quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Sistema Bancário Angolano

Hoje, tive a oportunidade de recordar um estudo da KPMG, creio de 2009, que apontava Angola, como o terceiro maior mercado bancário da África-subsariana. Acredito que possa ser perfeitamente verdade, não fiquei surpreso. No entanto, quando penso na dimensão do Sistema Bancário Angolano em Angola, sou obrigado a pensar, que não detém uma dimensão demasiado relevante. A cobertura bancária pelo território nacional, ainda é bastante deficitária, além disso, não acredito que, a generalidade, do Sistema Bancário Angolano detenha uma carteira de activos demasiado elevada.
O Sistema Bancário Angolano encontra-se concentrado nos grandes centros urbanos, nomeadamente, em Luanda. Apesar, de considerar o Sistema Bancário pouco expressivo, ele é extremamente concorrencial, porque para a dimensão que possui, existe um excesso de oferta bancária. Há Bancos a mais.
A concorrência, é extremamente forte, os Bancos Portugueses têm um papel de destaque, principalmente, porque partem de uma base muito maior e são detentores de um know-how melhor. Mas o mercado é feroz, os Bancos Angolanos batem-se bem.
Os Angolanos que preveligiam uma oferta mais diversificada de produtos e um atendimento mais especializado, tendencialmente, procuram Bancos Portugueses, normalmente pertencem a classes sociais mais elevadas, enquanto, os Angolanos animados por um maior sentimento de Angolanidade procuram os Bancos Nacionais. Creio que não existe nada de anormal, neste facto, é apenas o mercado a funcionar.
No entanto, não posso deixar de constatar uma falta de sofisticação no mercado Bancário Angolano, nomeadamente, ao nível das empresas. Existe um conjunto de serviços financeiros que não estão disponíveis para as empresas Angolanas porque simplesmente não existem, algo que, condiciona a gestão da tesouraria das empresas. É um mercado ainda imaturo, como já foi referido neste espaço, e sem um mercado Bancário forte, não é possível ter uma Bolsa de Valores credivel, por muita vontade e pensamento positivo que possam existir na classe dirigente.
Existe ainda um outro factor no Sistema Bancário Angolano, que é motivo de preocupação, a existência ou não, de sistemas de avaliação de riscos e a sua validade. É um detalhe muito importante, principalmente, em Angola, pela forma como funciona a sua economia em certos sentidos. Quantas vezes, já não aconteceu, o financiamento para um projecto ser recusado porque não é considerado viável, e depois os promotores do projecto recorrem ao sistema, para o mesmo Banco que recusou o projecto, acabar por conceder o financiamento solicitado? Nem menciono, o desgraçado que ousou chumbar o projecto à ilustre figura. Mas seria interessante conhecer os níveis de morosidade e a magnitude dos incobráveis do Sector Bancário Angolano (refiro-me aos reais). Não foi há muito tempo que a imprensa angolana dava a notícia que dois empresários angolanos no seu conjunto deviam mais de US$ 300 milhões à Banca Angolana. O mais deplorável da situação, parece que um dos empresários, escreveu uma carta a um Alto-Dirigente do MPLA para interceder junto do Banco, por sinal público, onde tinha contraído a dívida, para provavelmente, obter, uma Amnistia Financeira, a custa do contribuinte Angolano.
São precisamente este tipo de situações que dão Má Imagem e Fama ao MPLA, e depois alimentam as especulações de corrupção e de tráfico de influências. Situações desta natureza deveriam ser veemente repudiadas pelo próprio partido, porque são questões centrais da sociedade angolana e com as quais se defronta no seu dia-a-dia. Os responsáveis políticos que governam o país, não deveriam esquecer em nenhuma circunstância a seguinte máxima: A mulher de César não basta ser séria, tem que parecê-lo.
No meu entendimento, num futuro próximo, esta forma de funcionar, pode revelar-se problemática, todos sabemos que a base do crescimento económico em Angola é o petróleo, mas também temos assistido a um Boom no Imobiliário, questiono-me, será que todos os Bancos Angolanos foram prudentes na concessão de créditos? Quando a Borbulha do Imobiliário estoirar em Angola, não iremos assistir a uma catadupa de falências no sector Bancário Angolano? Poderemos, sempre fazer de conta que não faliram e conviver com zombies bancários.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

BIC Portugal: A Arte do Bom Negócio

Ainda não são conhecidos todos os pormenores da venda do BPN ao BIC Portugal, provavelmente, nem nunca serão conhecidos. No entanto, com os dados já disponíveis, é possível chegar a uma conclusão, o BIC Portugal, fez aparentemente um excelente negócio. Porém, este negócio detém as suas subtilezas, merecedoras de reflexão, se o BIC Portugal pretender, que esta operação seja um sucesso total.
O BIC Portugal tinha uma base operacional reduzida em Portugal, basicamente, o seu objectivo estratégico era ser uma plataforma para os empresários portugueses que pretendiam investir em Angola e ser também uma plataforma para os empresários angolanos que pretendiam investir em Portugal. O Banco em Portugal tinha uma dimensão que poderíamos considerar inexpressiva.
Com esta aquisição do BPN, o cenário alterou-se substancialmente, apesar, da operação não conferir um estatuto de um grande banco em Portugal, permite ao BIC Portugal dar um salto apreciável, porque incorpora a rede comercial, ou seja, entra no retalho, mas também o centro de empresas do BPN. Além disso, com uma particularidade importante, sem ficar sobredimensionado para a actual realidade económica de Portugal, que como sabemos, é extremamente difícil. Será um grande desafio para esta Administração fazer esta operação rentável.
Penso que é precisamente na questão da rentabilidade do Banco que residem as grandes subtilezas desta operação. Senão vejamos, o BPN foi nacionalizado, o custo da nacionalização está estimado em 2,4 mil milhões de euros, consta que o Banco foi ou tem que ser recapitalizado em 500 milhões de euros. O custo total da nacionalização para o erário público português, de forma grosseira, estima-se em 3 mil milhões de euros. Convém ter presente que os 2,4 mil milhões de euros são imparidades que foram transferidos para 3 veículos públicos, cuja missão, impossível, é inverter as imparidades. Se formos realistas quem vai pagar os 3 mil milhões de euros são os contribuintes portugueses. É notório que a nacionalização do BPN conduziu a socialização dos prejuízos. Do outro lado, da balança, temos o BIC Portugal, que apenas por 40 milhões de euros comprou um conjunto de activos tangíveis e intangíveis (capital humano) do BPN. Diga-se de passagem com um enorme desconto. O BIC Portugal soube aproveitar a oportunidade e o momento.
No entanto, existe aqui uma enorme desproporção, é precisamente, nesta desproporção, que reside o ponto crítico do negócio, esta desproporção pode dar origem na sociedade portuguesa a um sentimento de enorme aversão em relação ao BIC Portugal, porque o cidadão comum pode pensar, o BIC Portugal fez o seu negócio da china a custa do contribuinte português. No entanto, o BIC Portugal não tem responsabilidade nenhuma, nem na nacionalização do BPN, nem no erro tremendo que se veio a revelar. Por isso, o fundamental neste negócio, será diluir a imagem, a marca, a existência do BPN da memória dos portugueses, como se a marca BPN nunca tivesse existido, quanto mais depressa desaparecer, melhor para o BIC Portugal. No entanto, uma factura de 3 mil milhões de euros custa a pagar e é muito difícil de ser esquecida.