país ser exposto as suas misérias e ser fortemente penalizado na percepção e na formulação das expectativas dos investidores sobre a nossa economia.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

As Divisas Também Voam

Hoje no Angonoticias saiu uma notícia interessante e que não constitui surpresa nenhuma para quem habita por estas latitudes. A notícia fazia menção, as divisas que são confiscadas aos passageiros no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, não constitui novidade nenhuma que existem imensos, senão mesmo a totalidade dos passageiros, que na maioria são expatriados, transportam divisas além dos limites legais permitidos, entenda-se, transportam dólares porque kwanzas não interessam a ninguém.
Quando existem entraves ao envio de remessas para o exterior, nomeadamente, o estabelecimento de limites máximos de envio, e além disso, o expatriado não tem ao seu alcance meios para enviar as suas remessas e não pretende permanecer com elas em território angolano, a forma mais simples de fintar as limitações legais é muitas vezes levar os seus dólares colados ao corpo.
Basta supor a seguinte situação empírica, se 250.000 expatriados adoptarem esta prática e cada um fizer 4 viagens de ida e volta ao seu país por ano, e em cada viagem transportar 20.000 dólares, saem do país sem controlo 20.000.000.000 dólares.
Isto ao nível do cidadão particular, agora podemos imaginar, a magnitude que este tipo de situações pode ter ao nível das multinacionais?
Por exemplo, basta pensar numa multinacional portuguesa com presença global em vários mercados, essa multinacional prepara-se para investir num projecto na Líbia, o projecto esta denominado em dólares e a empresa terá necessidade de financiar parte do projecto, portanto, terá que analisar diferentes fontes de financiamento, tendo em conta o diferencial entre taxas de cambio e das taxas de juro, poderá ser vantajoso para a empresa endividar-se em dólares em Angola para financiar o seu projecto na Líbia, ao mesmo tempo, entra no mercado de derivados em Portugal para contratar um instrumento derivado para fixar a taxa de cambio a seu favor eliminando o risco da operação, sem ninguém dar por isso, a empresa pode estar a contrair financiamento barato em Angola, sempre que os diferenciais de taxas de cambio e de juro o justificarem, para financiar projectos em outras partes do globo onde o financiamento é mais caro, e utilizando um simples produto derivado, devolve novamente moeda barata ao pais de origem do financiamento.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Existe Honestidade em Angola?

Creio que não há um dia em que não seja noticiado na imprensa nacional um caso de corrupção, o mais caricato é que depois quase nunca existem consequências. A única ilação que retiro, é que é uma coisa normal. Como se a corrupção além de estar institucionalizada também fosse genética e logo hereditária. Mas é mesmo assim? Será que não existe um único angolano honesto neste mundo?
Existir possivelmente até existem mas não são noticia e portanto não servem de exemplo para ninguém, pergunto-me, se essa omissão é voluntaria ou imposta?
Parafraseando Martin Luther King Jr, não me assusta a perversidade e a crueldade das pessoas más, mas sim o silêncio das pessoas boas, a questão é saber, se Martin Luther King diria o mesmo se fosse angolano porque possivelmente em Angola existem mais pessoas perversas do que de índole boa.
Em Angola impera a lei da sobrevivência para a generalidade da população, quando se tem fome e não se têm os meios, tudo acaba por ser permitido, só quem nunca foi confrontado pela dificuldade não poderá entender a lei do mais forte.
Para a plebe é uma questão de sobrevivência e para a aristocracia? Creio que é uma questão de ganância e soberba, uma forma de garantir os privilégios já adquiridos e manter o Status Quo. Convém sempre separar as águas, manter os pobres ainda mais pobres e os ricos ainda mais ricos. A honestidade não é compatível para quem em absoluto nada tem e para quem tudo quer.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

The Angolan Original Sin

Para economias do perfil da angolana pode revelar-se de grande utilidade o estudo e o acompanhamento de algumas economias da América latina, principalmente, porque essas economias já fizeram o mesmo percurso que Angola se encontra agora a iniciar, seria de toda a conveniência evitar os mesmos erros clássicos que algumas dessas economias cometeram durante o seu percurso.
Um dos pecados que alguns países da América latina cometeram, em particular, o México, denomina-se, The Original Sin. Este fenómeno esta usualmente presente em mercados ineficientes, como poderia ser o mercado angolano, para compreender este conceito, temos que assumir que uma empresa presente num mercado eficiente pode endividar-se tanto a curto prazo como a longo prazo, assim como em qualquer moeda, com o objectivo de obter um ajustamento entre a maturidade dos seus activos e passivos e da moeda com a moeda dos seus cash-flows.
Se a empresa não encontrar os instrumentos financeiros que lhe permitam fazer este ajustamento, terá como consequência um Balanço mais arriscado, principalmente, se a empresa não conseguir obter financiamento de longo prazo para fazer o matching com os seus activos, a empresa terá que necessariamente endividar-se a curto prazo, ficando exposta ao risco de taxa de juro.
Da mesma forma se a empresa não for capaz de endividar-se na moeda em que os seus cash-flows estão denominados, ela terá que endividar-se em outra moeda, existindo um desajustamento na moeda, ficando exposta ao risco cambial e com um Balanço com níveis de risco mais elevados, ou então, será obrigada a aumentar o seu capital próprio para não ficar exposta ao risco.
Esta lógica que foi apresentada ao nível das empresas, também pode ser aplicada ao nível soberano, ou seja, ao nível dos Governos. Em muitos países da América latina assistimos nestas ultimas décadas, uma grande dificuldade de colocar divida denominada na sua própria moeda nos mercados internacionais, além, da dificuldade de se endividar a longo prazo no seu próprio mercado domestico, colocando os Governos perante um dilema, endividar-se a curto prazo no mercado domestico, gerando um desajustamento das maturidades, ou endividar-se a longo prazo em dólares gerando um desajustamento da moeda. A este dilema chama-se The Original Sin, que pode ter efeitos perversos se existir um aumento ao nível das taxas de juro ou então uma valorização da moeda em que está denominada a divida.
Este fenómeno tem importância porque precisamente há algumas décadas atrás foi responsável pelo default do México na sua divida soberana denominada em dólares devido a excessiva valorização do dólar que se verificou na época e que fez impossível que o Governo mexicano pudesse cumprir o seu serviço da divida e fosse obrigado a declarar insolvência.
Seria interessante que os responsáveis governamentais angolanos tivessem presentes estas lições que a história económica nos brinda enquanto iniciam a sua aventura pelos mercados financeiros internacionais.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sonae: O Gigante Luso em Angola?

O Grupo Sonae é uma das grandes referências empresariais de Portugal, que curiosamente, ao contrário de outros grandes grupos económicos portugueses optou por nunca ter uma presença em Angola, apesar dos rumores que circulam e indicam uma possível intenção da Sonae entrar em Angola.
A possível internacionalização da Sonae para o mercado angolano, apenas suscita duas questões, porque razão ainda não aconteceu? E será ela boa para Angola?
A Sonae é possivelmente a empresa portuguesa com o melhor modelo de gestão, caracterizando-se por elevados padrões de profissionalismo, competência e ambição. A Sonae é um player de grande dimensão, não é um mero price taker, tem uma dimensão global e por essa razão faz parte da elite empresarial. No entanto podemos considerar a gestão da Sonae conservadora apenas esta presente em mercados onde além das expectativas de um forte crescimento existe também previsibilidade nos resultados futuros.
Talvez este factor explique a ausência da Sonae do mercado angolano, a grande imprevisibilidade dos resultados futuros, ou seja, o elevado grau de incerteza faz com que Angola tenha níveis de risco proibitivos e que impeçam a sua presença no nosso mercado. Por isso, não surpreende a abordagem tradicional da Sonae ao nosso mercado, que passa necessariamente por encontrar um parceiro com peso institucional.
A necessidade de um colateral institucional que tenha por função servir de garantia e eliminar o risco, apenas, se compreendem pelas ineficiências do mercado angolano e pelo elevado investimento que a empresa estará disposta a realizar se decidir avançar para Angola.
Em relação a segunda pergunta, creio que será sempre positiva, principalmente, se a empresa tiver com estratégia trabalhar com fornecedores nacionais. É certo que sendo um grupo de grande dimensão tem um maior poder de fixação dos preços, o que pode ser uma desvantagem para os produtores nacionais, além disso, o elevado padrão de qualidade, know-how e de exigência da Sonae vai obrigar os produtores nacionais e as outras empresas do sector a modernizar-se e a serem mais competitivas, cujo, efeito no tecido produtivo nacional será bastante positivo. Sem mencionar os novos postos de trabalho que vão ser criados, directa e indirectamente, além, da importância que para muitas empresas instaladas ou que possam vir a surgir, representa ter uma empresa da dimensão da Sonae como sua cliente.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Distribuição da Riqueza

Estava lendo o Angonoticias e deparei-me com duas notícias que despertaram a minha curiosidade, a primeira fazia referência ao relatório da Human Rights Watch (HRW) que denunciava o facto de apesar de Angola ter conhecido um grande crescimento do seu PIB nestes últimos anos, esse crescimento económico não se traduziu num aumento do bem estar e do nível de vida da generalidade das pessoas. O relatório ainda faz referência ao facto de Angola ter melhorado alguns aspectos da sua governabilidade, nomeadamente, uma maior transparência na divulgação da sua informação económica. No entanto, o relatório denunciava a falta de desenvolvimento dos índices humanos e os elevados índices de corrupção que ainda se verificam, nomeadamente, na contabilização das receitas petrolíferas.
A outra noticia que despertou a minha atenção foi aquela que fez menção a lista Forbes que não incluía nenhum angolano bilionário na sua lista, com perplexidade, questionei-me, dá para acreditar?
A verdade como já foi referido num post anterior, em Angola quem é rico é mesmo rico, e quem é pobre é mesmo pobre, e não há termo intermédio, apesar, de todos quererem ser ricos nesta terra, custe o que custar.
Mas sendo Angola um país potencialmente rico porque razão os seus cidadãos são tão pobres? Como se pode reduzir estas assimetrias e promover uma distribuição da riqueza mas equitativa?
O primeiro passo teria que ser necessariamente o combate à corrupção para acabar com as injustiças sociais, mas em todo o caso seria suficiente?
Talvez o mais lógico seria utilizar a via fiscal e tributar aqueles que têm maiores rendimentos e um maior património, o Governo teria que formar uma máquina fiscal de verdade. Além disso, o Governo teria que constituir um Estado Social cuja função seria subvencionar os mais desfavorecidos e proporcionando-lhes um nível de rendimento que fosse suficientemente digno e que lhes permitisse sair da miséria, num curto prazo, a medida poderia ser positiva porque aumentaria o nível de rendimento disponível da população e aumentaria e alteraria os seus hábitos e padrões de consumo. Mas para o futuro seria bom ter uma comunidade subsídio dependente, ociosa e sem competências para serem auto-suficientes no dia em que o ouro negro acabar?
A outra via para terminar com esta injustiça social seria proporcionar igualdades de oportunidades aos angolanos, que passaria por uma melhoria do sistema de educação, uma melhor formação, uma mais cuidada e atenta inserção no mercado de trabalho e incentivar o empreendedorismo local através de instrumentos financeiros específicos. É necessário que o Governo não tenha medo de formar cidadãos angolanos íntegros e com valores, somente, assim teremos uma sociedade melhor, com instituições mais transparentes, fomentado o respeito, a honestidade e o sentido do dever.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Perfis de Investimento em Angola

Quem chega a Angola depara-se com uma capital (Luanda) vibrante e plena de vigor, nomeadamente, ao nível da construção. É impressionante observar o skyline de Luanda repleto de novas torres, o termo mais correcto, seria arranha-céus. Angola, através da sua capital respira actividade, é vida.
Creio que basta circular uma tarde pelas ruas de Luanda para termos uma percepção dos perfis de investimento que podemos encontrar em Angola, apesar, de ser uma observação empírica sem suporte em dados concretos, mas creio que traduzem de certa forma a realidade angolana.
Encontramos um perfil de investimento muito associado ao Estado, nomeadamente, na construção de infra-estruturas que tem por objectivo a reconstrução do país, este tipo de investimento é financiado na totalidade pelo Estado com base nas suas receitas petrolíferas, neste tipo de investimento encontramos grandes construtoras com presença internacional e que em grande medida dependem do beneplácito das autoridades angolanas na adjudicação das mesmas obras. Podemos dizer que para entrar neste sector, além de competência técnica é necessário um bom magistério de influências, será sensato, dominar a arte da diplomacia. Convém, dizer que este sector tem um efeito de arrastamento em outros negócios.
A um nível privado, podemos encontrar um particular interesse em desenvolver projectos imobiliários, é sabido que em Angola, existe uma desproporcional e injusta distribuição da riqueza, isto significa quem é rico em Angola, é mesmo rico, nesse sentido, os projectos imobiliários podem incorporar grandes rentabilidades porque a elite angolana tem de facto um grande poder aquisitivo, logo, ser um sector particularmente interessante para investir.
Por fim podemos encontrar um outro sector de investimento, como já foi referido, existe uma grande injustiça na distribuição da riqueza, isto implica que o rendimento per/capita da maioria dos angolanos seja baixo, portanto, grande parte do seu rendimento disponível é dedicado ao consumo, existe pouca formação de poupança, logo, existe uma grande propensão para o consumo, nomeadamente, de bens de primeira necessidade por essa razão os bens de consumo rápido, nomeadamente, a nível alimentar são tão atractivos em Angola.

sábado, 10 de abril de 2010

O Rating dos Pecados Angolanos

Este post chega ao blog com um certo atraso, foi sensivelmente, na última semana de Março que saiu uma notícia no Diário Económico (Portugal) que fazia referência ao facto do governo angolano ter contactado uma agência de rating para obter uma notação para o seu risco soberano no âmbito de uma operação financeira que visa colocar 4 mil milhões de dólares nos mercados financeiros internacionais.
É um momento muito pouco favorável para submeter-se ao escrutínio das agências de rating e ainda menos tentar colocar divida soberana nos mercados internacionais. Principalmente, quando começa a ser do conhecimento público que vários países, nomeadamente, da zona euro, manipularam as suas contas públicas com produtos derivados para cumprir critérios orçamentais e de divida pública, o que transmite um sinal de batota, pouca transparência e credibilidade, não parece ser sensato que países conotados internacionalmente com elevados índices de corrupção se submetam a prova do rating.
Nota-se um maior grau de exigência e de intolerância por parte das agências de rating que sistematicamente têm revisto as suas notações em baixa, por exemplo a Grécia, viu o seu rating segundo a Fitch situar-se no BBB-, ou seja, praticamente ao nível das junk bonds (alto risco). Se um país integrado num espaço económico como a UE tem este tipo de notações, o que podemos esperar de Angola?
Parece-me que o rating angolano será sempre bastante penalizador para a sua economia via sua divida, não será expectável um bom rating, bem pelo contrario, um mau rating terá como consequência onerar a divida angolana porque os investidores vão exigir spreads mais elevados perante notações baixas, uma vez que estas reflectem um elevado grau de risco. A questão é que perante spreads excessivamente elevados existe um elevado risco de default, perante, este cenário será expectável que a emissão angolana tenha pouca procura.
Alias, os sistemáticos casos de corrupção que chegam inclusivamente até ao Banco Nacional de Angola, mais os exemplos de má gestão e de delapidação dos recursos públicos, que contribuem para reforçar a imagem de má governação em nada ajudam o país, principalmente, quando se pretende ter um espaço próprio nos mercados financeiros internacionais com o objectivo de financiar o crescimento económico de Angola. O rating angolano vai ser o espelho dos seus pecados e das suas fragilidades.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Remake da Sonangol no BCP

O BCP prepara-se para na próxima assembleia-geral votar uma alteração dos estatutos que visa permitir alargar os direitos de voto de 10% para 20%. Esta alteração a concretizar-se é de suma importância para a Sonangol, porque vai permitir o reforço da empresa na estrutura accionista do BCP:
Tendo em conta a situação actual do BCP parece-nos que promover a concentração accionista no banco, é do interesse da Sonangol, pois será a única forma de reabilitar a imagem do banco e implementar uma nova estratégia e um novo modelo de gestão que permita a criação de valor.
O BCP tem sido um exemplo nos últimos anos de auto-destruição, sensivelmente, há 4 anos a cotação do banco quase alcançava os 4 Eur, hoje, a sua cotação não atinge nem sequer o valor de 1 Eur, para termos, uma melhor percepção do tombo, podemos comparar a cotação do BCP com os dois principais bancos espanhóis, Santander e o BBVA, ambos cotam na casa dos 10 Eur.
No BCP ainda temos que considerar uma administração extremamente politizada e fecunda em escândalos, onde um Vice-presidente do banco esta envolvido no escândalo Face Oculta, situações que em nada abonam para o prestigio e credibilidade do banco, talvez, por isso o banco não levanta cabeça em bolsa. Voltando a Espanha, podemos analisar o que aconteceu ao Banesto quando o seu Presidente Mário Conde foi protagonista de vários escândalos, quase faliu o Banesto, que acabou por ser comprado pelo Santander.
Seria fundamental promover uma mudança profunda no BCP, algo que apenas pode ser feito pela Sonangol porque não peca dos mesmos vícios que os demais accionistas, cujos, pecados capitais são além de serem accionistas endividados são clientes do próprio banco, portanto, não têm interesse em promover mudanças na gestão do banco, principalmente, uma gestão mais agressiva e menos condescendente com os seus níveis de morosidade.
O estado actual do BCP converte a participação da Sonangol no banco num péssimo negócio, porque o dinheiro investido da Sonangol no BCP apenas serve para alimentar vícios privados de outros accionistas e de uma gestão incapaz.
Portanto, a estratégia da Sonangol terá que passar necessariamente pelo reforço da sua posição e promover a concentração accionista, onde apenas os mais fortes podem ter presença, sem um núcleo accionista forte o banco vai continuar com uma gestão ineficiente. O segundo passo seria promover uma mudança de gestão, com uma administração mais capaz, com o objectivo de restituir a credibilidade do banco e reforçar a sua competência. Enquanto isto não for feito o BCP vai continuar a ser um barco a deriva e na eminência de afundar, porque não vai poder emitir eternamente divida para cumprir os rácios de actividade, principalmente, se os piores cenários na Grécia se confirmarem.

sábado, 20 de março de 2010

As Ineficiências Angolanas

É um pouco senso comum afirmar que a economia angolana é muito afectada pela corrupção, diria mesmo, é uma evidência que resulta de Instituições pouco transparentes e muito fragilizadas, sem independência. Em Angola podemos observar elevados índices de burocracia e poucas garantias no cumprimento de contratos privados, ou seja, uma justiça ineficiente. Mas quais são as consequências que resultam destas ineficiências?
A primeira consequência é o incremento da percepção do risco, ou seja, o aumento do risco país, que por sua vez tem consequências nefastas para a economia local. O aumento do risco implica um aumento da remuneração exigida pelos investidores, ou seja, aumenta os custos de financiamento da economia. Sabemos que os fluxos de capital estrangeiro são atraídos por perspectivas de elevados crescimentos económicos ou então por mercados de baixo risco, quando o risco é muito elevado a captação de financiamento é mais difícil e além disso a divida soberana é mais cara, quando a capacidade de endividamento fica comprometida as perspectivas de crescimento económico são drasticamente reduzidas. Temos a evidência recente do que aconteceu em Angola, um 2009 com uma performance paupérrima e com uma necessidade explícita de obter a intervenção financeira do FMI para equilibrar a balança de pagamentos.
Mas existem ainda outras consequências negativas a nível económico, nomeadamente, a nível da avaliação dos activos, se os agentes nacionais não têm acesso a financiamento, as perspectivas de crescimento dos seus negócios são mais reduzidas, ou ficam comprometidas. Como sabemos, o valor de um activo é valor dos seus cash-flows futuros actualizados para o momento presente, portanto, se as perspectivas de crescimento são menores e além disso as taxas de desconto maiores, os seus activos no presente necessariamente valem menos, ou seja, estão subavaliados.
Estarão subavaliados para um investidor estrangeiro que não têm restrições ao nível da sua capacidade de endividamento ou ao nível da sua liquidez, portanto, perante o mesmo activo é capaz de perspectivar uma maior taxa de crescimento e uma menor taxa de desconto, logo, retirar um maior valor económico do activo em questão. Portanto, considerar aliciante a aquisição do dito activo. Este tipo ineficiências explicam em parte porque razão em certos países o investimento directo estrangeiro assume a maior parte da proporção do total dos fluxos de capital.

sábado, 13 de março de 2010

A Monarquia do M

Apesar de não ser jurista e não entender muito de leis, parece-me que a nova constituição alterou significativamente a organização do Estado, uma mudança que não foi suficientemente debatida pela sociedade civil, apesar, de existirem na blogosfera reflexões bastante interessantes e elucidativas sobre este assunto.
É notório que da nova constituição resulta um reforço da figura do Presidente no organigrama do Estado, produto de uma maior concentração de poderes e da eliminação de figuras intermédias na hierarquia do Estado. A consequência mais imediata é converter uma eleição unipessoal numa eleição partidária, retirando do espectro político a possibilidade de candidaturas individuais com carácter suprapartidário, uma forma hábil de eliminar adversários políticos da mesma área politica.
Não creio que a nova constituição favoreça o MPLA em si, mas sim as suas oligarquias internas que saem reforçadas, convém, questionar se em Angola, apesar, de existir democracia, os partidos que representam a democracia podem ser considerados democráticos?
Como já escrevi neste blog, cada vez estou mais convencido que o MPLA vai acabar por fragmentar-se, principalmente, se alguns partidários que aspiram a fazer parte da elite não encontrarem o seu próprio espaço para protagonizar os seus projectos de poder, parece-me, que esta nova constituição pode ser um estimulo para emancipar futuros dissidentes do MPLA que não se revêem nas oligarquias instituídas.
Pode ser um processo interessante e enriquecedor para a sociedade angolana se alguns dos seus mais proeminentes intelectuais se cansarem do totalitarismo partidário e ganharem coragem para vencer o ostracismo a que são legados e fundarem projectos políticos alternativos ao poder.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Uma Questão de Saúde

Em Fevereiro estive em Luanda durante a minha estadia senti-me mal, tive uma indisposição que não sei se contrai em Lisboa ou já em Luanda. Se tivesse permanecido em solo luso diria que estava carregadinho com gripe mas como estava em Luanda, pelo sim e pelo não, dirigi-me a uma clínica para avaliarem o meu estado clínico. Nem sequer considerei a hipótese de me dirigir a um Hospital Público, principalmente, pelas poucas condições de diagnóstico, pelos parcos recursos humanos e pelas péssimas infra-estruturas, já nem menciono, as más praticas médicas. Todos conhecemos histórias bizarras que acontecem nos Hospitais Públicos angolanos, sinceramente, num retrato kafkiano é sempre preferível morrer da doença do que do tratamento, principalmente, se for preconizado pelas mãos de um inepto.
No entanto, as clínicas privadas também não representam um grande salto de qualidade, os cuidados médicos são básicos, os actos médicos mais complexos não são prestados por falta de recursos humanos e tecnológicos, ou seja, o nível dos serviços prestados são baixos e ainda por cima são excessivamente caros.
Da minha experiência com clínicas de Luanda sempre fiquei com a impressão que mais parecem públicas do que privadas porque tudo funciona devagar, devagarinho, menos na hora de cobrar pelos serviços prestados. Lembro-me como fiquei escandalizado quando um amigo meu comentou que há alguns anos atrás teve a sua filha internada numa clínica em Luanda durante uma semana e pagou a quantia de 5.000 dólares.
Questiono-me quantas pessoas em Luanda têm direito a um acesso digno à saúde? Algo que deveria ser um direito de todos os cidadãos. Alguém sabe a quantidade de pessoas que morre sem nunca ter tido direito a um médico? Não entendo como se permite tanta especulação na área da saúde, com serviços públicos miseráveis com padrões de qualidade próprios da veterinária, e no outro extremo temos serviços privados com padrões de qualidade duvidosa dignos de um hospital de província da Grécia e pagos ao preço das melhores clínicas do mundo. E você leitor, o que acha disso? Conta a tua experiência.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Campanha Reviver Luanda

Recentemente uma amizade do Facebook (Tchiyna Matos) fez-me referência a um projecto chamado Campanha Reviver que nasceu de uma união de esforços entre a associação Kalu e a Universidade Lusíada (Arquitectura), que tem por objectivo a recuperação e a preservação do património cultural e histórico da cidade de Luanda.
Pareceu-me uma ideia interessante, ainda mais, depois de ler a entrevista da Arquitecta Ângela Mingas ao jornal O Pais, não é frequente encontrar nestas latitudes pessoas com este tipo de preocupações e dispostas a dar o rosto por uma causa tão meritória.
Creio que o património de um povo é a impressão digital da sua identidade que aglomera o seu passado numa perspectiva de futuro com a faculdade de definir o seu presente, um povo sem património é um povo sem historia, sem nada para contar, sem nada para mostrar, é um povo que vagueia.
Uma identidade cultural e histórica, são valores essenciais, inclusivamente, para a actividade económica, nomeadamente, em actividades como o turismo que têm sempre uma componente cultural, histórica e religiosa, além, do lazer e do ócio. A recuperação do nosso legado cultural e histórico é um dos maiores activos intangíveis que um País pode desenvolver, ou seja, é a sua marca.
Ainda temos que considerar a fonte de trabalho que pode representar para as pequenas e médias empresas na área da construção civil, desde da arquitectura, a engenharia, a reconstrução e a remodelação de edifícios, um sector nada desprezível na geração de valor económico e de criação de emprego. Seria importante que as entidades estatais abraçassem estas causas e estimulassem o seu desenvolvimento porque elas no fundo são fontes de geração de riqueza algo que é do interesse de todos enquanto sociedade e povo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Real Estate Funds & Angola

Possivelmente, na indústria dos fundos de investimento, os mais atractivos e aliciantes, já foram os fundos imobiliários, refiro-me a eles no passado devido a crise do subprime que consumiu grande parte da sua rentabilidade.
Angola nestes últimos anos conheceu um espectacular crescimento no sector imobiliário impulsionado por diversos projectos, desde da construção de hotéis, edifícios, condomínios privados, centros comerciais e estádios de futebol.
Um fundo de investimento imobiliário é um veículo de investimento que permite o desenvolvimento de projectos e empreendimentos imobiliários. Podem ter uma natureza aberta ou fechada dependendo se as unidades de participação podem ou não ser subscritas pelo público em geral. É um instrumento que permite, quando, é aberto ser uma alternativa de poupança para os agentes económicos e com rentabilidades interessantes quando o sector imobiliário não se encontra deprimido.
A existência deste tipo de fundos na economia é sempre um sinal de modernização e sofisticação financeira, e um sinal, de atracção para os investidores externos, nomeadamente, os institucionais. Em Angola a ausência de mercados financeiros e uma legislação inadequada destes instrumentos tem lhes retirado o interesse e protagonismo que deviam ter numa economia que baseia parte do seu desenvolvimento económico na reconstrução e na criação de novas infra-estruturas.
Dentro da área do investimento é possivelmente o instrumento mais interessante para se trabalhar porque são projectos que implicam o contacto com profissionais de diversas áreas, possibilitando o enriquecimento profissional, além disso, são projectos que têm sempre uma tradução real na economia, nomeadamente, quando eles implicam a construção e desenvolvimento de novos empreendimentos de raiz.
A política de investimento destes instrumentos costumam ter basicamente duas dimensões, uma lógica de rentabilidade rápida, que consiste na construção de um empreendimento, procurar a sua valorização e promover a sua mais-valia através da venda. Ou então, uma lógica mais de longo prazo que passa pela exploração do empreendimento ou através do seu arrendamento. Nos fundos de grande dimensão normalmente estão presentes estas duas dimensões, fruto, da sua politica de diversificação.
Estou convencido que Angola ainda é um mar muito inexplorado nesta industria, apesar, do dinamismo e da vitalidade que se respira nos sectores imobiliários, fazia todo o sentido democratizar o acesso a estes fundos porque têm uma função e uma capacidade de transformação da economia bastante assinaláveis.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Angola Entrepreneur Fund

Este mês o blog tem reflectido sobre os fundos, numa perspectiva de empreendedorismo, que muitas vezes faz falta na sociedade civil. Em Angola, mais concretamente, em Luanda, além das dificuldades de obtenção de fundos para quem inicia um negócio, também existe uma outra dificuldade acrescida, encontrar instalações adequadas para desenvolver uma ideia ou um projecto empresarial.
Apesar, de não ser consensual, defendo que em países com o perfil de Angola, o Estado deve ter um papel interveniente na economia, uma vez que o sector privado ainda é frágil e muitas vezes não tem os meios ou não esta capacitado para fazer. Defendo que o Estado deve ter um papel empresarial na economia e definidor das linhas de orientação, porque se nas ditas economias desenvolvidas está mais que provado que as forças de mercado não funcionam, pergunto, como irão funcionar em mercados imaturos e carecidos de know-how?
Creio que o Estado deve ter um papel activo no fomento de novas ideias de negócio e apoiar o seu desenvolvimento, perguntarão, como?
O primeiro passo poderia passar pela criação de uma incubadora de negócios, um espaço que albergasse projectos empresariais recém-criados, nomeadamente, projectos de valor acrescentado, relacionados, com a inovação tecnológica e com a pesquisa e desenvolvimento, em intima relação com as universidades locais. Este pequeno passo poderia representar um salto importante no paradigma económico angolano, porque poderia permitir recém-licenciados desenvolverem projectos empresariais de raiz, como poderia permitir o regresso de quadros angolanos altamente qualificados ao país para prosseguirem os seus projectos de investigação numa perspectiva empresarial.
O papel estruturador pertenceria a um Entrepreneur Fund, a ser criado pelo Estado, que teria como função avaliar cada projecto relativamente ao potencial, interesse e viabilidade económica, realizar a selecção dos projectos, bem como, prestar acessória e monitorizar cada projecto, definindo as necessidades e o funding de cada um deles.