quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Gestão do Ciclo Económico e Social

Nesta última década assistimos a um fortíssimo crescimento real do PIB em Angola, a fase ascendente inicia-se em 2003 com um ponto de partida inferior à 5%, até 2007 com um valor superior à 20%, mas sem atingir os 25%. Em 2008, já notamos indícios de desaceleração, o crescimento real do PIB não chegou a alcançar os 15%, e em 2009 foi a quebra total com o PIB a situar-se nos 2,4%. Convém ter em atenção, a inflação angolana situa-se num patamar com dois dígitos, variando entre os 12% à 15%.
O forte ciclo expansivo da economia angolana ficou a dever-se ao período de paz e a evolução ascendente do preço do crude até 2008. O ano de 2008 coincidiu com o crash à nível mundial nos preços da commodity e com a falência do Lehman Brothers. No entanto, não deixa de intrigar o fortíssimo colapso do PIB angolano em 2009, a explicação mais plausível, pode encontrar-se na má gestão do ciclo económico feita pelo Governo.
Quando a economia entra num forte ciclo expansivo as receitas fiscais crescem mais do que a própria economia, na maioria das vezes, os Governantes mais incautos deixam-se deslumbrar por este fenómeno, o problema, é quando a economia entra na fase recessiva, as receitas fiscais caem de forma abrupta. Isto acontece porque as famílias, as empresas e o sector público perante a constatação da expansão da economia aumentam os seus níveis de consumo/gastos, algo, que contribui para intensificar as pressões inflacionistas, antecipando, deste modo, a futura recessão. Quando a recessão chega as famílias, as empresas e o sector público diminuem o seu nível de consumo/gasto, o que contribui para diminuir o nível de receitas do Estado.
Esta má gestão do ciclo económico poderá ter sido responsável pela ruptura da tesouraria angolana, com os consequentes atrasos nos pagamentos aos seus fornecedores e a necessidade de pedir a intervenção do FMI com a celebração de um Stand By Agreement para regularizar a Balança de Pagamentos.
O mercado angolano não é fácil, ao contrário, do que se possa pensar, realmente, o CEO da maior construtora portuguesa tem razão, é necessário musculo financeiro para poder estar em Angola. O mercado tem um conjunto de especificidades muito próprias, e quem não tiver flexibilidade, é melhor pensar duas vezes.
Também registei com particular interesse as afirmações de Aguinaldo Jaime, apelando para a responsabilidade social das empresas, é um aspecto bastante importante, as empresas devem ter uma preocupação em dignificar os seus empregados mas também um papel junto das comunidades onde desenvolvem as suas actividades. Existe cada vez mais uma tendência das empresas para desenvolverem actividades que contribuem para o bem-estar das comunidades, promovendo uma integração entre a empresa e a comunidade, por exemplo, acções de voluntariado, acções de formação e acções de selecção.
Ao nível do Estado penso ser importante o fomento da integração social com a erradicação da pobreza, seria útil estudar, o que alguns países fizeram para lutar contra esse problema, o Brasil deveria ser uma referência para Angola. O programa Bolsa de Família foi muito bem sucedido no Brasil, podia-se desenvolver um programa semelhante de acordo com a escala de Angola, penso que seria algo muito positivo, obrigaria a uma modernização da Administração Pública para acompanhar, controlar, fiscalizar e avaliar o programa, mas também seria importante para promover a bancarização da própria população, algo que contribuiria para dar um salto qualitativo no país.