quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Sonangol nacionaliza Millennium BCP

Nunca considerei particularmente interessante o investimento da Sonangol no Millennium BCP, primeiro, pelo momento, a entrada da Sonangol coincide com uma luta pela sucessão no poder e com os accionistas a gladiarem-se; em segundo, pelas circunstâncias actuais com que se defronta a Europa, em particular, a Grécia e Portugal.
A luta pelo poder fragilizou imenso a reputação do Banco, com fugas selectivas de informação que puseram em causa a Boa Governação da Instituição e a sua Própria Imagem. O Banco começou a destruir valor, as acções iniciaram uma trajectória cada vez mais descendente em Bolsa até atingirem mínimos históricos (€ 0,38). Parecia que pairava sobre o Banco uma ameaça, para a Sonangol, a ameaça foi encarada como uma oportunidade, tendo em conta as circunstâncias, era uma oportunidade única para controlar o maior Banco Privado Português. Foi no silêncio e com muita paciência, a Sonangol foi alterando o equilíbrio de poder dentro do Banco, passando a controlar os principais Órgãos do Banco. Aliás, se a Sonangol pretendia estar no Millennium BCP, não fazia sentido estar no Banco como um mero espectador, principalmente, sendo o único com Liquidez, só fazia sentido estar no Banco para ser um actor principal.
O investimento no Millennium BCP foi colossal, e representa um custo de oportunidade, nomeadamente, se pensarmos nos investimentos que não foram realizados em Angola para socorrer o Banco. A decisão veio a revelar-se bastante onerosa e arriscada, o Banco não deixou de ser um bom activo de um momento para o outro, simplesmente, a conjuntura económica alterou-se muito e complicou bastante a situação do Banco.
O Banco tem uma exposição a Grécia de € 7 mil milhões, tudo indica que uma reestruturação da dívida grega acabará por ser inevitável, é apenas, uma questão de quando. Um haircut na dívida soberana grega implicará uma perda maciça para os investidores privados, o normal, será o Banco realizar provisões devido as futuras imparidades que se irão verificar. Os analistas estimam provisões na magnitude dos € 4 mil milhões de euros.
Portanto, futuros aumentos de capital serão forçosos no Millennium BCP, o problema, reside no facto dos accionistas de referência do Banco não estarem em condições para acorrer a um maciço aumento de capital (maciço porque o Banco terá que cumprir Basileia III). O Banco é confrontado com um enorme problema de liquidez, tal como, evidencia a sua exposição de sensivelmente € 15 mil milhões ao BCE, que já deu sinais de fechar a torneira. Ainda temos que descontar os € 5 mil milhões do ELA – Emergency Liquidity Assistence do Banco de Portugal e os possíveis efeitos das agências de rating.
A somar a isto, a realidade portuguesa, com um programa da Troika, que acentuará o ciclo recessivo no país, mas com € 12 mil milhões destinados à Banca, portanto, se os piores cenários se verificarem, os únicos potenciais accionistas para um reforço de capital no Millennium BCP será o Estado português (vía Troika) e a Sonangol (o único com liquidez própria). Poderemos estar na eminência de uma nacionalização com duas faixas de rodagem, uma para o Estado português e outra para o Estado angolano (Sonangol). A questão, será saber, se vão seguir no mesmo sentido?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Os Pioneiros Pacifistas Angolanos

Quando se proibiu a primeira manifestação pacífica em Angola estava-se longe de imaginar o seu impacto na sociedade, não se verificou uma revolução, mas perdeu-se o medo e pôs-se em evidência o status quo do regime, os malefícios de uma maioria parlamentar avassaladora e a inutilidade da oposição politica em Angola.
Os efeitos desgastantes das manifestações poderiam ter sido diminuídos, se o Executivo e as Autoridades tivessem relativizado, mas ao reagir com tanto alarmismo disseminou o fenómeno. Numa democracia normal, pesos pesados do MPLA teriam saído bastante queimados com as declarações que proferiram sobre o assunto e a actuação policial não teria qualificação possível. O golpe foi profundo apenas não se avalia a gravidade da ferida porque a sociedade civil angolana ainda é muito pouco exigente, a oposição politica é fraca e com pouca expressão, depois existem os apaniguados que se dedicam a branquear a situação e a lavagem cerebral, o resultado final, a opinião pública é fraca.
Mas quem olhar bem para o que aconteceu, é confrontado com um monumental paradoxo, um grupo de jovens pacifistas matou uma Constituição da República a nascença. Puseram em xeque a legitimidade da Constituição e denunciaram a hipocrisia dos fundamentos ideológicos em que foi redigida. Expuseram a farsa na praça pública e só não viu quem não quis.
Não sei se era este o propósito dos jovens, se foi uma acção planeada e deliberada com este objectivo ou simplesmente foi o curso natural dos acontecimentos que conduziu a esta situação. Mas foi o que aconteceu e está a acontecer.
Os acontecimentos de Luanda apenas tiveram ecos nos meios de comunicação de expressão portuguesa, mas não deixa de ser curioso que apôs a abortada manifestação em Luanda, produziu-se uma mega manifestação em Lisboa com o mesmo cariz. Uma manifestação pacifica, de protesto e intergeracional, que decorreu com toda a normalidade e civismo. Ainda mais curioso é assistir as impressionantes manifestações que estão a decorrer em Espanha, com a ocupação das praças das principais cidades espanholas, uma ocupação que decorre durante semanas e 24 horas por dia. Todas estas manifestações têm algo em comum, o protesto pacifico perante as dificuldades que a crise económica está a impor as populações que vivem já no limite do desespero perante a falta de soluções para por fim a crise e a ausência de futuro.
Não acredito que as manifestações em Luanda foram o gatilho para todas estas manifestações, mas são fenómenos que tem por base as mesmas motivações, a injustiça social e a falta de equidade na distribuição dos sacrifícios. Penso que a função dos políticos é reflectir sobre a justiça das reivindicações dos manifestantes e desenvolver políticas que possam minorar as assimetrias que desencadeiam este tipo de comportamentos colectivos. Convém não esquecer a historia, muitos dos que hoje ocupam cargos de responsabilidade no país, há 40 anos atrás encontravam-se na condição dos manifestantes de hoje, nada impede que a historia se repita e que os manifestantes de hoje sejam os Governantes de amanhã.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Voluntarismo ou Ingenuidade de Aguinaldo Jaime

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) português começou a perder fulgor, nomeadamente, nos países de expressão portuguesa. O primeiro sinal de quebra foi Moçambique, agora a quebra foi em Angola, já não se trata de um fenómeno localizado, tem mais aspecto de uma tendência globalizada no IDE português. É apenas, o reflexo da situação económica que vive Portugal.
Tenho muita pena em desapontar o Dr. Aguinaldo Jaime, mas não vai ser um fenómeno temporário, bem pelo contrário, tudo aponta para um fenómeno de longo prazo.
A economia portuguesa já está em recessão há mais de um trimestre, com uma contracção que se estima de 0,8%, além disso, o país foi alvo da forte voracidade dos mercados que fizeram disparar o custo da divida, ao mesmo tempo os ratings da República portuguesa baixavam, o país acabou por sucumbir e teve que pedir ajuda externa. As consequências imediatas, eleições e um 2011 comprometido, sem mencionar os anos seguintes.
É preciso ter noção, que com a ajuda externa, Portugal ficou fora dos mercados, e além disso, vai ser obrigado a um férreo programa de austeridade fiscal. A consequência, é o agravamento do estado recessivo do país, Portugal poderá estar em recessão até finais de 2012, com uma contracção de 4%. Neste clima bastante recessivo, vamos assistir ao aumento galopante das insolvências e da morosidade, portanto, os bancos portugueses vão ser extremamente escrupulosos e vão fechar a torneira do crédito. Sem financiamento bancário, não existe IDE português, nem comércio externo, portanto, a situação é tudo menos temporária, aliás, a tendência será para o agudizar da contracção do IDE português com a intensificação do programa de austeridade e a ausência das prometidas perspectivas de crescimento da economia portuguesa.