domingo, 10 de abril de 2011

Considerações Democráticas

A data 02/04/11 ficará impregnada na memória de muitos jovens angolanos como o dia em que se realizou a primeira manifestação democrática contra o actual executivo em vigor. Foi com um misto de receio e de coragem que inundava as almas e os corpos destes jovens, que os primeiros manifestantes foram-se concentrando para exercer um direito fundamental que esta consagrado pela Constituição Angolana.
A manifestação decorreu com normalidade, foi um exemplo de verdadeira cidadania, pela forma cívica e pacifica como se processou o acto. A manifestação em si, não teve muita repercussão nos meios de comunicação internacionais, não foi noticia, teve mais impacto a proibição da manifestação anterior. No entanto, não se deve considerar a manifestação um fracasso, pois pode ter sido o início de um despertar, tudo vai depender do grau com que as margens do rio estão comprimidas e da força das suas águas.
O sensato será encarar estes actos com naturalidade, como algo que faz parte do fenómeno democrático, o acto mais inteligente será reflectir sobre se existe justiça nas reivindicações manifestadas e dar-lhes uma resposta. Numa democracia não faz sentido, uma população ter receio dos seus governantes, nem os governantes terem receio do seu povo. Por isso, os rumores sobre intimidações, represálias e ameaças são totalmente inaceitáveis e podem ter consequências sem precedentes. Seria totalmente erróneo e fatídico para o actual governo transformar manifestantes pacíficos em mártires. O governo não tem que entrar em diálogo directo com os manifestantes mas deve estar atento sobre a justiça das reivindicações porque elas podem ser a expressão de um mal-estar geral da população.
A crítica não deve ser encarada pelos governantes como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade para contra-argumentar, comunicar melhor as suas politicas, explicar melhor os seus objectivos e apresentar resultados.
Em democracia não se pode esperar benevolência por parte da oposição, o seu papel político é criticar, é denunciar e propor alternativas de governação. Em democracia não se eliminam os adversários fisicamente, em democracia destrói-se a imagem.
Portanto, não será surpreendente os principais partidos políticos da oposição serem solidários com os manifestantes, aliás, o natural é associarem-se ou organizarem as suas próprias formas de luta.
Neste processo, apenas, existe um risco, a manifestação como instrumento de luta política banalizar-se, por isso não se pode cair na tentação de por tudo e por nada organizar-se uma manifestação, não pode ser uma moda, todas as modas são efémeras. É preciso preservar o sentido de oportunidade.
O verdadeiro desafio será saber se estes manifestantes terão capacidade para organizarem-se como um movimento cívico com capacidade para debater os problemas do país em anfiteatros, auditórios, nos bairros ou nas praças com intuito de esclarecer, de mobilizar e desmistificar tudo aquilo que deveria ser encarado com normalidade num país e numa sociedade que pretende ser democrática.