sábado, 27 de fevereiro de 2010

Campanha Reviver Luanda

Recentemente uma amizade do Facebook (Tchiyna Matos) fez-me referência a um projecto chamado Campanha Reviver que nasceu de uma união de esforços entre a associação Kalu e a Universidade Lusíada (Arquitectura), que tem por objectivo a recuperação e a preservação do património cultural e histórico da cidade de Luanda.
Pareceu-me uma ideia interessante, ainda mais, depois de ler a entrevista da Arquitecta Ângela Mingas ao jornal O Pais, não é frequente encontrar nestas latitudes pessoas com este tipo de preocupações e dispostas a dar o rosto por uma causa tão meritória.
Creio que o património de um povo é a impressão digital da sua identidade que aglomera o seu passado numa perspectiva de futuro com a faculdade de definir o seu presente, um povo sem património é um povo sem historia, sem nada para contar, sem nada para mostrar, é um povo que vagueia.
Uma identidade cultural e histórica, são valores essenciais, inclusivamente, para a actividade económica, nomeadamente, em actividades como o turismo que têm sempre uma componente cultural, histórica e religiosa, além, do lazer e do ócio. A recuperação do nosso legado cultural e histórico é um dos maiores activos intangíveis que um País pode desenvolver, ou seja, é a sua marca.
Ainda temos que considerar a fonte de trabalho que pode representar para as pequenas e médias empresas na área da construção civil, desde da arquitectura, a engenharia, a reconstrução e a remodelação de edifícios, um sector nada desprezível na geração de valor económico e de criação de emprego. Seria importante que as entidades estatais abraçassem estas causas e estimulassem o seu desenvolvimento porque elas no fundo são fontes de geração de riqueza algo que é do interesse de todos enquanto sociedade e povo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Real Estate Funds & Angola

Possivelmente, na indústria dos fundos de investimento, os mais atractivos e aliciantes, já foram os fundos imobiliários, refiro-me a eles no passado devido a crise do subprime que consumiu grande parte da sua rentabilidade.
Angola nestes últimos anos conheceu um espectacular crescimento no sector imobiliário impulsionado por diversos projectos, desde da construção de hotéis, edifícios, condomínios privados, centros comerciais e estádios de futebol.
Um fundo de investimento imobiliário é um veículo de investimento que permite o desenvolvimento de projectos e empreendimentos imobiliários. Podem ter uma natureza aberta ou fechada dependendo se as unidades de participação podem ou não ser subscritas pelo público em geral. É um instrumento que permite, quando, é aberto ser uma alternativa de poupança para os agentes económicos e com rentabilidades interessantes quando o sector imobiliário não se encontra deprimido.
A existência deste tipo de fundos na economia é sempre um sinal de modernização e sofisticação financeira, e um sinal, de atracção para os investidores externos, nomeadamente, os institucionais. Em Angola a ausência de mercados financeiros e uma legislação inadequada destes instrumentos tem lhes retirado o interesse e protagonismo que deviam ter numa economia que baseia parte do seu desenvolvimento económico na reconstrução e na criação de novas infra-estruturas.
Dentro da área do investimento é possivelmente o instrumento mais interessante para se trabalhar porque são projectos que implicam o contacto com profissionais de diversas áreas, possibilitando o enriquecimento profissional, além disso, são projectos que têm sempre uma tradução real na economia, nomeadamente, quando eles implicam a construção e desenvolvimento de novos empreendimentos de raiz.
A política de investimento destes instrumentos costumam ter basicamente duas dimensões, uma lógica de rentabilidade rápida, que consiste na construção de um empreendimento, procurar a sua valorização e promover a sua mais-valia através da venda. Ou então, uma lógica mais de longo prazo que passa pela exploração do empreendimento ou através do seu arrendamento. Nos fundos de grande dimensão normalmente estão presentes estas duas dimensões, fruto, da sua politica de diversificação.
Estou convencido que Angola ainda é um mar muito inexplorado nesta industria, apesar, do dinamismo e da vitalidade que se respira nos sectores imobiliários, fazia todo o sentido democratizar o acesso a estes fundos porque têm uma função e uma capacidade de transformação da economia bastante assinaláveis.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Angola Entrepreneur Fund

Este mês o blog tem reflectido sobre os fundos, numa perspectiva de empreendedorismo, que muitas vezes faz falta na sociedade civil. Em Angola, mais concretamente, em Luanda, além das dificuldades de obtenção de fundos para quem inicia um negócio, também existe uma outra dificuldade acrescida, encontrar instalações adequadas para desenvolver uma ideia ou um projecto empresarial.
Apesar, de não ser consensual, defendo que em países com o perfil de Angola, o Estado deve ter um papel interveniente na economia, uma vez que o sector privado ainda é frágil e muitas vezes não tem os meios ou não esta capacitado para fazer. Defendo que o Estado deve ter um papel empresarial na economia e definidor das linhas de orientação, porque se nas ditas economias desenvolvidas está mais que provado que as forças de mercado não funcionam, pergunto, como irão funcionar em mercados imaturos e carecidos de know-how?
Creio que o Estado deve ter um papel activo no fomento de novas ideias de negócio e apoiar o seu desenvolvimento, perguntarão, como?
O primeiro passo poderia passar pela criação de uma incubadora de negócios, um espaço que albergasse projectos empresariais recém-criados, nomeadamente, projectos de valor acrescentado, relacionados, com a inovação tecnológica e com a pesquisa e desenvolvimento, em intima relação com as universidades locais. Este pequeno passo poderia representar um salto importante no paradigma económico angolano, porque poderia permitir recém-licenciados desenvolverem projectos empresariais de raiz, como poderia permitir o regresso de quadros angolanos altamente qualificados ao país para prosseguirem os seus projectos de investigação numa perspectiva empresarial.
O papel estruturador pertenceria a um Entrepreneur Fund, a ser criado pelo Estado, que teria como função avaliar cada projecto relativamente ao potencial, interesse e viabilidade económica, realizar a selecção dos projectos, bem como, prestar acessória e monitorizar cada projecto, definindo as necessidades e o funding de cada um deles.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

BNA Gate

Há já alguns longos meses que assistimos a famigerada novela que envolve o Banco Nacional de Angola num suposto ilícito criminal. Tenho que confessar que resulta um pouco estranho que um Banco Central possa ser palco de apropriação indevida de fundos, a possibilidade de desvios de dinheiros públicos no Banco Nacional de Angola deveria suscitar a maior das apreensões. Porque aos olhos do mundo chega a ser anedótico que tal aconteça, é totalmente inconcebível, que o supervisor e o regulador financeiro, seja o expoente máximo na promoção da corrupção.
A situação é tanto mais grave quando existem suspeitas nos EUA de que o seu território e os seus agentes financeiros foram utilizados para o branqueamento de capitais angolanos, o que não abona em nada para o prestígio das autoridades angolanas. Talvez, os leitores estarão a pensar que os políticos não estão nada preocupados com esses pormenores sem importância, no entanto, se assim for não poderão sentir-se ofendidos quando um Bob Geldof qualquer os expõe a vergonha internacional.
Fico a pensar que condições e que competência poderá ter o Banco Nacional de Angola para gerir o Fundo Soberano que foi criado pelo Estado? Um Fundo Soberano baseia-se na acumulação excessiva de divisas, como sabemos, a gestão das reservas cambiais é da responsabilidade do Banco Nacional de Angola, pergunto-me que credibilidade terá um Banco Central onde os seus funcionários são responsáveis por desvios de fundos, para gerir um fundo desta natureza e desta importância? Qual será o País ou investidor que quererá relacionar-se com um Fundo que levanta tantas suspeições e reservas? Apesar, de todas as interrogações, até o momento não se conhece nenhum rosto envolvido e sob a alçada da justiça, o que me faz questionar, não será esta situação dos desvios no BNA uma cortina de fumo, para desviar atenções e para permitir que um instrumento como o Fundo Soberano possa ser gerido fora do controlo do Banco Nacional de Angola?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um Fundo Soberano em Angola

O termo Fundo Soberano já não é propriamente uma novidade em Angola, é um assunto que faz parte do léxico dos governantes angolanos apesar da sua concretização se pautar pela ausência. Os Fundos Soberanos são veículos de investimento dos Estados com um determinado perfil, que se caracterizam por serem exportadores de petróleo ou de recursos naturais. Estes Estados eram normalmente detentores de grandes superávites na sua conta de transacções correntes, ou seja, detinham um excesso de divisas.
O Fundo Soberano surgiu para colmatar os efeitos negativos do ciclo económico quando existe uma acentuada desvalorização do preço destas matérias-primas e para compensar o carácter finito dessas mesmas matérias-primas, através do investimento, numa primeira fase em títulos da divida pública, nomeadamente, obrigações do tesouro norte-americano, desta forma, garantia-se uma perpetuidade que permitiria uma distribuição mais equitativa do rendimento as gerações futuras e menos dependente das flutuações negativas do ciclo económico.
Estes instrumentos foram progressivamente sofrendo uma evolução, nomeadamente, na sua politica de investimento que passou a privilegiar Equity em detrimento da Divida Pública, uma evolução interessante porque permitiu assumir posições importantes em empresas estratégicas para o próprio país. Através deste tipo de investimentos selectivos seria possível incorporar um maior valor acrescentado a economia nacional através da aquisição de empresas chave para sectores estratégicos.
No entanto, devido a pouca transparência destes fundos e a natureza autocrática de muitos Estados detentores destes veículos de investimento, assistiu-se a um movimento proteccionista, especialmente, nos países ditos desenvolvidos. Portanto, para que estes fundos possam desempenhar a sua função na economia, é necessário, que as suas regras de funcionamento sejam transparentes e que estes instrumentos sejam devidamente enquadrados nas Finanças Públicas para evitar opacidade, praticas menos correctas, como por exemplo estar a criar-se um saco paralelo, ou seja, uma fonte interna de corrupção e de repudio externo.
O Fundo Soberano pode ser um instrumento virtuoso com a faculdade de estruturar sectores económicos de um país, promover a criação de tecidos empresariais e a sua modernização, mas para que isso seja possível, a sua gestão terá que ser de máximo rigor e de máxima transparência, caso contrario, será apenas mais um foco para estimular e incentivar o comportamento déspota dos gestores. Seria fundamental que a nova retórica governamental, baseada, no axioma da tolerância zero se aplique em toda a sua linha quando este instrumento for uma realidade.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Venture Capital & Private Equity and Angola

Em muitos países o empreendedorismo tem um papel preponderante na economia, principalmente, como um estímulo da iniciativa privada. Para quem inicia uma actividade empresarial a primeira dificuldade que encontra é a disponibilidade de fundos, ou seja, a obtenção de financiamento. Em Angola essa dificuldade também se faz sentir, apesar, do mercado bancário angolano ser considerado um dos maiores do continente africano, em parte esta dificuldade explica os baixos níveis de iniciativa privada verificados em Angola.
O empreendedorismo tem um papel muito importante nas economias porque é um veículo de criação de emprego, de uma forma geral, grande parte do emprego é gerado por pequenas e médias empresas.
É neste contexto que o Venture Capital pode ter um papel fundamental porque é um instrumento que esta vocacionado para investir em projectos empresariais na sua fase inicial, dotando-os do capital necessário, inclusivamente, fazendo parte da sua gestão. O principal objectivo do Venture Capital é investir em projectos de rápido crescimento e de alta rentabilidade, portanto, de elevado potencial económico e sair quando atingida a maturidade.
Sendo Angola umas das economias com mais potencial de crescimento no continente africano porque razão o país se caracteriza pela ausência destes instrumentos que podiam ter um efeito virtuoso na economia angolana fomentando a modernização e o empreendedorismo nacional? Porque razão Angola não consegue atrair Venture Capital e Private Equity Funds?
Da minha experiência na tentativa de implementação de um Fundo desta natureza em Angola, notei uma grande resistência e desconfiança dos agentes locais em relação a tudo o que supõem ser inovação financeira, depois existem problemas de natureza jurídica, nomeadamente, no que diz respeito ao exercício das garantias de propriedade privada, a falta de quadros qualificados para abraçar os projectos, o volume reduzido das propostas de investimento e naturalmente a ausência de mercados financeiros. Ainda temos que considerar a relutância deste tipo de investidores em investir em países excessivamente burocratizados e com elevados índices de corrupção, que afastam por completo estes investidores.