quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma Questão de Economia

As crises são cíclicas e fazem parte da economia, quando um país entra em recessão e depois num processo de estagnação económica, isto apenas significa que o seu modelo económico está obsoleto. Muitos países tentam reinventar-se e procuram novas vantagens competitivas para conquistar novos mercados ou sobreviver nos que actuam.
Em Angola assistimos há vários anos ao discurso da diversificação económica como se de uma moda se tratasse, quando na realidade trata-se de uma necessidade. Fico chocado quando alguns responsáveis políticos justificam a diversificação económica com o argumento de melhorar e aumentar as exportações do país. É verdade que a diversificação económica permite esse desiderato mas a questão é que Angola não esta actualmente preparada para assumir esse objectivo, quem diga o contrario, mente.
A diversificação económica deverá ter como objectivo a constituição de um tecido produtivo que permita numa primeira fase promover a produção interna e a substituição progressiva das importações, é a única forma, no curto médio prazo melhorar a balança de transacções correntes, sabemos, que a balança de pagamentos forçosamente deve ter saldo zero, portanto, os deficits gerados tem que ser financiados, normalmente, pela balança financeira. Quando o Estado não tem recursos, obrigatoriamente tem que emitir divida ou pedir emprestado, por isso, não surpreende o pedido de ajuda financeira ao FMI. Por mais prestigiante que o empréstimo do FMI possa parecer e nos façam acreditar, é sempre um sinal de que a politica económica e financeira seguida pelo Governo não foi a melhor, por muito que o Ministro das Finanças e da Economia se empenhem em dizer o contrario.
Ter noção da realidade

É com muita frequência que exigimos dos nossos governantes o impossível sem ter em conta as nossas limitações, exige-se uma melhor administração pública sem que existam quadros qualificados, exigimos melhores hospitais mas não temos e nem formamos médicos adequados, exigimos uma melhor justiça e não temos juízes e nem advogados suficientes e competentes, com frequência exigimos o impossível com impaciência.
É de toda a justiça realçar o esforço realizado pelo Governo, nomeadamente, ao nível do campo escolar, inúmeras escolas foram criadas nas mais diversas vertentes, desde do infantil até a formação profissional, hoje, temos mais Universidades Públicas, temos mais cidadãos angolanos a terem acesso e a frequentar o ensino superior, o resultado não será imediato, mas estou convencido que podemos aspirar com esta nova geração a um futuro bastante melhor.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Teoria das Coincidências

Há alguns meses atrás fomos surpreendidos e ficamos consternados com o assassinato de uma deputada do MPLA juntamente com um familiar alto quadro do Serviço de Migração, hoje, somos surpreendidos com gravíssimas ilegalidades nos Serviços de Migração. Um esquema gravíssimo de usurpação e desvio de dinheiros públicos através de funcionários públicos fantasmas que constavam na folha salarial do Estado, parece patético, como não existem procedimentos de controlo na administração pública, como é possível contratar alguém que não existe?
Já nem menciono os esquemas de venda de vistos de trabalho ilegais, uma verdadeira mina de dinheiro, se pensarmos que Angola é cada vez mais um destino crescente de imigração e é um país cuja administração pública não funciona porque as leis não existem ou ninguém as compreende, se além disso, pensarmos nos elevados níveis de pobreza e de impunidade que existem na sociedade angolana, podemos entender que o controlo dos Serviços de Migração por pessoas menos escrupulosas possa supor ser um negocio bastante rentável e que justifique plenamente a eliminação dos adversários directos do caminho.
O Mito da Diversificação

Já faz algum tempo que a expressão diversificar a economia entrou no léxico de tudo o que é dirigente político em Angola, mas eu pergunto, aqueles que tanto falam em diversificação da economia angolana sabem como é que isso se faz?
Uma das condições essenciais para a diversificação económica é a existência de investimento directo estrangeiro, num momento de contracção da economia mundial, cujos efeitos se fazem notar em Angola, basta analisar este dado, o investimento nacional superou o investimento estrangeiro neste ano em curso, eu pergunto, senão houver investimento directo estrangeiro que implique a transferência de know-how como se vai fazer a diversificação económica?
Antes de falar em diversificação económica deveriam ser criadas condições para a atracção do investimento, algo que deveria ser da responsabilidade da ANIP e cujo desempenho deixa muito a desejar.
Em Angola existe um excesso de burocracia, falta de informação, uma administração pública pouco eficiente e com excesso de procedimentos, temos uma ANIP que trabalha devagar devagarinho, quando uma informação é solicitada a resposta é muito morosa ou então pouco esclarecedora. Por vezes, parece que a ANIP só funciona, se conhecermos alguém lá dentro, com tanta ineficiência e tanta moleza como é que alguém pode ser levado a serio quando fala em diversificação económica, creio que o fundamental seria primeiro organizar a casa, pela evidência dos factos há muito tempo que essa casa anda desorganizada.

sábado, 10 de outubro de 2009

A Perversão da Democracia

Questiono-me muitas vezes se um estado democrático não poderá ser mais nefasto para um país do que um estado ditatorial puro e duro, principalmente, quando os seus cidadãos não são detentores de maturidade cívica, e ainda, se encontram num estado de infantilidade.
Uma democracia implica sempre responsabilidade, no momento do voto, ter consciência das implicações de cada escolha e as suas consequências para o futuro do país e de todos os seus cidadãos. Num país onde os níveis de iliteracia são elevadíssimos, onde o acesso a informação é muito condicionada e não existe um estimulo para a reflexão e nem para o debate de ideias, a democracia poderá ser um mero exercício de manipulação das mentes humanas mais incautas para legitimar formas ditatoriais mais subtis, permitindo que os seus Governantes sejam inimputáveis pela expressividade dos resultados eleitorais obtidos e em ultima análise com a co-responsabilidade de todos os eleitores.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Reconhecimento do Erro

A Balança de Pagamentos por definição tem que ter saldo zero, por essa razão os deficits da balança de transacções correntes quando ocorrem tem que ser financiados, seja, por entradas de capital ou financiamento exterior. Foi o que aconteceu com este recente empréstimo massivo do FMI ao Governo angolano.
Há duas questões que importa colocar; a primeira, este empréstimo é motivo de satisfação para o Governo angolano?
Não, porque este empréstimo implica o reconhecimento implícito de que as politicas económicas adoptadas pelo Governo, não foram eficazes na gestão da crise económica e financeira internacional.
A segunda questão; é este empréstimo importante para a economia angolana?
Sim, porque vai permitir estabilizar a balança de pagamentos, regularizando um conjunto de pagamentos que estavam em atraso e desta forma prosseguir com o programa de reconstrução do País.
Nota final, no inicio do ano assistimos para espanto de muitos, ou talvez não, a uma queda abrupta nas reservas internacionais liquidas na ordem de 4 mil milhões de dólares, o empréstimo concedido pelo FMI é da ordem de 2 mil milhões de dólares, metade do valor, será que o valor remanescente da quebra já foi recuperado pelos novos preços a que está a ser cotado o barril do crude ou assistiremos a um novo empréstimo no futuro?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Como avaliar Angola?

Muitas vezes quando pretendemos avaliar o desempenho de um País fazemos normalmente referência ao seu PIB, nomeadamente, a sua taxa de crescimento. Mas será o PIB, o melhor indicador para avaliar um País?
Hoje, fiquei a saber que Angola cresceu nos últimos 19 anos, a uma taxa média anual de 9%, bem acima da média mundial, mas nem sempre um maior crescimento económico é sinónimo de maior bem-estar social. No entanto, sem criação de riqueza é impossível promover o bem-estar social, mas a questão que quero colocar é a seguinte, como se alcança um maior bem-estar social? Com uma melhor distribuição dos recursos? Ou com uma aplicação mais eficiente dos mesmos?
Será possível existir bem-estar social quando uma jovem angolana morre nos braços da mãe as portas da TPA porque lhe foi recusada assistência num Hospital Público? Não deveria ser a saúde um direito universal? Quantas pessoas falecem em Angola sem nunca terem tido assistência médica? Não será o acesso a Justiça também um direito universal? Alguém sabe se o Ministério Público actuou neste caso? Alguém sabe se o Tribunal vai julgar este caso? Alguém sabe quanto tempo vai demorar o julgamento?
O bem-estar social é uma necessidade colectiva, mas nem sempre é fácil de alcançar porque pode não ser do interesse de todos.