quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Ciclo Unipessoal do Poder

Na teoria económica é frequente considerar que o ciclo político pode condicionar o ciclo económico, porque existe sempre a tendência dos Governos tomarem medidas politicas mais populares quando as eleições se aproximam com o intuito de assegurar a sua reeleição. Normalmente, nesses períodos os Governos reduzem os impostos e aumentam a despesa para dar a sensação de uma maior prosperidade à população. Somente, em períodos de grande crise, parece ser quando o ciclo económico se sobrepõe ao ciclo político, exigindo medidas e reformas duras que acabam sempre por ditar o afastamento do executivo do poder pela impopularidade e pelo descontentamento que despertam nas populações.
Em Angola, vivemos numa inconstante indefinição em relação as eleições presidenciais, já se especulou com eleições em 2010, agora, especulamos com eleições em 2012, pessoalmente, acho que num país com as características de Angola, uma jovem democracia que acaba de sair de uma guerra civil, as eleições devem ser realizadas num clima de maior estabilidade possível, de forma, que o povo possa exprimir a sua vontade da forma mais serena e consciente possível, próprio de uma sociedade madura, nesse sentido, eleições num cenário próximo não me parece oportuno.
Agora, o que também não é possível, é o ciclo pessoal, de uma só pessoa, condicionar o ciclo politico e económico de todo um país, não é aceitável esta sistemática especulação e indefinição em relação as futuras eleições presidenciais, é um assunto que exige máxima ponderação e responsabilidade, quando se avança com uma data, alias, que devia ser estabelecida por lei, não se pode depois voltar atrás perante toda a opinião pública e internacional, porque estas indecisões geram incerteza e preocupação que acabam sempre por fazer danos na imagem do país. Gostaria que em Angola sobre certos assuntos existisse mais ponderação e mais responsabilidade antes de tomar determinadas decisões.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Todos querem Isabel dos Santos

Nestes últimos dias oficializou-se a entrada de Isabel dos Santos na ZON, uma empresa que resultou de uma cisão do universo da Portugal Telecom, portanto, trata-se de uma empresa recente, que se encontra cotada há pouco tempo em bolsa. A entrada na ZON faz sentido na perspectiva do portfolio de negócios da Isabel dos Santos, porque permite uma grande complementaridade nos seus principais negócios, mas além da componente estratégica, existe também a componente financeira, a ZON é a eterna Opavel da Bolsa portuguesa, convém não esquecer a tentativa fracassada da SONAECOM há alguns anos atrás.
No entanto, considero a ZON uma empresa de pouco potencial per si, é uma empresa que opera num mercado pequeno e bastante concentrado, dominado por grandes players e portanto com uma concorrência feroz. Considero que é mais vantajoso para à ZON ter uma accionista com o perfil de Isabel dos Santos, do que a Isabel dos Santos ser accionista da ZON, baseio esta afirmação em primeiro lugar porque Isabel dos Santos, é sinonimo de liquidez, um bem bastante escasso neste momento, e em segundo lugar porque Isabel dos Santos pode significar uma importante porta de entrada no mercado africano, devido, a sua esfera de influência. Sendo o negócio potencialmente mais vantajoso na perspectiva portuguesa, porque razão assistimos a investimentos maciços angolanos em Portugal? Uma economia com uma performance medíocre, caracterizada praticamente por 10 anos de estagnação económica? Esta é a pergunta que vale 1 Milhão de dólares para quem souber responder correctamente.
Creio que um dos factores que contribui para estes investimentos angolanos em Portugal deve-se ao factor segurança, apesar de Portugal, ter índices preocupantes de corrupção, é um País que esta integrado num espaço comunitário europeu, portanto, é um Estado que confere mais garantias na defesa da propriedade privada e na defesa dos interesses dos investidores. Além disso, sendo Portugal uma pequena economia aberta existem menos barreiras à entrada e num contexto de crise existem sempre oportunidades de tal forma subavaliadas pelo mercado que justificam a sua aquisição.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Uma Fusão TAAG e TAP

Guardo numa gaveta da minha secretaria o meu primeiro bilhete da TAAG com que viajei de Luanda à Lisboa, ida e volta, recordo a confusão no aeroporto, no check-in e depois no embarque, mas posso dizer que o voo decorreu com toda a normalidade, sem nenhum percalço. Uns anos depois a TAAG fez uma aposta maciça na renovação da sua frota aérea, com uma compra de vários aviões Boiengs, curiosamente, uns meses depois a empresa entrava na lista negra da UE e ficava impedida de voar para o espaço aéreo comunitário.
Uma decisão que teve consequências duras para a empresa, primeiro porque um conjunto de activos ficaram impedidos de gerar receitas, o que se reflectiu na conta de exploração, mas também na geração de cash-flows, além disso, temos que considerar, se a aquisição foi feita através de auto-financiamento a empresa incorreu num grande custo de oportunidade, porque poderia ter investido esse capital em oportunidades mais rentáveis, mas se a empresa financiou a aquisição através de divida ficou com o encargo pesado de pagar o serviço da divida e sem os respectivos cash-flows para o fazer, portanto, em qualquer dos cenários a empresa foi-se descapitalizando, uma descapitalização tanto maior quanto maior a restrição de voar.
Finalmente, a restrição foi parcialmente levantada, a empresa pode retomar os seus voos até Lisboa, se analisarmos a lista negra, a maior parte das companhias ali incluídas são do continente africano, apesar, do veto possa ser totalmente fundamentado e justificado, a consequência imediata do veto é eliminar concorrência num sector que passa por extremas dificuldades. Existem rumores de fusões, a mais recente, especula-se que a British Airways pode fundir-se com a Ibéria, uma fusão permite redução de custos, sinergias a nível operacional, um maior nível de facturação, partilha de tecnologia e de know-how. A questão que gostaria de deixar a consideração dos leitores, é a seguinte, faria sentido, uma fusão entre a TAAG e a TAP? Faz sentido, uma fusão entre empresas que só apresentam prejuízos? Qual seria o benefício de tal operação? Não seria esta fusão uma mera absorção da empresa mais pequena pela de maior dimensão para apenas ficar com o seu mercado?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um Valor Fundamental

Quando um investidor investe num activo temos de considerar algumas variáveis, que posteriormente, permitem determinar o seu perfil de investimento. Há dois factores importantes a determinar à partida, o seu horizonte temporal, que pode ser de curto prazo ou médio longo prazo, e além disso, ainda temos que determinar a sua aversão ou propensão para o risco.
Neste post gostava de me focalizar nos investidores de longo prazo, porque normalmente têm um perfil semelhante aos investidores que são responsáveis pelo investimento directo estrangeiro, pelo menos, em certos aspectos.
Mas voltando ao tema, quando um investidor decide investir num determinado activo, um dos valores fundamentais para a sua tomada de decisão, ou seja, para a selecção de activos que irá efectuar, é a estabilidade. Para um investidor de longo prazo a estabilidade é sumamente importante, temos que entender que estabilidade significa pouca volatilidade ou pouca variabilidade, para um investidor se comprometer com um activo numa perspectiva de longo prazo, é fundamental que esse investidor seja capaz de prever com alguma segurança os cash-flows futuros que esse activo irá gerar, desta forma poderá determinar com alguma segurança o preço a pagar pelo activo, bem como a rentabilidade esperada, obviamente, para determinar estas variáveis somente poderá fazê-lo se existe um padrão de estabilidade.
Ao nível dos investidores responsáveis pelo investimento directo estrangeiro a estabilidade também se assume como um valor fundamental, nomeadamente, nas vertentes politica, económica e social do país onde consideram investir, porque estes investidores têm sempre uma lógica de investimento de longo prazo.
Para Angola atrair este tipo de investidores é fundamental porque são eles que promovem a diversificação económica, nomeadamente, para economias com perfil da angolana, nesse sentido, podemos assistir em Angola a um cenário de estabilidade politica, uma transição para a paz bem conseguida, conjugado com um reforço democrático do partido politico no poder e com uma oposição que assumiu um papel responsável. A nível económico assistimos a uma derrapagem, de certa forma drástica, um crescimento do PIB nos últimos anos caracterizado por dois dígitos para um crescimento que possivelmente, segundo os dados mais recentes estará próximo de 1%, é factor de grande instabilidade e de incerteza principalmente se esta tendência de crescimento se mantiver no futuro. A nível social continuamos a assistir a grandes níveis de injustiça e desigualdade social, caracterizada pela desproporcionada distribuição da riqueza que não permite a criação de uma classe média que seja o suporte da estabilidade que qualquer sociedade necessita. Todos estes factores de instabilidade são geradores de incerteza e acabam sempre por excluir o investimento directo estrangeiro dos países que mais o necessitam.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Assalto

O Assalto é nome de um filme mas também de uma realidade muito presente do nosso quotidiano, alias, esta sexta-feira passada Luanda foi palco de mais um assalto a uma dependência bancária. É uma realidade que não é exclusiva de Angola, existe em todas as partes do mundo mas creio que este argumento não deve servir de desculpa para justificar a passividade e a inépcia das autoridades policiais no combate a delinquência.
Em Luanda existem sintomas claros de uma delinquência organizada, mas ainda com poucos níveis de sofisticação e pouco profissionalizada, que se traduz pelo pouco planeamento das suas actividades criminosas. Creio que este tipo de delinquência é muito mais perigosa do que o verdadeiro crime organizado, porque é uma delinquência muito mais arbitrária, menos selectiva onde qualquer cidadão pode ser uma vítima do azar, estar no momento e no lugar errados. É uma delinquência mais inconsciente que mais facilmente pode descambar para cenários de guerrilha urbana com a intenção de demarcar territórios e afirmar uma hierarquia de poder. Está delinquência tem mais capacidade para gerar pânico social e sentimentos de insegurança porque é uma delinquência que é capaz de matar apenas para furtar um telemóvel. Eu questiono-me como é que as autoridades vão assegurar a segurança dos nacionais mas também de todos os estrangeiros que se deslocarem a Angola para assistir a um evento como a CAN 2010?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Conviver com o Estado

Para muitos de nós o Estado é um conceito muito abstracto, apesar do Estado estar sempre presente na nossa vida. O Estado somente transforma-se em algo mais concreto quando por alguma razão o cidadão se relaciona com as suas instituições, são o rosto do Estado, que algumas vezes podem ter uma expressão simpática e outras vezes não. Geralmente, para a maioria das pessoas relacionar-se com o Estado não é nada simpático, porque o Estado é fonte de burocracia e além disso é a expressão do poder. Uma expressão da qual somente fazem parte uma minoria que é legitimada pela maioria, ou seja, o poder do Estado é uma manifestação de vontades da maioria que no fundo é exercida por uma minoria restrita, os eleitos.
Os eleitos quando não têm o sentido da virtude em vez de servir, servem-se do Estado para os seus fins pessoais, em proveito próprio mas em prejuízo da maioria. Uma maioria que legitimou uma minoria entregando-lhe o seu voto de confiança. Quando essa maioria ganha consciência que a sua Fidúcia foi traída e a sua sobrevivência foi posta em causa, as multidões rebelam-se com o fim de depor a minoria e acabar com o seu sofrimento, o Estado, no entanto subsiste porque ele é fonte de poder. O Poder é uma atracção, inclusivamente, uma aspiração humana mas que corrompe os homens porque ninguém consegue resistir aos seus apelos e ninguém é detentor de virtudes infinitas. O Homem não é capaz de viver em sociedade sem o Estado e o Estado sem o Poder não faz sentido.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Culto da Irresponsabilidade

Tenho sentido alguma estupefacção pelos últimos episódios relacionados com um suposto desvio de divisas do Banco Nacional de Angola em conluio com o Ministério das Finanças, principalmente, num momento em que o país carece de liquidez e parece estar a negociar avultados empréstimos internacionais, não entendo como é possível este rumor ser público, ter tanto suporte nos meios de comunicação e ter tão pouca reacção das entidades envolvidas.
Esta situação apenas demonstra a deficiente organização do estado, caracterizada por instituições fracas e pouco transparentes, sem independência e onde o termo incompatibilidade não existe. É totalmente inconcebível que um Banco Central possa ser fonte de uma fraude de desvios de divisas, algo que somente consigo entender pela falta de independência da instituição e uma ausência total de mecanismos de controlo interno. Não creio que seja do interesse de Angola, alimentar este tipo de situações porque são extremamente indigestas para a imagem do país e expõem perante todos as suas insuficiências, nomeadamente, ao nível da Justiça que não tem competência e nem esta capacitada para investigar situações desta natureza.