sábado, 29 de maio de 2010

O Esquadrão da Morte

Há uns anos atrás o Brasil era notícia no mundo pelos massacres protagonizados pelos seus Esquadrões da Morte que tinham o intuito de eliminar a pequena delinquência juvenil que assolava os comerciantes das grandes metrópoles brasileiras. Essa pequena delinquência juvenil eram na sua grande maioria meninos de rua, órfãos de pais e de futuro, eram o símbolo e o expoente máximo de uma sociedade corrupta e desigual. Eram apenas o sintoma de uma doença mais profunda e cancerosa que assolava a sociedade brasileira.
Hoje muitos desses meninos de rua, subiram as favelas, procuraram refugio, converteram-se em narcotraficantes, que travam verdadeiras guerras contras as forças policiais do Estado como se fossem autênticos paramilitares.
Em Angola a existência dos Esquadrões da Morte também são uma realidade que encobertos por uma farda policial fazem justiça pelas próprias mãos eliminando todos aqueles que segundo o seu critério são considerados indesejados, uma conduta imprópria de um Estado que se pretende ser civilizado e democrático.
São apenas o reflexo de uma doença maior, uma sociedade que não promove a igual de oportunidades entre os seus cidadãos, uma sociedade desigual onde não existe uma distribuição equitativa da riqueza, uma sociedade corrupta que promove a miséria do seu semelhante.
Os Esquadrões da Morte não irão resolver nenhum problema em Angola apenas irão promover o reforço e a concentração da pequena delinquência porque sentirão a necessidade de organizar-se em núcleos mais duros e violentos para ripostar com violência a violência policial. Enquanto a roleta rola, o acaso e a arbitrariedade, ceifarão a vida de mais inocentes, que apenas lutam por ter uma vida digna e honrada. Violência apenas gera mais violência, é isso que queremos para o futuro de Angola?
Uma Nova Política

Parece que a UNITA vive um momento de indefinição em relação ao seu futuro, que resulta da sua incapacidade para perceber a insatisfação do povo angolano e encontrar um discurso político adequado. As últimas eleições demonstraram que a UNITA perdeu grande parte do seu eleitorado, ou pior do que isso, a base social da UNITA não era tão grande como se suponha ser, sendo um partido sobreavaliado no seu apoio popular.
Pode resultar um paradoxo tentar perceber como num país com tão flagrantes desigualdades sociais, o partido do governo tenha uma maioria democrática tão esmagadora, que apenas, se explica porque existe na população a percepção de que a UNITA não é uma alternativa credível.
Tal como acontece nas empresas, quando termina o ciclo de vida dos seus produtos, a empresa reinventa-se e lança novos produtos, ou então, fecha as portas e dá lugar a outras empresas.
Penso que será este o dilema que ocupa os pensamentos de Abel Chivukuvuku, refundar politicamente a UNITA ou procurar um espaço político próprio. Reposicionar a UNITA dependerá muito das forças internas, se existir uma grande resistência para a mudança, impedindo o surgimento de um projecto político ganhador e com perspectivas de crescimento político, haverá um estímulo para Abel Chivukuvuku procurar um novo projecto político.
Quando o estigma do passado é muito grande e muito presente na memória colectiva, é preferível iniciar um projecto do zero, sem sombras e sem pesos, no entanto, este caminho é o mais difícil porque depende dos apoios que conseguir reunir para encerrar a porta do passado e defrontar a maquina trituradora do MPLA na política angolana.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Baptismo do Rating

O país acabou por submeter-se ao escrutínio das agências de rating e ficou a conhecer a sua notação, um B+ que coloca Angola ao nível da Nigéria, tendo em conta o contexto africano. Um B+ não é propriamente uma boa classificação, é uma indicação de non investment grade, normalmente, designa as Junk Bonds. Creio que não seria expectável um rating melhor para Angola, principalmente, tendo em conta o horizonte sombrio da economia mundial e por se tratar de uma primeira notação.
O facto, de Angola ter um rating não significa por si só que o país tenha um acesso facilitado aos mercados financeiros internacionais, somente, que os investidores passam a ter uma referência para os prémios de risco que passam a exigir pelo seu capital. Algo, que pode não ser necessariamente bom, principalmente, para quem tem um mau rating porque a um maior risco corresponde sempre uma maior remuneração. Será interessante saber se Angola conseguirá colocar a sua divida nos mercados e a que preços.
A necessidade do rating resulta da ausência de poupança interna, ou seja, incapacidade de se endividar a longo prazo no mercado doméstico, portanto, ter necessidade de endividar-se no mercado externo, nomeadamente, em dólares. O que provoca um desajustamento da moeda e expõem o país ao risco de câmbio, principalmente, se ocorrer uma valorização do dólar que normalmente é sempre acompanhada pela desvalorização do crude.
É precisamente esta variável do crude que representa 95% das exportações angolanas e 50% do PIB angolano que conferem uma grande volatilidade a economia do país e um carácter especulativo a sua divida.
O rating é uma avaliação continua, portanto, pode ser revisto quando a conjuntura ou as condições estruturais se alteram, o que implica um maior rigor na Governação para evitar eventuais punições que uma revisão em baixa implicam, nomeadamente, aumento do custo da divida e o estrangulamento do financiamento. Não será de todo compatível situações do género, o Estado não honrar os seus pagamentos e não efectua-los dentro dos prazos estipulados, como não será compatível situações absurdas de corrupção no Banco Central que é suposto ser o supervisor e regulador do sistema financeiro, como não será compatível politicas económicas que ponham em causa o crescimento económico de uma forma sustentada ou o excessivo recurso a divida.
Creio que a maior virtude do rating será obrigar a uma governação mais rigorosa, já que a economia nacional vai encontrar-se mais monitorizada a nível internacional, sob pena, do país ser exposto as suas misérias e ser fortemente penalizado na percepção e na formulação das expectativas dos investidores sobre a nossa economia.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

As Divisas Também Voam

Hoje no Angonoticias saiu uma notícia interessante e que não constitui surpresa nenhuma para quem habita por estas latitudes. A notícia fazia menção, as divisas que são confiscadas aos passageiros no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, não constitui novidade nenhuma que existem imensos, senão mesmo a totalidade dos passageiros, que na maioria são expatriados, transportam divisas além dos limites legais permitidos, entenda-se, transportam dólares porque kwanzas não interessam a ninguém.
Quando existem entraves ao envio de remessas para o exterior, nomeadamente, o estabelecimento de limites máximos de envio, e além disso, o expatriado não tem ao seu alcance meios para enviar as suas remessas e não pretende permanecer com elas em território angolano, a forma mais simples de fintar as limitações legais é muitas vezes levar os seus dólares colados ao corpo.
Basta supor a seguinte situação empírica, se 250.000 expatriados adoptarem esta prática e cada um fizer 4 viagens de ida e volta ao seu país por ano, e em cada viagem transportar 20.000 dólares, saem do país sem controlo 20.000.000.000 dólares.
Isto ao nível do cidadão particular, agora podemos imaginar, a magnitude que este tipo de situações pode ter ao nível das multinacionais?
Por exemplo, basta pensar numa multinacional portuguesa com presença global em vários mercados, essa multinacional prepara-se para investir num projecto na Líbia, o projecto esta denominado em dólares e a empresa terá necessidade de financiar parte do projecto, portanto, terá que analisar diferentes fontes de financiamento, tendo em conta o diferencial entre taxas de cambio e das taxas de juro, poderá ser vantajoso para a empresa endividar-se em dólares em Angola para financiar o seu projecto na Líbia, ao mesmo tempo, entra no mercado de derivados em Portugal para contratar um instrumento derivado para fixar a taxa de cambio a seu favor eliminando o risco da operação, sem ninguém dar por isso, a empresa pode estar a contrair financiamento barato em Angola, sempre que os diferenciais de taxas de cambio e de juro o justificarem, para financiar projectos em outras partes do globo onde o financiamento é mais caro, e utilizando um simples produto derivado, devolve novamente moeda barata ao pais de origem do financiamento.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Existe Honestidade em Angola?

Creio que não há um dia em que não seja noticiado na imprensa nacional um caso de corrupção, o mais caricato é que depois quase nunca existem consequências. A única ilação que retiro, é que é uma coisa normal. Como se a corrupção além de estar institucionalizada também fosse genética e logo hereditária. Mas é mesmo assim? Será que não existe um único angolano honesto neste mundo?
Existir possivelmente até existem mas não são noticia e portanto não servem de exemplo para ninguém, pergunto-me, se essa omissão é voluntaria ou imposta?
Parafraseando Martin Luther King Jr, não me assusta a perversidade e a crueldade das pessoas más, mas sim o silêncio das pessoas boas, a questão é saber, se Martin Luther King diria o mesmo se fosse angolano porque possivelmente em Angola existem mais pessoas perversas do que de índole boa.
Em Angola impera a lei da sobrevivência para a generalidade da população, quando se tem fome e não se têm os meios, tudo acaba por ser permitido, só quem nunca foi confrontado pela dificuldade não poderá entender a lei do mais forte.
Para a plebe é uma questão de sobrevivência e para a aristocracia? Creio que é uma questão de ganância e soberba, uma forma de garantir os privilégios já adquiridos e manter o Status Quo. Convém sempre separar as águas, manter os pobres ainda mais pobres e os ricos ainda mais ricos. A honestidade não é compatível para quem em absoluto nada tem e para quem tudo quer.