quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Circulo do Poder

O Poder não se ostenta, exerce-se. Esta seria, segundo a minha opinião, a observação que melhor definiria a pessoa de José Eduardo dos Santos, mas não apenas ele. Poderia também definir a pessoa de Manuel Vicente, enquanto, foi Presidente da Sonangol. A Petrolífera Estatal é a face do Poder Económico, Financeiro e Exterior de Angola, em certa medida, é a imagem de marca do país. Seguindo esta linha de raciocínio o Presidente da Sonangol é uma espécie de Ministro da Economia, das Finanças e das Relações Exteriores de Angola. Tamanho é o Poder. Questiono-me, se abandonar a Presidência da Sonangol para ocupar uma pasta no Executivo, no fundo, não é uma perda de Poder?
Quem tratou com Manuel Vicente, descreve-o, como uma pessoa discreta, afável e um duro negociador, um peso pesado de Angola, coincidência ou não, considero o perfil de Manuel Vicente muito parecido com o do Presidente da República. Não sei se será o Delfim de José Eduardo dos Santos, para uma possível sucessão, o Oráculo da Cidade Alta, é indecifrável, mas são, inquestionavelmente, duas almas siamesas na aparência, ambas conhecem o exercício do Poder, apenas, falta a uma, o exercício da Política para ambas se completarem. O exercício da Política é algo que Manuel Vicente desconhece, pelo menos, na esfera mais intima da oligarquia angolana, a forma, como souber interpretar esta lógica dependerá o seu destino.
Por vezes, uma excessiva proximidade ao Núcleo do Poder, a esfera mais intima, pode ser responsável pelo diluir do Poder de quem se aproxima em demasia, a história política de Angola, está repleta de ascensões e quedas meteóricas. A sabedoria com que se gere o espaço e o tempo, é fundamental, principalmente, para quem tem pretensões políticas maiores. Convenhamos, em Angola são várias as figuras com pretensões maiores.
Na essência, neste momento, não sei o que significa o novo papel de Manuel Vicente no Circulo do Poder, apenas sei, ser um pré-requisito necessário para chegar ao ponto mais alto. O facto, de se considerarem cenários de sucessão no seio do Poder, de existir uma linha de planeamento, apenas, é indiciador da maturidade política que começa a existir em Angola. Se, de facto, chegamos a maturidade política também seria positivo um exercício de reformulação ideológica ao nível dos partidos políticos. Os dogmas devem ficar no passado porque o futuro pertence-nos.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Os Impactos e o Poder: Sonangol vs Millennium BCP

A Instituição Financeira Millennium BCP acaba de conhecer uma profunda alteração na sua presidência, saí Carlos Santos Ferreira e entra Nuno Amado. Penso que o timing e a mudança eram necessárias, dado o enfraquecimento da Instituição Financeira. Como o próprio Carlos Santos Ferreira reconheceu, muita coisa foi feita para recuperar a solidez do Banco mas ainda pairava um custo/passivo reputacional sobre a Instituição. O maior pecado de Santos Fereira foi entrar numa Instituição Financeira em guerra com o peso de uma figura politizada, algo que, acabou por marcar toda a sua trajectória no Millennium BCP.
O sucessor, Nuno Amado, tem no seu Curriculum a Presidência do Totta Santander, o único dos grandes bancos portugueses a apresentar lucros. Creio que Nuno Amado não é uma figura mais omnipresente na Banca portuguesa devido à sombra de Horta Osório, por isso, considero a escolha acertada apesar da situação complexa em que vive a Banca portuguesa sobre o espectro do Euro.
É importante que o novo Presidente do Millennium BCP seja imune à influências accionistas, a prioridade é devolver ao Millennium BCP à imagem de grande Banco que perdeu nestes últimos anos, facto bem reflectido na cotação em Bolsa, é necessário que o Banco volte a ser uma máquina de fazer dinheiro, algo apenas possível se existir uma boa gestão.
Continuo a pensar que a aposta para recuperar a solidez financeira é a concentração accionista, o Banco deve ter como base grandes accionistas de referência, portanto, o caminho do reforço accionista da Sonangol no Millennium BCP parece-me correcto, no entanto, não é imune de riscos. A percepção de que é necessária uma maior concentração accionista não passa desapercebida ao próprio Banco, não creio que seja inocente o rumor que corre, que indica uma eventual entrada de um novo accionista chinês na estrutura do Banco. A cotação bolsista, o reforço de capital e a necessidade de liquidez proporcionam um ambiente propicio a uma nova entrada.
A estrutura de poder do Millennium BCP poderá dividir-se entre capital angolano e chinês, diga-se, em abono da verdade, a influência angolana já se faz sentir em todos os órgãos do Banco. É uma consequência natural, não faria sentido ser o maior accionista e não ter capacidade de influência/poder no Banco, mas este alegado poder não deve colidir com o trabalho da nova administração. A prioridade dos accionistas é velar por uma boa governação da Instituição, somente, assim poderá ter força para absorver os impactos e as incertezas futuras.
Os impactos, são os riscos de exposição da Instituição, nomeadamente, à divida grega, com uma eventual reestruturação ou um default no horizonte, as imparidades já se fizeram sentir na mais recente apresentação de Resultados do Banco, depois há que considerar uma eventual saída da Grécia do Euro e as consequências que tremendo desastre terá sobre a economia portuguesa, sobretudo, no seu sistema financeiro, entenda-se, Bancos. As perspectivas são negativas, tudo o indicia, somente, os mais fortes irão sobreviver.