terça-feira, 31 de maio de 2011

Breve Introspecção sobre a Banca e a Bolsa de Valores em Angola

Nestes últimos anos, a Banca Angolana conheceu um grande desenvolvimento, no entanto, considero que a Banca ainda é um sector em fase embrionária. Podemos constatar com facilidade, como em Angola ainda existe uma grande percentagem da população que não tem acesso a uma conta bancária, e por sua vez, do lado da Banca, também podemos constatar com facilidade, como existe um conjunto de serviços financeiros que ainda não se encontram disponíveis no mercado. Este aspecto, é relevante, porque demonstra-se empiricamente, que países com sectores bancários proporcionalmente mais pequenos são países com menores níveis de desenvolvimento. Enquanto, nos países mais desenvolvidos, demonstra-se a existência de uma elevada correlação entre o crédito bancário e o PIB per capita.
Em Angola verificamos, que o sector bancário, ainda é, proporcionalmente pequeno, e que existe uma baixa correlação entre crédito bancário e PIB per capita. Portanto, é um sector que promove de forma ineficiente a distribuição da poupança pela economia, o que implica, necessariamente, um menor desenvolvimento económico. Normalmente, os países, que conhecem um menor desenvolvimento financeiro inicial, são países, que posteriormente, conhecem menores crescimentos do PIB. Existem evidências empíricas, que demonstram, que um maior desenvolvimento financeiro induz a um maior crescimento económico.
Como considero o sector bancário angolano imaturo, não estão reunidas as condições para que o sector possa ser um propulsor do desenvolvimento económico do país. Por essa razão, estranho, a decisão das Autoridades angolanas para avançar com a criação de uma Bolsa de Valores. É um acto totalmente precipitado.
Um mercado bolsista deve sempre apoiar-se num sistema bancário maduro, uma condição que não se verifica em Angola, a criação de uma Bolsa de Valores, vai apenas expor as carências do seu sistema bancário e permitir a criação de um mercado de capitais subdesenvolvido. Pela experiência de outros países, não se deve avançar para um mercado de capitais sem um sistema bancário sólido, porque esta é uma condição prévia para um mercado de capitais desenvolvido. Se esta condição não se verificar, os mercados de capitais não vão cumprir a sua missão, portanto, os Bancos vão continuar a ser os responsáveis por identificar e financiar os projectos de investimento viáveis. O problema reside nos limites dos Bancos para absorver todos os projectos que são viáveis e na sua competência para os identificar. Se os Bancos forem ineficientes podem comprometer o crescimento da própria economia. Portanto, o prioritário, deveria ser consolidar e reforçar o sistema bancário, de forma, a ser sólido, competente e saudável.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Irmãos de Sangue

Quando oiço que alguns dos jovens que promoveram as concentrações em Luanda estão a ser perseguidos, intimidados e inclusivamente com a sua integridade física posta em causa, sinto um profundo pesar. Fico a pensar que houve um tempo em que o Irmão não era um homem livre, não podia dispor da sua vida, o seu destino era expropriado a nascença. Mas houve alguém que um dia ousou levantar a cabeça do chão e decidiu lutar. Este exemplo, inspirou outros Irmãos de Sangue, que também levantaram a cabeça do chão e decidiram lutar. Todos eles lutaram contra algo que era maior que eles, porque acreditavam que a sua luta era justa. Existe sempre justiça quando se luta pela liberdade, para ser dono do seu próprio destino na sua própria terra.
Muitos Irmãos de Sangue sacrificaram as suas vidas para que Angola pudesse ser independente, muitos mais sacrificaram as suas vidas por uma luta de poder, foi tanto o sangue derramado que todo junto permitia fazer um rio de Cabinda à Cunene. Pergunto-me, um país que não respeita a memória dos que se sacrificaram em nome da liberdade e da independência, merece ser um país? O que aconteceu a memória colectiva? Será que o esforço, o suor, a dor, o sangue e a vida destes heróis foi em vão?
Senão respeitamos os nossos mártires, a nossa historia recente, como podemos pretender construir um presente e um futuro em que todos possamos fazer parte?
Este país já deu tantos passos no sentido do futuro porque este medo de caminhar de forma definitiva para a democracia? Eu sei que é o último passo, os últimos passos são os mais difíceis porque são os mais decisivos, mas eu vos encorajo a dar esse passo, a ser uma sociedade mais justa, mais equilibrada, um exemplo, de integração e uma referência para o mundo. Chegou a hora de honrar os nossos Irmãos de Sangue, aqueles que sacrificaram as suas vidas por uma ideia, por um pais, é hora de que os nossos Irmãos de Sangue sintam orgulho naquilo que fomos capazes de construir e realizar. É hora da democracia, da construção de ideias, da liberdade de expressão em prol de uma Angola melhor. Acabemos com a intolerância e a prepotência do medo, deixemos que todos nós possamos dar o nosso contributo construtivo para uma sociedade melhor. Saibamos ouvir, reflectir e ter abertura para aceitar a critica. Não adoptemos o mesmo comportamento de intransigência fascista que levou os nossos Irmãos de Sangue a levantar a cabeça. Respeitemos e honremos a sua memória. E a única forma de fazê-lo é adoptando uma atitude democrática.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Paranóia das Redes Sociais

Foi com estranheza que assisti a forma virulenta como o executivo reagiu a uma nova realidade chamada: Redes Sociais. Achei a reacção absurda e apenas a consigo explicar porque se trata de uma realidade nova que o executivo não conhece, não domina e não consegue controlar.
As Redes Sociais permitem o exercício da Liberdade, um exercício e uma expressão, que em vários domínios da sociedade angolana se encontram coartadas. Além disso, permite fazê-lo através do conforto do anonimato, sem ser necessário assumir demasiados riscos e sem demasiada exposição pessoal.
Mas as Redes Sociais são sobretudo veículos de comunicação, que permitem divulgar mensagens e informação de forma exponenciada devido a multiplicidade de contactos que as redes permitem. Num ápice uma singela comunicação pode propagar-se e chegar a milhões de pessoas a nível global. Obviamente, esta capacidade para comunicar e estar em contacto com as mais diversas pessoas, nos mais diversos pontos do globo, desperta a atenção e a curiosidade dos potenciais utilizadores.
Portanto, toda a reacção que vai no sentido de condicionar a utilização destes meios apenas serve para potenciar o desejo de descobrir e de utilizar estas novas formas de comunicação. Existe cada vez mais, uma maior necessidade de estar em contacto, de fazer parte, adoptar uma atitude de exclusão é contra-producente.
Verificamos que estes meios são cada vez mais utilizados por partidos políticos e agentes políticos como plataformas de comunicação e de interacção com outras pessoas, porque permitem chegar a um universo vasto de pessoas de forma rápida e obter um feed-back directo das pessoas. Não é por acaso que assistimos como grandes multinacionais utilizam estes meios como uma parte integrante da sua estratégia de comunicação empresarial. É um veiculo muito eficaz se for bem utilizado porque dá a impessoalidade um carácter pessoal.
Se pensarmos na realidade angolana, quem tem acesso a estas tecnologias faz parte da classe dominante, portanto, afecta ao status quo, por isso a reacção do executivo foi tão desprovida de sentido. O lógico é aproveitar estas ferramentas e utiliza-las em seu proveito, seguir a tendência que se verifica noutras democracias, condicionar o uso destas tecnologias é passar um atestado de iliteracia informática a si próprio porque no fundo ninguém consegue controlar o que se passa na rede.