quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Ciclo Unipessoal do Poder

Na teoria económica é frequente considerar que o ciclo político pode condicionar o ciclo económico, porque existe sempre a tendência dos Governos tomarem medidas politicas mais populares quando as eleições se aproximam com o intuito de assegurar a sua reeleição. Normalmente, nesses períodos os Governos reduzem os impostos e aumentam a despesa para dar a sensação de uma maior prosperidade à população. Somente, em períodos de grande crise, parece ser quando o ciclo económico se sobrepõe ao ciclo político, exigindo medidas e reformas duras que acabam sempre por ditar o afastamento do executivo do poder pela impopularidade e pelo descontentamento que despertam nas populações.
Em Angola, vivemos numa inconstante indefinição em relação as eleições presidenciais, já se especulou com eleições em 2010, agora, especulamos com eleições em 2012, pessoalmente, acho que num país com as características de Angola, uma jovem democracia que acaba de sair de uma guerra civil, as eleições devem ser realizadas num clima de maior estabilidade possível, de forma, que o povo possa exprimir a sua vontade da forma mais serena e consciente possível, próprio de uma sociedade madura, nesse sentido, eleições num cenário próximo não me parece oportuno.
Agora, o que também não é possível, é o ciclo pessoal, de uma só pessoa, condicionar o ciclo politico e económico de todo um país, não é aceitável esta sistemática especulação e indefinição em relação as futuras eleições presidenciais, é um assunto que exige máxima ponderação e responsabilidade, quando se avança com uma data, alias, que devia ser estabelecida por lei, não se pode depois voltar atrás perante toda a opinião pública e internacional, porque estas indecisões geram incerteza e preocupação que acabam sempre por fazer danos na imagem do país. Gostaria que em Angola sobre certos assuntos existisse mais ponderação e mais responsabilidade antes de tomar determinadas decisões.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Todos querem Isabel dos Santos

Nestes últimos dias oficializou-se a entrada de Isabel dos Santos na ZON, uma empresa que resultou de uma cisão do universo da Portugal Telecom, portanto, trata-se de uma empresa recente, que se encontra cotada há pouco tempo em bolsa. A entrada na ZON faz sentido na perspectiva do portfolio de negócios da Isabel dos Santos, porque permite uma grande complementaridade nos seus principais negócios, mas além da componente estratégica, existe também a componente financeira, a ZON é a eterna Opavel da Bolsa portuguesa, convém não esquecer a tentativa fracassada da SONAECOM há alguns anos atrás.
No entanto, considero a ZON uma empresa de pouco potencial per si, é uma empresa que opera num mercado pequeno e bastante concentrado, dominado por grandes players e portanto com uma concorrência feroz. Considero que é mais vantajoso para à ZON ter uma accionista com o perfil de Isabel dos Santos, do que a Isabel dos Santos ser accionista da ZON, baseio esta afirmação em primeiro lugar porque Isabel dos Santos, é sinonimo de liquidez, um bem bastante escasso neste momento, e em segundo lugar porque Isabel dos Santos pode significar uma importante porta de entrada no mercado africano, devido, a sua esfera de influência. Sendo o negócio potencialmente mais vantajoso na perspectiva portuguesa, porque razão assistimos a investimentos maciços angolanos em Portugal? Uma economia com uma performance medíocre, caracterizada praticamente por 10 anos de estagnação económica? Esta é a pergunta que vale 1 Milhão de dólares para quem souber responder correctamente.
Creio que um dos factores que contribui para estes investimentos angolanos em Portugal deve-se ao factor segurança, apesar de Portugal, ter índices preocupantes de corrupção, é um País que esta integrado num espaço comunitário europeu, portanto, é um Estado que confere mais garantias na defesa da propriedade privada e na defesa dos interesses dos investidores. Além disso, sendo Portugal uma pequena economia aberta existem menos barreiras à entrada e num contexto de crise existem sempre oportunidades de tal forma subavaliadas pelo mercado que justificam a sua aquisição.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Uma Fusão TAAG e TAP

Guardo numa gaveta da minha secretaria o meu primeiro bilhete da TAAG com que viajei de Luanda à Lisboa, ida e volta, recordo a confusão no aeroporto, no check-in e depois no embarque, mas posso dizer que o voo decorreu com toda a normalidade, sem nenhum percalço. Uns anos depois a TAAG fez uma aposta maciça na renovação da sua frota aérea, com uma compra de vários aviões Boiengs, curiosamente, uns meses depois a empresa entrava na lista negra da UE e ficava impedida de voar para o espaço aéreo comunitário.
Uma decisão que teve consequências duras para a empresa, primeiro porque um conjunto de activos ficaram impedidos de gerar receitas, o que se reflectiu na conta de exploração, mas também na geração de cash-flows, além disso, temos que considerar, se a aquisição foi feita através de auto-financiamento a empresa incorreu num grande custo de oportunidade, porque poderia ter investido esse capital em oportunidades mais rentáveis, mas se a empresa financiou a aquisição através de divida ficou com o encargo pesado de pagar o serviço da divida e sem os respectivos cash-flows para o fazer, portanto, em qualquer dos cenários a empresa foi-se descapitalizando, uma descapitalização tanto maior quanto maior a restrição de voar.
Finalmente, a restrição foi parcialmente levantada, a empresa pode retomar os seus voos até Lisboa, se analisarmos a lista negra, a maior parte das companhias ali incluídas são do continente africano, apesar, do veto possa ser totalmente fundamentado e justificado, a consequência imediata do veto é eliminar concorrência num sector que passa por extremas dificuldades. Existem rumores de fusões, a mais recente, especula-se que a British Airways pode fundir-se com a Ibéria, uma fusão permite redução de custos, sinergias a nível operacional, um maior nível de facturação, partilha de tecnologia e de know-how. A questão que gostaria de deixar a consideração dos leitores, é a seguinte, faria sentido, uma fusão entre a TAAG e a TAP? Faz sentido, uma fusão entre empresas que só apresentam prejuízos? Qual seria o benefício de tal operação? Não seria esta fusão uma mera absorção da empresa mais pequena pela de maior dimensão para apenas ficar com o seu mercado?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um Valor Fundamental

Quando um investidor investe num activo temos de considerar algumas variáveis, que posteriormente, permitem determinar o seu perfil de investimento. Há dois factores importantes a determinar à partida, o seu horizonte temporal, que pode ser de curto prazo ou médio longo prazo, e além disso, ainda temos que determinar a sua aversão ou propensão para o risco.
Neste post gostava de me focalizar nos investidores de longo prazo, porque normalmente têm um perfil semelhante aos investidores que são responsáveis pelo investimento directo estrangeiro, pelo menos, em certos aspectos.
Mas voltando ao tema, quando um investidor decide investir num determinado activo, um dos valores fundamentais para a sua tomada de decisão, ou seja, para a selecção de activos que irá efectuar, é a estabilidade. Para um investidor de longo prazo a estabilidade é sumamente importante, temos que entender que estabilidade significa pouca volatilidade ou pouca variabilidade, para um investidor se comprometer com um activo numa perspectiva de longo prazo, é fundamental que esse investidor seja capaz de prever com alguma segurança os cash-flows futuros que esse activo irá gerar, desta forma poderá determinar com alguma segurança o preço a pagar pelo activo, bem como a rentabilidade esperada, obviamente, para determinar estas variáveis somente poderá fazê-lo se existe um padrão de estabilidade.
Ao nível dos investidores responsáveis pelo investimento directo estrangeiro a estabilidade também se assume como um valor fundamental, nomeadamente, nas vertentes politica, económica e social do país onde consideram investir, porque estes investidores têm sempre uma lógica de investimento de longo prazo.
Para Angola atrair este tipo de investidores é fundamental porque são eles que promovem a diversificação económica, nomeadamente, para economias com perfil da angolana, nesse sentido, podemos assistir em Angola a um cenário de estabilidade politica, uma transição para a paz bem conseguida, conjugado com um reforço democrático do partido politico no poder e com uma oposição que assumiu um papel responsável. A nível económico assistimos a uma derrapagem, de certa forma drástica, um crescimento do PIB nos últimos anos caracterizado por dois dígitos para um crescimento que possivelmente, segundo os dados mais recentes estará próximo de 1%, é factor de grande instabilidade e de incerteza principalmente se esta tendência de crescimento se mantiver no futuro. A nível social continuamos a assistir a grandes níveis de injustiça e desigualdade social, caracterizada pela desproporcionada distribuição da riqueza que não permite a criação de uma classe média que seja o suporte da estabilidade que qualquer sociedade necessita. Todos estes factores de instabilidade são geradores de incerteza e acabam sempre por excluir o investimento directo estrangeiro dos países que mais o necessitam.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Assalto

O Assalto é nome de um filme mas também de uma realidade muito presente do nosso quotidiano, alias, esta sexta-feira passada Luanda foi palco de mais um assalto a uma dependência bancária. É uma realidade que não é exclusiva de Angola, existe em todas as partes do mundo mas creio que este argumento não deve servir de desculpa para justificar a passividade e a inépcia das autoridades policiais no combate a delinquência.
Em Luanda existem sintomas claros de uma delinquência organizada, mas ainda com poucos níveis de sofisticação e pouco profissionalizada, que se traduz pelo pouco planeamento das suas actividades criminosas. Creio que este tipo de delinquência é muito mais perigosa do que o verdadeiro crime organizado, porque é uma delinquência muito mais arbitrária, menos selectiva onde qualquer cidadão pode ser uma vítima do azar, estar no momento e no lugar errados. É uma delinquência mais inconsciente que mais facilmente pode descambar para cenários de guerrilha urbana com a intenção de demarcar territórios e afirmar uma hierarquia de poder. Está delinquência tem mais capacidade para gerar pânico social e sentimentos de insegurança porque é uma delinquência que é capaz de matar apenas para furtar um telemóvel. Eu questiono-me como é que as autoridades vão assegurar a segurança dos nacionais mas também de todos os estrangeiros que se deslocarem a Angola para assistir a um evento como a CAN 2010?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Conviver com o Estado

Para muitos de nós o Estado é um conceito muito abstracto, apesar do Estado estar sempre presente na nossa vida. O Estado somente transforma-se em algo mais concreto quando por alguma razão o cidadão se relaciona com as suas instituições, são o rosto do Estado, que algumas vezes podem ter uma expressão simpática e outras vezes não. Geralmente, para a maioria das pessoas relacionar-se com o Estado não é nada simpático, porque o Estado é fonte de burocracia e além disso é a expressão do poder. Uma expressão da qual somente fazem parte uma minoria que é legitimada pela maioria, ou seja, o poder do Estado é uma manifestação de vontades da maioria que no fundo é exercida por uma minoria restrita, os eleitos.
Os eleitos quando não têm o sentido da virtude em vez de servir, servem-se do Estado para os seus fins pessoais, em proveito próprio mas em prejuízo da maioria. Uma maioria que legitimou uma minoria entregando-lhe o seu voto de confiança. Quando essa maioria ganha consciência que a sua Fidúcia foi traída e a sua sobrevivência foi posta em causa, as multidões rebelam-se com o fim de depor a minoria e acabar com o seu sofrimento, o Estado, no entanto subsiste porque ele é fonte de poder. O Poder é uma atracção, inclusivamente, uma aspiração humana mas que corrompe os homens porque ninguém consegue resistir aos seus apelos e ninguém é detentor de virtudes infinitas. O Homem não é capaz de viver em sociedade sem o Estado e o Estado sem o Poder não faz sentido.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Culto da Irresponsabilidade

Tenho sentido alguma estupefacção pelos últimos episódios relacionados com um suposto desvio de divisas do Banco Nacional de Angola em conluio com o Ministério das Finanças, principalmente, num momento em que o país carece de liquidez e parece estar a negociar avultados empréstimos internacionais, não entendo como é possível este rumor ser público, ter tanto suporte nos meios de comunicação e ter tão pouca reacção das entidades envolvidas.
Esta situação apenas demonstra a deficiente organização do estado, caracterizada por instituições fracas e pouco transparentes, sem independência e onde o termo incompatibilidade não existe. É totalmente inconcebível que um Banco Central possa ser fonte de uma fraude de desvios de divisas, algo que somente consigo entender pela falta de independência da instituição e uma ausência total de mecanismos de controlo interno. Não creio que seja do interesse de Angola, alimentar este tipo de situações porque são extremamente indigestas para a imagem do país e expõem perante todos as suas insuficiências, nomeadamente, ao nível da Justiça que não tem competência e nem esta capacitada para investigar situações desta natureza.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sem Rating, Máxima Responsabilidade

Recentemente, houve uma notícia que passou inexplicavelmente desapercebida nos meios em Angola, trata-se do empréstimo obrigacionista internacional de USD 4 Mil Milhões emitidos pelo estado angolano, cuja, operação está a ser montada pela JP Morgan Chase.
É uma operação de elevado montante, mesmo para os mercados financeiros internacionais, principalmente, para um país do continente africano e no contexto económico actual. Achei estranha a análise feita pelo banco de investimento Renaissance Capital defendendo que antes de colocar a emissão no mercado seria lógico submete-la ao rating, a questão, é que somente deve submeter-se ao rating quem estiver em condições para fazê-lo, não me parece que seja o caso de Angola, neste caso, é preferível emitir as obrigações sem rating do que fazê-lo com um rating mau. Bem por alguma razão temos o JP Morgan Chase a assessorar a operação.
Agora, para despertar o apetite dos investidores creio que a emissão terá que ter taxas de remuneração no mínimo ao nível dos dois dígitos, quanto maior o risco maior a remuneração exigida, uma emissão angolana será sempre considerada pelo mercado de alto risco, a reflexão que gostaria de fazer, é a seguinte, uma emissão obrigacionista de USD 4 Mil Milhões remunerada a uma taxa de dois dígitos, obriga necessariamente, que o PIB angolano nos próximos anos também cresça a taxas de dois dígitos, caso contrario, assistiremos em Angola a uma profunda destruição de valor na economia angolana pelo peso de uma divida demasiado onerosa. Será vital que os critérios de aplicação destes capitais sejam rigorosos e exigentes, é de extrema importância que sejam aplicados em projectos de elevadas rentabilidades, caso contrário, poderemos assistir a um cenário de agravamento da pobreza do país no longo prazo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Uma Confirmação Desagradável

Há alguns dias tive acesso ao índice de percepção da corrupção, tive a desagradável confirmação que Angola ocupava a 162ª posição do ranking, constituído por 180 países. O índice de percepção da corrupção é elaborado pela Transparency International, utilizando 13 fontes de 10 organizações independentes. Todas as fontes têm como objectivo medir os níveis de corrupção, tanto no sector público como no sector privado. São analisados 180 países, que são pontuados de 0 a 10. Um país pontuado com 0 é sinónimo de maior corrupção enquanto um país pontuado com 10 é sinónimo de menor corrupção.
Angola aparece pontuada no ranking com 1,9 um valor baixíssimo que nos coloca ao nível de países como Congo Brazzaville, Republica Democrática do Congo, Guine Bissau, Quirguistão e da Venezuela.
Apesar do esforço económico que Angola tem conhecido nos últimos anos, expresso em elevadas taxas de crescimento económico, ainda existe uma percepção muito negativa do país no exterior, a corrupção é uma variável inegável no nosso país, mas também acho que os esforços e os sacrifícios do povo angolano mereciam um reconhecimento internacional. Não é fácil reconstruir um país do dia para a noite, existem reformas profundas a realizar, muitas mudanças sociais a serem implementadas, mas tudo terá que levar o seu tempo, além disso, muitas vezes esquece-se que o fenómeno da corrupção não foi criado no continente africano, foi um habito social instituído e importado de outros modelos civilizacionais, ou seja, foi uma pratica importada e instituída por países estrangeiros em África, uma pratica que apenas penaliza os próprios africanos, neste caso particular, Angola.
Deixo-vos o link onde podem consultar o dito ranking:
http://www.transparency.org/policy_research/surveys_indices/cpi/2009/cpi_2009_table

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Uma Boa Surpresa

Há alguns anos atrás quando viajei pela primeira vez a Moçambique, mais concretamente, a Maputo, como qualquer pessoa que viaja pela primeira vez a um lugar novo, tentei obter o máximo de informação sobre o lugar que ia visitar. Tal como hoje, também há alguns anos atrás (não muitos), a melhor fonte de informação era e é a internet, nomeadamente, os portais de busca. No meu caso, a minha principal fonte foi o Google, bem, até aqui nada de novo.
O que realmente, foi uma surpresa para mim, foi encontrar naquela altura, a cidade de Maputo no Maps.Google com as suas ruas legendadas. Foi uma surpresa muito agradável porque permitiu-me ver toda a cidade de uma forma antecipada e localizar todos os lugares em que deveria estar durante a minha estadia, bem como, ter uma noção dos trajectos, ou seja, permitiu-me planear melhor a minha visita e ter uma ideia mais concreta sobre Maputo sem nunca lá ter estado. De facto, ter acesso a um mapa de imagens reais com as ruas identificadas é uma grande utilidade e pode ser bem ilustrativo das coisas que se andam a fazer em Moçambique, nomeadamente, na esfera das tecnologias.
Na altura, lembro-me ter registado com pena, o facto, de Luanda ainda não merecer um tratamento semelhante no Maps.Google, não sei, se é um trabalho complexo de fazer, nem sei se ele depende das autoridades angolanas, se seria feito por angolanos ou por funcionários da Google, a única coisa que eu sei, é que Maputo existe no mapa do Maps.Google, enquanto, Luanda permanecia no anonimato das trevas. Sim permanecia, mas já não permanece mais, porque finalmente podemos encontrar Luanda no Maps.Google com algumas das suas ruas identificadas. Senti uma enorme satisfação e fiquei a pensar, que muitas vezes as coisas se definem por pequenos detalhes, e para um país que pretende fazer do turismo uma referência, creio, que é importante que as pequenas coisas sejam repensadas.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os Elefantes Brancos Angolanos

Em 2010 Angola irá organizar a CAN 2010, tal como, aconteceu em Portugal que organizou o Euro 2004. Um investimento maciço em infra-estruturas, nomeadamente, estádios, sustentado em supostos estudos de viabilidade económica e financeira que apontavam para um beneficio económico muito maior do que o custo. Durante o evento viveu-se a euforia, as cidades organizadoras encheram-se de pessoas e o país era noticia em todo o mundo. O problema foi quando terminou a competição, o país ficou com 10 estádios novos cuja maioria não conseguiu e não consegue rentabilizar, são verdadeiros passivos que privaram outros sectores económicos dos meios financeiros para desenvolverem-se e modernizarem-se.
Em Portugal existem pelo menos 7 estádios que podemos considerar Elefantes Brancos porque representam verdadeiros buracos financeiros pagos pelo erário público, são investimentos de má qualidade porque não têm uma natureza reprodutiva na economia portuguesa, aliás, inclusivamente já se cogita a demolição de alguns deles, precisamente, devido aos elevados custos que comportam.
Sabendo dá má experiencia portuguesa, no que se refere, ao impacto deste tipo de eventos na economia, surpreende-me que um pais com tantas carências, priorize um investimento de tão baixa qualidade, porque parece-me notório que este evento jamais vai gerar cash-flows suficientes para se pagar a si próprio, basta analisar as deficientes condições hoteleiras do país, reduzidas em número e excessivamente caras, a falta de experiência e de visibilidade no turismo, sem mencionar, a falta de uma rede de transportes organizada e os elevados níveis de insegurança, prevejo que o afluxo de turistas para seguir as suas selecções em Angola será reduzido. Quando o evento terminar, Angola ficará para a posteridade e para a história com os seus Elefantes Brancos, sem saber muito bem o que fazer com eles, tal como, acontece em Portugal. Por vezes sinto que as elites angolanas ainda estão impregnadas de um colonialismo intelectual português mas subconsciente e totalmente demencial.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os Equívocos da Politica Financeira Angolana

Normalmente, uma das fontes de prestígio de um país é a sua capacidade de ceder liquidez ao FMI com o intuito, desta instituição, sob condições muito particulares intervir em países com dificuldades especiais, tal como, aconteceu em Angola com a sua balança de pagamentos.
Podemos imaginar Angola como se fosse uma empresa que só vende um produto á vários clientes (exportação de crude), mas como todas as empresas sente necessidade de investir, neste caso, em melhores infra-estruturas para que no futuro possa produzir e vender outros produtos ou serviços com o objectivo de crescer. Convém não esquecer como todas as empresas, Angola tem fornecedores, ou seja, importação.
A conjuntura internacional altera-se, a empresa passa a vender menos, o preço do petróleo baixou, no entanto, a empresa não deixa de comprar aos seus fornecedores e forçosamente terá que pagar as suas facturas, a empresa começa a deparar-se com um problema de crescimento, as suas necessidades de fundo maneio aumentaram mas a tesouraria progressivamente parece ter menos dinheiro.
Angola esta perante um dilema, precisa de crescer mas só pode fazê-lo se reinvestir, neste contexto, o absurdo é constatar que o Banco Nacional de Angola faz uma venda massiva de dólares no mercado para suster o valor do kwanza, foi um acto de gestão incompetente.
A empresa já debilitada na sua estrutura financeira, nomeadamente, nos seus capitais permanentes, estoirou de forma absurda parte das suas reservas, principalmente, se pensarmos que a tendência do dólar nos mercados internacionais é para a sua desvalorização, quando isso acontece, o preço do crude sobe, logo, as reservas de divisas denominadas em dólares voltariam a aumentar, implicando a valorização do kwanza.
Mas voltando a empresa, que poderíamos denominar Angola S.A., com a tesouraria debilitada, ela tem necessidade de reforçar os seus capitais permanentes, pode fazê-lo usando o reforço do seu capital próprio, ou então, com recurso a divida (empréstimo do FMI).
Muitos podem argumentar que o recurso a divida não é bom, a empresa já por si está excessivamente endividada, além disso, não existe direito de sobrecarregar as gerações futuras com o pagamento da divida, no entanto, existe um detalhe que convém não esquecer, a empresa necessita continuar a crescer, só pode fazê-lo com recurso ao auto-financiamento ou com a divida, o alavancamento não é necessariamente mau, bem pelo contrario, sempre e quando a rentabilidade do investimento é superior ao custo do capital (divida), sempre que está condição se verifica existe criação de valor. A questão fundamental, é saber se o Ministério da Economia e das Finanças têm melhores gestores do que o Banco Nacional de Angola?

sábado, 14 de novembro de 2009

Um Modelo Económico para Angola

Neste post gostaria de fazer uma reflexão sobre qual deveria ser o modelo económico angolano, na minha opinião, a economia angolana deveria basear-se num triângulo virtuoso que tivesse como função o alavancamento e o arrastamento de toda a economia angolana.
O meu triângulo virtuoso teria como vértices a energia, as telecomunicações e a agricultura. Creio fundamental que Angola não se reserve apenas ao papel de exportador de crude, Angola deveria ser uma referência continental na produção e exportação de energia. Na energia, incluo a produção do crude e a sua refinação, a produção eléctrica, a produção de energias renováveis (com a produção interna de todos os seus componentes) e a energia nuclear. O desenvolvimento de competências no sector da energia têm um efeito de arrastamento em outras actividades, como pode ser a indústria química, a título de exemplo, a produção de plásticos, moldes e do papel.
O vértice das telecomunicações é fundamental num mundo cada vez mais globalizado porque as sociedades, nomeadamente, as suas empresas necessitam ser ágeis, flexíveis e rápidas. As telecomunicações têm o dom de aproximar os cidadãos e as empresas ás instituições e ao mundo, reduzindo a burocracia, reduzindo processos, agilizando decisões, economizando tempo e reduzindo a corrupção. As telecomunicações têm um efeito de arrastamento ao nível dos sectores tecnológicos, nomeadamente, na informática e na produção de software. O vértice das telecomunicações tem a faculdade de ser o valor acrescentado da sociedade enquanto no vértice da energia podemos encontrar a industria mais pesada e que pode servir para alavancar financeiramente as demais actividades.
Por fim, temos o vértice da agricultura, creio que é fundamental que um país com as características de Angola seja auto-suficiente, nomeadamente, a nível alimentar. A partir da agricultura podemos desenvolver actividades como agro-pecuária e a agro-indústria, a manufactura, com a consolidação destas actividades podemos pensar na sua distribuição e de uma forma progressiva ir substituindo as importações destes itens. Obviamente, um país que sofreu uma guerra civil devastadora como Angola, as infra-estruturas, obras públicas e os transportes têm uma palavra a dizer no país, no entanto, as linhas orientadoras para o futuro de Angola devem estar baseadas neste triângulo virtuoso, sem esquecer, a formação adequada de recursos humanos que possam integrar esses mesmos sectores.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Mediocridade Jurídica

Andamos ultimamente muito atarefados e preocupados, pelos menos aparentemente, com a Nova Constituição, como se ela fosse resolver todos os nossos queixumes. Sobre este tema gostava de fazer a seguinte reflexão, o edifício jurídico angolano é um legado português no seu estado mais puro. Sabemos que o sistema jurídico português, a semelhança, dos sistemas jurídicos dos países do sul da Europa, os ditos, latinos, se caracterizam por uma produção jurídica que na sua génese é a incompatibilidade, ou seja, produzem-se leis em duplicado ou triplicado, em sentidos opostos, simplesmente, para não chegar a conclusão nenhuma, a única intenção é deixar uma porta aberta a total impunidade, uma porta somente perceptível a quem tiver os melhores advogados. Não é por acaso que os países do sul da Europa são os mais corruptos do continente europeu, mas sinceramente, não sei quem ocupa a polé position, onde todas as ilegalidades são permitidas sem quaisquer consequências, onde os processos se arrastam em tribunais sem nunca conhecerem fim e sem que seja feita justiça, o padrão normal, são os processos prescreverem e serem arquivados. Se esta é a nossa herança jurídica colonial, creio que todo o corrupto em Angola é merecedor de perdão porque está obra jurídica não é de sua criação.
Por isso, peço-vos, que a Constituição de Angola não seja mais um calhamaço jurídico desactualizado e sem sentido, por favor, sigam os melhores exemplos, reformulem a Constituição, façam uma com apenas 10 artigos e que sirva de exemplo ao legislador para aprender a ter contenção e a não produzir ordenamentos jurídicos a toa. O Legislador devia ser obrigado a falar fluentemente alemão, com toda a certeza, teríamos uma Angola com melhores leis.

sábado, 7 de novembro de 2009

Inspiração para Inovar

Há alguns meses atrás escrevia num jornal de referência de Luanda um artigo sobre a diversificação económica e a importância da identificação dos sectores estratégicos, ou seja, dos sectores chaves. Nesse artigo fazia referência a um caso espectacular que estava a acontecer no Quénia onde uma operadora móvel permitia aos seus clientes efectuar pagamentos e transferências de dinheiro através do telemóvel. Uma inovação tecnológica que estava a revolucionar os hábitos locais, permitindo que pessoas que não tinham condições para ter uma conta bancária passassem a fazer parte do sistema financeiro, além do salto qualitativo que implicava para a própria sociedade, por exemplo, algumas empresas passarem a pagar os salários via telemóveis, se pensarmos, na óptica de uma empresa, esta operação implica uma grande simplificação de processos, menos papel, menos tarefas e menos comissões, além disso, implica uma sociedade tecnologicamente mais bem preparada. Este fenómeno permitiu colocar o Quénia no centro de atenções de todos os gurus do marketing porque se conseguiu descobrir uma fórmula de fidelização dos clientes ás operadoras de telemóveis, algo que durante anos estava a ser estudado sem sucesso e cuja resposta foi encontrada no continente africano. Por essa, razão sinto uma ligeira satisfação por uma medida anunciada pelo Banco Nacional de Angola em permitir que esta tecnologia seja implementada em Angola, estou certo que será uma óptima oportunidade de negócio e permitirá melhorar a vida de muitas pessoas. Para terminar, deixo aqui o fac-simile do meu artigo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A Bolsa de Valores em Luanda

Parece que Angola vai ter mesmo uma Bolsa de Valores, um projecto que foi ganhando forma antes da crise financeira internacional, mas cuja crise condicionou o seu nascimento, curiosamente, a crise foi precisamente disseminada a escala global pelas Bolsas de Valores.
A Bolsa de Valores é basicamente um lugar onde as empresas podem obter capitais (financiamento) vendendo as suas acções aos investidores, enquanto, para os investidores a Bolsa de Valores representa uma forma alternativa de aplicação das suas poupanças, através, da obtenção de dividendos ou mais-valias.
A mim pessoalmente, a Bolsa de Valores em Angola, gera-me alguma apreensão, devido a pouca cultura financeira dos investidores, o número pouco significativo de empresas com condições para integrar um mercado bolsista, o facto de ser um mercado imaturo e inexperiente e preocupa-me fundamentalmente uma regulação inapropriada e uma supervisão ineficiente.
Temo que a Bolsa de Valores de Angola seja uma praça de pouca liquidez e entregue aos investidores institucionais, portanto, um palco para praticas que apenas servem para esmagar as margens do mercado a custa dos pequenos e médios investidores. Preocupa-me que a Bolsa de Valores de Angola seja invadida por salas de mercados (Bancos) mais experimentados, que apliquem estratégias de trading extremamente agressivas aproveitando-se da ingenuidade dos investidores, operadores, reguladores e da supervisão local. Posso estar enganado mas receio que a Bolsa de Valores de Angola seja espremida até ao último centavo por traders menos escrupulosos sem que ninguém se aperceba muito bem do que esta a acontecer.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A Prioridade Energética

Como já foi referido anteriormente no blog, uma das condições essenciais para a diversificação económica é a existência de investimento directo estrangeiro, portanto, a capacidade para atrair capitais e investimentos externos. A questão que nos devemos colocar é quais são as variáveis que levam um empresário à investir noutro país?
Podemos estar seguros que um investidor antes de tomar uma decisão de investimento já fez o seu trabalho de casa, seguramente, avaliou as perspectivas de evolução da actividade no país, sabe qual é o risco do país e, seguramente, tem identificado as principais oportunidades de negócios. Mas de uma forma geral, quando uma grande multinacional decide investir noutro país, principalmente, procura obter ganhos de produtividade, ou seja, procura factores de produção mais baratos para ganhar competitividade.
Numa empresa de cariz industrial, os gastos com a electricidade assumem uma elevada percentagem no total dos gastos, Angola é um país com uma grande ineficiência no abastecimento de electricidade, ainda no outro dia li uma noticia que fazia referência a cortes específicos de electricidade durante a CAN, quem vive em Luanda é confrontado com cortes diários, esta ineficiência no abastecimento de electricidade tem elevados custos, nomeadamente, a nível industrial porque pode desincentivar futuros investimentos.
Nenhum empresário estará disposto a investir num país onde as suas linhas produção podem parar diariamente, por vezes, mais do que uma vez por dia por falta de electricidade. Para evitar esse inconveniente proliferam geradores pelo país, mas o uso sistemático dos geradores agrava fortemente os gastos de produção, nomeadamente, os referidos com o abastecimento de energia, o que implica perda de produtividade, ou então, esse acréscimo de custo é repercutido no consumidor final (o que nem sempre é possível e corta-se na margem de lucro até a actividade deixar de ser rentável).
Parece-me fundamental antes de pensar na industrialização do país que sejam criadas as condições necessárias para desenvolver uma actividade industrial numa base competitiva, o que passa necessariamente por uma maior e melhor eficiência energética, nomeadamente, ao nível do abastecimento de electricidade.
A Sucessão Politica

Um dos post´s que tem gerado mais reacção por parte dos leitores refere-se a possível sucessão politica em Angola, por essa razão, gostaria de pedir aos nossos leitores, que sugerissem em plena consciência, a melhor personalidade angolana para suceder ao actual Presidente José Eduardo dos Santos. Aguardo as vossas sugestões. Coragem.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma Questão de Economia

As crises são cíclicas e fazem parte da economia, quando um país entra em recessão e depois num processo de estagnação económica, isto apenas significa que o seu modelo económico está obsoleto. Muitos países tentam reinventar-se e procuram novas vantagens competitivas para conquistar novos mercados ou sobreviver nos que actuam.
Em Angola assistimos há vários anos ao discurso da diversificação económica como se de uma moda se tratasse, quando na realidade trata-se de uma necessidade. Fico chocado quando alguns responsáveis políticos justificam a diversificação económica com o argumento de melhorar e aumentar as exportações do país. É verdade que a diversificação económica permite esse desiderato mas a questão é que Angola não esta actualmente preparada para assumir esse objectivo, quem diga o contrario, mente.
A diversificação económica deverá ter como objectivo a constituição de um tecido produtivo que permita numa primeira fase promover a produção interna e a substituição progressiva das importações, é a única forma, no curto médio prazo melhorar a balança de transacções correntes, sabemos, que a balança de pagamentos forçosamente deve ter saldo zero, portanto, os deficits gerados tem que ser financiados, normalmente, pela balança financeira. Quando o Estado não tem recursos, obrigatoriamente tem que emitir divida ou pedir emprestado, por isso, não surpreende o pedido de ajuda financeira ao FMI. Por mais prestigiante que o empréstimo do FMI possa parecer e nos façam acreditar, é sempre um sinal de que a politica económica e financeira seguida pelo Governo não foi a melhor, por muito que o Ministro das Finanças e da Economia se empenhem em dizer o contrario.
Ter noção da realidade

É com muita frequência que exigimos dos nossos governantes o impossível sem ter em conta as nossas limitações, exige-se uma melhor administração pública sem que existam quadros qualificados, exigimos melhores hospitais mas não temos e nem formamos médicos adequados, exigimos uma melhor justiça e não temos juízes e nem advogados suficientes e competentes, com frequência exigimos o impossível com impaciência.
É de toda a justiça realçar o esforço realizado pelo Governo, nomeadamente, ao nível do campo escolar, inúmeras escolas foram criadas nas mais diversas vertentes, desde do infantil até a formação profissional, hoje, temos mais Universidades Públicas, temos mais cidadãos angolanos a terem acesso e a frequentar o ensino superior, o resultado não será imediato, mas estou convencido que podemos aspirar com esta nova geração a um futuro bastante melhor.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Teoria das Coincidências

Há alguns meses atrás fomos surpreendidos e ficamos consternados com o assassinato de uma deputada do MPLA juntamente com um familiar alto quadro do Serviço de Migração, hoje, somos surpreendidos com gravíssimas ilegalidades nos Serviços de Migração. Um esquema gravíssimo de usurpação e desvio de dinheiros públicos através de funcionários públicos fantasmas que constavam na folha salarial do Estado, parece patético, como não existem procedimentos de controlo na administração pública, como é possível contratar alguém que não existe?
Já nem menciono os esquemas de venda de vistos de trabalho ilegais, uma verdadeira mina de dinheiro, se pensarmos que Angola é cada vez mais um destino crescente de imigração e é um país cuja administração pública não funciona porque as leis não existem ou ninguém as compreende, se além disso, pensarmos nos elevados níveis de pobreza e de impunidade que existem na sociedade angolana, podemos entender que o controlo dos Serviços de Migração por pessoas menos escrupulosas possa supor ser um negocio bastante rentável e que justifique plenamente a eliminação dos adversários directos do caminho.
O Mito da Diversificação

Já faz algum tempo que a expressão diversificar a economia entrou no léxico de tudo o que é dirigente político em Angola, mas eu pergunto, aqueles que tanto falam em diversificação da economia angolana sabem como é que isso se faz?
Uma das condições essenciais para a diversificação económica é a existência de investimento directo estrangeiro, num momento de contracção da economia mundial, cujos efeitos se fazem notar em Angola, basta analisar este dado, o investimento nacional superou o investimento estrangeiro neste ano em curso, eu pergunto, senão houver investimento directo estrangeiro que implique a transferência de know-how como se vai fazer a diversificação económica?
Antes de falar em diversificação económica deveriam ser criadas condições para a atracção do investimento, algo que deveria ser da responsabilidade da ANIP e cujo desempenho deixa muito a desejar.
Em Angola existe um excesso de burocracia, falta de informação, uma administração pública pouco eficiente e com excesso de procedimentos, temos uma ANIP que trabalha devagar devagarinho, quando uma informação é solicitada a resposta é muito morosa ou então pouco esclarecedora. Por vezes, parece que a ANIP só funciona, se conhecermos alguém lá dentro, com tanta ineficiência e tanta moleza como é que alguém pode ser levado a serio quando fala em diversificação económica, creio que o fundamental seria primeiro organizar a casa, pela evidência dos factos há muito tempo que essa casa anda desorganizada.

sábado, 10 de outubro de 2009

A Perversão da Democracia

Questiono-me muitas vezes se um estado democrático não poderá ser mais nefasto para um país do que um estado ditatorial puro e duro, principalmente, quando os seus cidadãos não são detentores de maturidade cívica, e ainda, se encontram num estado de infantilidade.
Uma democracia implica sempre responsabilidade, no momento do voto, ter consciência das implicações de cada escolha e as suas consequências para o futuro do país e de todos os seus cidadãos. Num país onde os níveis de iliteracia são elevadíssimos, onde o acesso a informação é muito condicionada e não existe um estimulo para a reflexão e nem para o debate de ideias, a democracia poderá ser um mero exercício de manipulação das mentes humanas mais incautas para legitimar formas ditatoriais mais subtis, permitindo que os seus Governantes sejam inimputáveis pela expressividade dos resultados eleitorais obtidos e em ultima análise com a co-responsabilidade de todos os eleitores.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Reconhecimento do Erro

A Balança de Pagamentos por definição tem que ter saldo zero, por essa razão os deficits da balança de transacções correntes quando ocorrem tem que ser financiados, seja, por entradas de capital ou financiamento exterior. Foi o que aconteceu com este recente empréstimo massivo do FMI ao Governo angolano.
Há duas questões que importa colocar; a primeira, este empréstimo é motivo de satisfação para o Governo angolano?
Não, porque este empréstimo implica o reconhecimento implícito de que as politicas económicas adoptadas pelo Governo, não foram eficazes na gestão da crise económica e financeira internacional.
A segunda questão; é este empréstimo importante para a economia angolana?
Sim, porque vai permitir estabilizar a balança de pagamentos, regularizando um conjunto de pagamentos que estavam em atraso e desta forma prosseguir com o programa de reconstrução do País.
Nota final, no inicio do ano assistimos para espanto de muitos, ou talvez não, a uma queda abrupta nas reservas internacionais liquidas na ordem de 4 mil milhões de dólares, o empréstimo concedido pelo FMI é da ordem de 2 mil milhões de dólares, metade do valor, será que o valor remanescente da quebra já foi recuperado pelos novos preços a que está a ser cotado o barril do crude ou assistiremos a um novo empréstimo no futuro?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Como avaliar Angola?

Muitas vezes quando pretendemos avaliar o desempenho de um País fazemos normalmente referência ao seu PIB, nomeadamente, a sua taxa de crescimento. Mas será o PIB, o melhor indicador para avaliar um País?
Hoje, fiquei a saber que Angola cresceu nos últimos 19 anos, a uma taxa média anual de 9%, bem acima da média mundial, mas nem sempre um maior crescimento económico é sinónimo de maior bem-estar social. No entanto, sem criação de riqueza é impossível promover o bem-estar social, mas a questão que quero colocar é a seguinte, como se alcança um maior bem-estar social? Com uma melhor distribuição dos recursos? Ou com uma aplicação mais eficiente dos mesmos?
Será possível existir bem-estar social quando uma jovem angolana morre nos braços da mãe as portas da TPA porque lhe foi recusada assistência num Hospital Público? Não deveria ser a saúde um direito universal? Quantas pessoas falecem em Angola sem nunca terem tido assistência médica? Não será o acesso a Justiça também um direito universal? Alguém sabe se o Ministério Público actuou neste caso? Alguém sabe se o Tribunal vai julgar este caso? Alguém sabe quanto tempo vai demorar o julgamento?
O bem-estar social é uma necessidade colectiva, mas nem sempre é fácil de alcançar porque pode não ser do interesse de todos.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Pecado da Sonangol no BCP

Quando se tornou pública a entrada da Sonangol no Millennium BCP fiquei surpreendido porque não consegui entender a mais-valia e a sinergia estratégica do investimento realizado. Já nem menciono o timing do investimento, a Sonangol entrou no BCP num momento conturbado da instituição, duas OPA´s falhadas, uma guerra pela sucessão e a exposição em praça pública de algumas praticas menos correctas.
Naturalmente, o Banco entrou numa espiral de destruição de valor, presumo, que a Sonangol deve ter perdido imenso dinheiro. Além disso, sempre achei um absurdo efectuar um investimento tão elevado para ter um papel secundário na gestão do banco, não faz sentido a Sonangol, uma empresa pública ser uma mera gestora de participações financeiras, é absurdo, porque é um negocio ruinoso para o Estado Angolano.
Convém perceber a natureza do BCP, foi um Banco que se constituiu com base numa estrutura accionista fragmentada, accionistas pequenos e ao mesmo tempo clientes do próprio banco, accionistas frágeis, foi nessa base que o BCP se converteu num caso de sucesso, um case study em muitas Escolas de Negócios.
O problema surgiu com uma sucessão mal planeada e mal aceite, que acabou em litigio e atirou o Banco para a lama, o equilíbrio de forças na estrutura accionista alterou-se, os accionistas extremamente alavancados, ou seja, endividados, tiveram todo o interesse em eleger uma administração fraca, com intuito de promover uma posição passiva em relação aos níveis de morosidade dos accionistas, portanto, existe um interesse implícito de manter o actual estado de coisas, o Banco não ser eficiente.
Uma situação que não deveria e nem pode ser do interesse da Sonangol, porque a Sonangol é simplesmente um accionista, não sofre da mesma dualidade, o seu interesse deveria ser a gestão eficiente dos recursos, somente, desta forma será possível criar valor, algo, que não está a acontecer.
Seria do interesse da Sonangol promover dois tipos de situações, promover uma OPA sobre o BCP, por parte de um outro Banco, seria um dos caminhos para recuperar o investimento realizado. Ou então, deveria promover uma concentração accionista no Banco, de forma, a impor uma administração mais agressiva e mais empenhada em acabar com as ineficiências do Banco e contribuir para uma verdadeira gestão de criação de valor acrescentado.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Perfil de Isabel dos Santos

Um pouco na sequência do último post do Pedro, que despertou reacções nos nossos estimados leitores, gostava de realizar uma análise ao perfil de Isabel dos Santos. Subscrevo a ideia do Pedro quando afirma que Isabel dos Santos é a pessoa mais bem preparada na família dos Santos para suceder ao seu próprio Pai num cenário de uma hipotética sucessão dinástica.
A Isabel dos Santos tem uma boa base académica, construída no estrangeiro, nomeadamente, Reino Unido, portanto, tem uma vivência que lhe permite ter uma visão mais abrangente de Angola e do Mundo. É uma pessoa com um percurso empresarial invejável, que soube seleccionar muito bem os seus negócios, a maior parte deles são detentores de monopólios de consumidores, uma condição fundamental para um negócio ser de sucesso, além disso, é uma pessoa que elegeu muito bem as suas alianças, um exemplo disso, Américo Amorim.
A Isabel dos Santos detém uma grande perspicácia, que ficou bem demonstrada na sua entrada no BPI, onde a estrutura accionista do Banco é concentrada, o que lhe permite ter acesso a accionistas de peso, como La Caixa, uma Instituição Financeira Catalã com participações relevantes em vários sectores estruturantes a nível Ibérico. A mesma perspicácia, por exemplo, não existiu na Sonangol quando decidiu entrar no BCP, um Banco com uma estrutura accionista fragmentada e pouco relevante.
Há um conjunto de atributos objectivos que fazem de Isabel dos Santos a melhor imagem de marca de Angola no exterior, agora, uma outra questão é saber se ela tem pretensões politicas e estaria na disposição de abdicar da sua carreira empresarial em prol de um cargo politico da mais elevada importância.

sábado, 26 de setembro de 2009

A Sucessão do Poder em Angola

Foi com particular interesse que assisti a disponibilidade e a vontade manifestada pelo Dr. Vicente Pinto de Andrade em ser candidato em 2012. Numa jovem democracia como a angolana, não existe nada pior do que o marasmo intelectual e a unanimidade nas opiniões.
Se pretendermos uma evolução politica, social e cívica para as gerações futuras é fundamental que as pessoas mais capacitadas tenham a coragem de fomentar o debate político, somente, com o confronto de ideias será possível construir uma sociedade e um país melhor.
Seria trágico para o futuro de Angola, se o país pretender enveredar por um caminho de sucessão dinástica, seria um péssimo exemplo na comunidade internacional, principalmente para Angola, um pais que pretende ser uma referência regional no seu espaço geográfico.
Mesmo, considerando um cenário de sucessão dinástica, a única pessoa do Clã dos Santos, com perfil e carisma para representar e governar Angola condignamente seria Isabel dos Santos. No entanto, considero que num país que aspira a ser democrático, este tipo de cenários não têm razão de ser, porque, em democracia os mais elevados cargos da nação tem que ser sempre legitimados pela vontade popular, expressos pelo voto e jamais por uma decisão unipessoal.
Espero que em Angola existam mais pessoas com a coragem, o intelecto e a frontalidade do Vicente Pinto de Andrade, somente, assim podemos aspirar a ser melhores amanhã do que aquilo que somos hoje.
A Lei de Gresham em Angola

Continuando na sequência de analisar a evolução cambial angolana, nomeadamente, a desvalorização do kwanza face ao dólar, lembrei-me de um antigo princípio económico, cujo, autor foi Thomas Gresham, que ficou conhecida pela Lei de Gresham.
O principio económico defende que a má moeda expulsa a boa moeda de circulação, esta constatação foi feita, num sistema monetário que se baseava num padrão de ouro e de prata com o mesmo poder liberatório, ou seja, existia uma dualidade monetária, no sistema monetário circulavam moedas cunhadas em ouro e em prata, como o ouro era um metal com um valor intrínseco mais precioso do que a prata, a tendência era para entesourar o ouro e apenas pagar com a prata, cuja, consequência era retirar o ouro de circulação.
Em Angola, podemos estar a assistir a um fenómeno semelhante, onde o kwanza é a má moeda e o dólar a moeda boa, a tendência será para entesourar o dólar e retira-lo de circulação. Talvez, por isso não seja estranho constatar que na maior parte das grandes empresas os salários são sempre expressos e pagos em dólares, não é estranho pensar, que todo o comercio que tem como alvo os expatriados e pessoas com um nível de rendimento superior, os preços e os pagamentos são sempre feitos em dólares. O dólar é uma moeda de uso restrito para pessoas de uma determinada condição social.
O mais interessante é constatar que se esta á substituir uma moeda má (kwanza) por outra menos má (dólar), principalmente, se considerarmos a evolução internacional, que aponta para o reforço do euro, e muito provavelmente, a substituição do dólar pelo euro, como moeda de referência internacional.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Flutuação Cambial Angolana

Continuamos a assistir a uma apreciação contra-cíclica do dólar em relação ao kwanza, é um pouco estranho assistir a valorização do dólar face ao kwanza, principalmente, num cenário que aponta para a depreciação do dólar face as principais moedas internacionais.
Além disso, como já foi referido num post anterior, a politica monetária restritiva do Governo, em circunstâncias normais deveria ter conduzido a valorização do kwanza, principalmente, porque os aumentos ao nível das taxas de redesconto e das reservas legais foram consideráveis. No entanto, parece que o efeito da escassez na oferta de dólares, o seu condicionamento a nível do Banco Nacional de Angola, esta a ter um efeito muito mais forte do que a politica restritiva do Governo, por essa razão, o dólar encontra-se a valorizar em contra-ciclo.
Creio que o fundamental é saber se esta apreciação do dólar é sustentável no médio-longo prazo? Na minha opinião pessoal, penso que a tendência do dólar será para desvalorizar, principalmente, se o preço do crude se manter e o nível de divisas regressar a normalidade, mantendo-se a pressão restritiva da politica monetária, a tendência será para a valorização do kwanza.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Uma Estratégia Politica para a UNITA

Na sequência do último post do Pedro, gostava de analisar a situação politica da UNITA no espectro angolano. Estou de acordo com o Pedro quando afirma que a UNITA não sabe comunicar com o eleitorado, é notória, a falta de empatia entre os dirigentes da UNITA com o povo.
Em parte esta falha de comunicação pode ser explicada, pelo facto, da maior parte dos meios de comunicação social serem controlados e fiéis ao partido do poder, o que limita a exposição da UNITA ao eleitorado. Se ainda considerarmos a reduzida presença parlamentar da UNITA os efeitos negativos desta limitação farão sentir-se de uma forma exponencial.
Perante, estes graves constrangimentos, que condicionam fortemente o combate politico, que alternativas existem para a UNITA?
Creio que é fundamental que a UNITA seja capaz de protagonizar um combate politico aguerrido, de denuncia social e económica, com a apresentação de propostas alternativas e de soluções para os problemas que afligem as populações, o ponto essencial, é uma politica de proximidade, o partido necessita estar no terreno, estar junto das populações, recuperar e reconstruir a sua base de apoio social. Será determinante que o partido encontre formas alternativas de comunicar com o eleitorado, é necessário que a mensagem chegue, algo, que só será possível se a UNITA definir como prioritária uma estratégia de proximidade com o eleitor, do contacto pessoal, informal e humano. É importante, que a UNITA saiba eleger o terreno de combate, os meios de comunicação são um terreno adverso ao partido, o terreno mais favorável é do contacto pessoal, estar entre e com o povo.
Se foi com uma estratégia desta natureza que Obama conseguiu vencer nos EUA não existe nenhuma razão para que a UNITA também não possa consegui-lo em Angola.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Bipolarização do MPLA

Sempre achei absurdo negar as evidências, no espectro político angolano, o MPLA é de longe o melhor partido político. É o partido mais profissionalizado, com melhores quadros, com uma melhor agenda e com mais experiência governativa.
Não acredito de modo nenhum que alguma vez os actuais partidos da oposição algum dia possam alcançar o poder, a tendência será para serem cada vez mais partidos residuais, refiro-me, mais concretamente à UNITA porque são partidos sem experiência e que ainda não perceberam qual é a essência da politica moderna, sem mencionar a gritante ausência de quadros qualificados e da ausência de uma programática politica actual. E o mais grave, são partidos que desconhecem factores determinantes como o Marketing Politico, são partidos desactualizados, são partidos do passado.
Na minha opinião, a bipolarização politica só vai existir em Angola, quando ela acontecer dentro do próprio MPLA, este cenário poderá ocorrer quando José Eduardo dos Santos deixar o poder, principalmente, se a pessoa que o suceder não tiver a sua sabedoria na gestão das sensibilidades e do equilíbrio de forças no seio do MPLA.
Neste cenário, existirá o risco de ocorrerem cisões dentro do MPLA, principalmente, naquelas pessoas movidas por um maior protagonismo ou movidas por um desejo de realizar um projecto político alternativo resultante da sua própria insatisfação e decidam fundar um novo partido a margem do MPLA. Estou convencido que o maior risco, desta vitória democrática tão expressiva do MPLA, é a sua própria desintegração no futuro.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A Questão Monetária Angolana

Durante este ano pudemos assistir a adopção de uma politica monetária restritiva pelo Banco Nacional de Angola, cujo, objectivo deveria ter sido a estabilização das reservas e a valorização do kwanza.
Parece ser que estas medidas não tiveram os efeitos pretendidos, o kwanza não se valorizou e além disso parece que a inflação aumentou. Como explicar esta situação? É complexo.
Normalmente, as economias que adoptam regimes de câmbios fixos estão mais sujeitas a movimentos especulativos, no caso angolano, assistimos a uma economia fortemente dólarizada, onde existe uma dualidade monetária, apesar de não existir um cambio fixo explicito, as medidas de condicionamento na procura de dólares e a existência de um mercado negro, podem estimular operações especulativas, mas é preciso ter consciência que o cidadão particular não tem força para manipular o mercado, somente, as tesourarias de grandes bancos têm capacidade para promover efeitos de instabilidade na moeda.
Apesar, dos efeitos especulativos que possam existir no mercado cambial, é necessário, reflectir sobre a bondade da política monetária do Banco Nacional de Angola, será um kwanza forte conveniente?
A política monetária restritiva poderá asfixiar a concessão de crédito a economia, além de retirar liquidez, desta forma, conduzir para o acentuar da desaceleração económica do País, num cenário de crise económica e financeira internacional. As virtudes de uma politica mais restritiva deveriam fazer-se sentir, ao nível da redução da inflação, um factor importante, tendo em conta o escasso nível de rendimento disponível da generalidade da população, mas também existe uma outra virtude a considerar, uma politica mais restritiva e a consequente valorização do kwanza faz com que a divida externa, denominada em outra moeda, seja mais barata.

sábado, 12 de setembro de 2009

O Culto da Futilidade

Por vezes existe a tendência para replicar os modelos sociais de outros países para o seu próprio país, sem ter em consideração se essa replicação faz qualquer tipo de sentido. Por norma e sensatez, apenas, se deveriam replicar as melhores práticas e os melhores exemplos, porque só assim podemos ter a pretensão de poder estar entre os melhores.
Sinto muita confusão e muita dificuldade em perceber num país com as características de Angola, qual o papel social relevante pode ter a existência da imprensa cor-de-rosa. É no mínimo absurdo, pensar num país onde a grande maioria da população passa muita necessidade, possa existir alguém que pretenda desempenhar um papel empresarial relevante promovendo o culto da futilidade.
Creio que não existe pior padrão de exigência e civilizacional, do que importar o lixo social dos outros países e promover a sua assimilação como valores próprios seus.
O Amadorismo Politico da Oposição

A política é provavelmente uma das actividades mais profissionalizadas que existe neste momento em qualquer democracia, por isso, impressiona constatar o nível de amadorismo que existe na oposição angolana, nomeadamente, no maior partido da oposição.
É importante perceber qual é a nossa população eleitoral (público-alvo), identificar as suas principais necessidades e aspirações, só desta forma, é possível preparar um programa que possa dar resposta aos seus anseios, com o programa nas mãos, é necessário elaborar a mensagem a ser transmitida, com ideias fortes e claras, por fim, mas não menos importante, é necessário saber transmitir a mensagem ao eleitor.
Somente, com a compreensão das propostas politicas, é possível conquistar a confiança do eleitor e ganhar o seu voto, o problema crónico da UNITA, é o desconhecimento que tem dos eleitores, de não ter capacidade para gerar ideias, de não produzir propostas e, acima de tudo, não saber comunicar com o eleitorado.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Angola e a Crise

No início do ano fomos confrontados com um cenário económico internacional confrangedor, as expectativas dos agentes económicos foram sistematicamente ajustadas pelas projecções mais cinzentas dos organismos internacionais, Angola foi uma evidência deste facto.
O Banco Mundial começou por prever um abrandamento na actividade económica angolana, inclusivamente, chegou ao ponto de afirmar que Angola entraria em recessão. No entanto, para surpresa de muitos, ou talvez não, a última projecção económica para Angola aponta para um crescimento bem superior a média mundial.
Este crescimento é fácil de explicar, deve-se a convergência do preço do barril de crude para o seu preço natural, implicando, desta forma, um reforço do encaixe de divisas o que permite a estabilização das reservas liquidas e um aumento das receitas do Estado.
A grande virtude da crise, no caso de considerarmos que as crises são detentoras de virtudes, foi ser capaz de expor a fragilidade estrutural da economia angolana, caracterizada por uma grande volatilidade ao nível das receitas, combinado com um nível reduzido de diversificação das suas fontes de receitas, se ainda considerarmos, a grande dependência ao nível das importações, um factor quase inelástico, no caso angolano, as consequências poderiam ter sido muitas mais duras senão fosse Angola um exportador de recursos naturais. Por isso, entende-se a urgência gritante que a diversificação económica implica para Angola, além do mais, trata-se de uma urgência plenamente justificada pela própria crise.