segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Má Gestão das Empresas Públicas

Numa manhã do mês de Dezembro, a cidade de Almada foi surpreendida por uma chuva de peças de motor oriundas de um avião da TAAG que sobrevoava os céus portugueses, por sinal, o avião pertencia a mais recente frota comprada pela Transportadora Aérea à Boeing, portanto, tratavam-se de aviões novos.
A aquisição da frota implicou um avultado investimento público e coincidiu precisamente com o anúncio da inclusão da TAAG na lista negra da União Europeia, que impede as Transportadoras Aéreas de sobrevoar o espaço aéreo europeu.
Foi um duro golpe para a TAAG porque impossibilitava a empresa de rentabilizar a sua frota recém comprada, pois estava impedida de voar para os seus principais mercados, sem mencionar, o duro golpe na imagem e na credibilidade da empresa.
Sinceramente, não sei dizer, se depois do ostracismo europeu, a frota foi utilizada para fazer outras linhas aéreas ou se os aviões, simplesmente, ficaram parados em Luanda a apanhar sol, mas em qualquer dos casos, mesmo parados em Luanda e sem voar não é razão para poupar na manutenção dos aviões.
Mesmo contra todas as expectativas, conseguiu-se um regime de excepção para à TAAG, que permitiu o regresso dos aviões da Transportadora Aérea aos aeroportos portugueses, mas ficando interdita ao remanescente espaço aéreo europeu. Esta excepção, foi de suma importância porque permitiu retomar a capacidade operacional da empresa, gerar cash-flows e rentabilizar o investimento efectuado.
Mas todas as excepções implicam uma responsabilidade redobrada, neste caso, em concreto, era um autêntico teste a competência e a capacidade da empresa, num cenário, onde a margem de erro era tremendamente reduzida porque todos os focos de atenção estavam apontados para a empresa.
Com o incidente de Almada fica plenamente justificada a decisão da Comissão Europeia em interditar a TAAG do espaço europeu porque a empresa não reúne condições de segurança para voar. Portanto, não é crível que num futuro imediato ou mesmo longínquo a TAAG abandone a lista negra, porque os responsáveis europeus têm bom senso e noção da prudência, ninguém está na disposição de assistir a um desastre aéreo protagonizado pela TAAG em solo europeu, com excepção, de Portugal.
A situação da TAAG ilustra como as empresas públicas são mal geridas, planeiam mal os seus investimentos, não têm em conta todos os cenários possíveis, não se acautelam com cláusulas contratuais perante situações imprevistas, portanto, têm pouca capacidade de negociação e um grande desconhecimento contratual. A gestão das empresas públicas não é empresarial, não se traduz por planeamento, controlo, fiscalização e auditoria, porque existe uma ausência gritante de procedimentos e processos internos bem definidos. O mais problemático é que esta situação é totalmente transversal nas empresas públicas. Se ainda considerarmos a ausência de pensamento estratégico, a carência de conceitos de marketing e a deficiente gestão de talento, o cenário, das empresas públicas apenas pode ser dantesco.