segunda-feira, 28 de junho de 2010

Angola em contra-ciclo mundial

Parece que o BNA se prepara para baixar a reserva obrigatória e possivelmente também a taxa de redesconto, o que vai implicar uma maior criação monetária via concessão do crédito. Por outro lado, se a taxa de redesconto baixar vai implicar uma redução das taxas de juro praticadas no mercado interbancário. Precisamente, o contrario, do que esta acontecer no resto do mundo, onde se prepara uma contracção da política monetária.
Curiosamente, quando a crise começou, as maiores economias mundiais adoptaram medidas expansionistas nas suas politicas monetárias e orçamentais, enquanto, Angola apostou por medidas opostas, a contracção das políticas monetárias e orçamentais.
Parece que Angola anda em contra-ciclo com o mundo, a questão, é que os problemas económicos angolanos são distintos das grandes economias mundiais e por essa razão também requerem políticas económicas distintas. No entanto, não deixa de ser incompreensível, perante, um cenário de contracção generalizada da actividade económica mundial, o país adopte politicas económicas cujo efeito final é reforçar a contracção económica, inclusivamente podem levar à recessão, e em alguns casos à estagnação.
Para terminar o artigo, gostava de referir que as reservas obrigatórias não têm por função salvaguardar os depósitos dos depositantes, as reservas obrigatórias são um instrumento que permite regular a criação da massa monetária, alem disso, é um indicador da quantidade mínima que os bancos devem ter na sua posse para as suas operações correntes, se num determinando momento, todos os depositantes se dirigissem aos bancos para levantar os seus depósitos os bancos simplesmente não teriam dinheiro disponível para entregar aos depositantes, esta corrida aos bancos pelos depositantes provocaria a falência do sistema bancário e financeiro.
Existe um instrumento de salvaguarda dos depósitos que se designa fundo de garantia bancária, um fundo formado pelos próprios bancos, no caso, de existir uma falência no sistema bancário possa ser utilizado para restituir parcialmente os depósitos aos depositantes, o reembolso do deposito é sempre parcial e nunca pela quantidade total depositada, se a quantidade depositada for superior ao limite máximo que abrange a garantia.

domingo, 27 de junho de 2010

Contradições Angolanas

Não posso deixar de comentar uma notícia que saiu no Angonoticias em que o economista, Alves da Rocha menciona que Angola pode converter-se na 5ª maior economia de África em 2014. A concretizar-se está notícia é fonte de enorme satisfação para o país e para todos os angolanos porque em teoria todos nós viveremos um pouco melhor.
Indiscutivelmente, Angola é detentora de inúmeros recursos, o potencial de negócios e fazer dinheiro é enorme, por isso, não é surpreendente o interesse dos empresários estrangeiros em investir em Angola. De facto, parece que temos um horizonte brilhante pela frente, ao ponto, de ficarmos a frente de Marrocos e da Líbia, se no futuro este cenário se verificar, Angola terá crescido imenso economicamente, mas pergunto, terá progredido?
Porque nestes países (Líbia e Marrocos), tanto em Tripoli como em Rabat, os seus Hospitais tem a capacidade de realizar transplantes, como por exemplo, do rim, e em Luanda existe algum Hospital que tenha a faculdade realizar transplantes de órgãos?
Se a simples interpretação de um ecocardiograma a 2 dimensões realizado num Hospital de Luanda têm que ser interpretado via telemedicina por um cardiologista que está nos Hospitais da Universidade de Coimbra, de que serve tanto crescimento económico se depois não existem melhores hospitais com melhores médicos e recursos técnicos?
É possível que a base do petróleo Angola um dia seja a 5ª maior economia africana mas não acredito que o país tenha evoluído nas questões principais e mais prioritárias para o desenvolvimento do país e dos anseios da sua população.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

As Multinacionais e os Mercados

Muitas vezes se questiona o porquê da presença de Multinacionais em países muito periféricos, com níveis de desenvolvimento muito baixos e com instituições de fraca qualidade, como poderia ser o caso de Angola, a resposta mais imediata é argumentar que estes países têm fortes perspectivas de crescimento económico, ou seja, o seu PIB vai crescer a ritmos elevados e rápidos.
No entanto, apesar dos elevados e rápidos ritmos de crescimento, observamos que estes países têm uma dificuldade em atrair fluxos de capital, podemos ainda observar que na estrutura dos fluxos de capital, o IDE tem um peso bastante importante. Seria de todo o interesse dos decisores económicos nacionais compreenderem porquê isso acontece e qual é o significado para os demais agentes económicos. É importante perceber se um peso excessivo do IDE no total dos fluxos de capital é um bom sinal económico?
A principal razão porque isto acontece deve-se ao facto dos mercados nesses países serem extremamente ineficientes e imperfeitos, convém lembrar que o IDE significa propriedade, portanto perante a constatação das ineficiências e imperfeições do mercado, que podem resultar da ausência de fornecedores fiáveis, fornecedores com poder de monopólio ou simplesmente mercados pouco desenvolvidos, as Multinacionais ponderam o custo entre realizar as operações internamente e o custo de confiar nos agentes económicos locais, normalmente, as Multinacionais nestes mercados pouco desenvolvidos preferem internalizar essas actividades e alargar a fronteira das suas actividades. As Multinacionais substituem-se ao próprio mercado sendo este um indicador claro da fragilidade e do subdesenvolvimento dos mercados em que estão a operar.

domingo, 20 de junho de 2010

Efeitos da Politica Monetária

A crise financeira internacional eclodiu em dois momentos, quando o barril de crude atingiu o seu máximo histórico e com a falência do Lehman Brothers. A subida galopante do preço do crude era uma boa noticia para a economia angolana, alias, muito da estratégia económica angolana passava por ser o maior exportador de crude do continente africano, portanto, a subida agressiva do preço do crude parecia ser um indicador de saúde económica para Angola, provavelmente, poucos pensaram que a crise pudesse desembarcar em Luanda.
O preço mostrou-se insustentável, Bancos de Investimento começaram a especular contra as posições de outros Bancos de Investimento, o preço do crude quebrou e caiu em flecha arrastando toda a economia mundial e por inerência o sistema financeiro.
Em Angola começavam a surgir as primeiras notícias de quebras fortes nas reservas internacionais líquidas, gerou-se o pânico e a apreensão, a fonte de receita tinha secado e o dólar parecia desvanecer.
O Governo decidiu então usar a política monetária para estabilizar a economia, aumentou a taxa de redesconto para 25% e aumentou as reservas obrigatórias para 30%, a consequência imediata, foi a contracção do crédito e a contracção da criação monetária.
O objectivo da medida seria estabilizar as reservas, com um kwanza mais forte, resultado da elevação das taxas de juros e da contracção dos agregados monetários, além disso, a medida impediria a escalada da inflação.
O efeito negativo destas medidas fez-se sentir na contracção da actividade económica, menos crédito, uma maior escassez de liquidez, houve um efeito de crowding out na economia angolana, ou seja, devido a escassez do crédito nem todos os bons projectos encontraram financiamento, portanto, financiar um bom projecto implicava sempre preterir outros bons projectos.
Não foi por acaso que assistimos no final do ano a entrada do FMI em Angola para equilibrar a balança de pagamentos, devido, as crescentes dificuldades de tesouraria do Estado angolano em honrar os seus compromissos.
A política monetária não se veio a revelar tão bem sucedida como se pretendia, mas foi possivelmente, um pré-requisito necessário para permitir um acordo com o FMI. Com o recuperar dos preços do crude parecem dissipar-se os efeitos da crise, o PIB angolano vai voltar a crescer aproximadamente 2 dígitos mas os problemas estruturais da economia angolana continuam a existir e não deixaram de ser os mesmos: uma economia pouco diversificada (o que implica um grande peso das importações) e petro-dependente.
The Little Fish

Parece que finalmente o caso BNA está esclarecido com a divulgação dos detidos, o que resulta surpreendente, é constatar que os prevaricadores na sua grande maioria são raia miúda.
Este episódio descredibiliza por completo o BNA e não tem mais impacto porque Angola não faz parte da agenda internacional. Num momento de crise internacional, onde os Estados são confrontados com os seus elevados deficits orçamentais, com os seus elevados níveis de divida pública e externa, em que os Bancos Centrais devem ser o fiel da balança da politica monetária, em Angola, temos o caso estranhíssimo em que tanto o recepcionista como o motorista andavam a desviar fundos daquele que devia ser o regulador e supervisor do sistema financeiro angolano. Com tamanha falta de controlo interno será possível confiar no BNA para cumprir as suas funções?
O que mais me espanta é pensar que todos estes delitos económicos foram feitos sem o conhecimento das hierarquias superiores do BNA, é surpreendente como um mero funcionário de base pode extorquir milhares sem que ninguém na estrutura dirigente do BNA note o desvio dos fundos.
Se um Banco Central não tem capacidade para controlar a sua própria moeda, como vai controlar os demais bancos que fazem parte do sistema financeiro? Será que alguém acredita hoje que o BNA está capacitado para gerir de forma correcta as reservas de divisas do país?