sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Empreendedorismo e Imigração

Tenho assistido com interesse o novo discurso do executivo sobre o papel da iniciativa privada em Angola, com palavras de estimulo para os empresários angolanos assumirem uma maior preponderância na economia angolana. Este discurso tem como premissa uma menor intervenção do Estado na economia e dar ao privado o papel de principal dinamizador e criador de riqueza, no fundo, é liberalizar a economia, o Estado ou os seus protagonistas assumem um papel liberal.
É uma mudança radical de discurso e de pensamento, passar de um modelo intervencionista na economia para um papel de delegar funções para os privados, a questão, é saber se um modelo mais liberal funciona em economias em estados prematuros de desenvolvimento, onde os empresários não possuem massa critica e nem existe acumulação de bens de capital?
Penso que em economias em estado prematuro de desenvolvimento, o Estado tem um papel fundamental na economia definindo as prioridades de desenvolvimento e uma intervenção activa no planeamento das infraestruturas necessárias para o país, principalmente, quando o privado nacional carece de competências para assumir esse papel. No meu ponto de vista, o papel do Estado na economia angolana chega ao ponto, de ser o principal responsável para criar condições para que a iniciativa privada se possa desenvolver.
Para ser empreendedor, não basta ter uma ideia de negócio exequível, é preciso capacidade para implementar a ideia, a capacidade passa pelo acesso à capital humano, capital próprio e capital alheio. Estas condições nem sempre estão reunidas no mercado angolano, onde o acesso à mão-de-obra qualificada é difícil, bem como ao financiamento, um processo demasiado complexo, sem mencionar toda a estrutura burocrática que existe em Angola.
Curiosamente, faz-se apologia à uma posição mais liberal mas depois a prática é de um maior proteccionismo, nomeadamente, no que se refere à incorporação de mão-de-obra estrangeira mais qualificada. Não nos enganemos à mão-de-obra estrangeira mais qualificada não vem para Angola, procura outras paragens para desenvolver a sua carreira profissional de forma mais sustentada, procura condições que Angola não pode oferecer porque simplesmente não possui. No entanto, a mão-de-obra qualificada que chega à Angola é necessária porque é requerida pelo próprio mercado, senão fosse necessária simplesmente não seria absorvida. Aqui coloca-se uma questão essencial, porque razão os quadros formados nas Universidades angolanas são preteridos em relação aos estrangeiros? Porque razão o mercado faz esta distinção? Será que o ensino universitário em Angola vai de encontro com as necessidades dos empresários? Será que as Universidades angolanas trabalham o mercado e fomentam a constituição de parcerias entre a Universidade e a Empresa? Ou será que a Universidade se limita a formar quadros, sem fazer um acompanhamento da sua inserção no mercado de trabalho, deixando o recém-licenciado entregue a sua própria sorte? Será que a Universidade tem instrumentos para os recém-licenciados desenvolverem os seus próprios projectos empresariais, incentivando, deste modo, o empreendedorismo?
Nesta questão existem dois grandes malefícios para a economia angolana, o recém-licenciado que fica no desemprego, cada dia corresponde a uma perda de competências e a uma desvalorização do investimento realizado, por outro lado, o expatriado para quem Angola é apenas um projecto de vida de curto-médio prazo, quando seria do interesse do Estado e da economia angolana que o seu projecto profissional e de vida fosse de longo-prazo.