segunda-feira, 23 de maio de 2011

Irmãos de Sangue

Quando oiço que alguns dos jovens que promoveram as concentrações em Luanda estão a ser perseguidos, intimidados e inclusivamente com a sua integridade física posta em causa, sinto um profundo pesar. Fico a pensar que houve um tempo em que o Irmão não era um homem livre, não podia dispor da sua vida, o seu destino era expropriado a nascença. Mas houve alguém que um dia ousou levantar a cabeça do chão e decidiu lutar. Este exemplo, inspirou outros Irmãos de Sangue, que também levantaram a cabeça do chão e decidiram lutar. Todos eles lutaram contra algo que era maior que eles, porque acreditavam que a sua luta era justa. Existe sempre justiça quando se luta pela liberdade, para ser dono do seu próprio destino na sua própria terra.
Muitos Irmãos de Sangue sacrificaram as suas vidas para que Angola pudesse ser independente, muitos mais sacrificaram as suas vidas por uma luta de poder, foi tanto o sangue derramado que todo junto permitia fazer um rio de Cabinda à Cunene. Pergunto-me, um país que não respeita a memória dos que se sacrificaram em nome da liberdade e da independência, merece ser um país? O que aconteceu a memória colectiva? Será que o esforço, o suor, a dor, o sangue e a vida destes heróis foi em vão?
Senão respeitamos os nossos mártires, a nossa historia recente, como podemos pretender construir um presente e um futuro em que todos possamos fazer parte?
Este país já deu tantos passos no sentido do futuro porque este medo de caminhar de forma definitiva para a democracia? Eu sei que é o último passo, os últimos passos são os mais difíceis porque são os mais decisivos, mas eu vos encorajo a dar esse passo, a ser uma sociedade mais justa, mais equilibrada, um exemplo, de integração e uma referência para o mundo. Chegou a hora de honrar os nossos Irmãos de Sangue, aqueles que sacrificaram as suas vidas por uma ideia, por um pais, é hora de que os nossos Irmãos de Sangue sintam orgulho naquilo que fomos capazes de construir e realizar. É hora da democracia, da construção de ideias, da liberdade de expressão em prol de uma Angola melhor. Acabemos com a intolerância e a prepotência do medo, deixemos que todos nós possamos dar o nosso contributo construtivo para uma sociedade melhor. Saibamos ouvir, reflectir e ter abertura para aceitar a critica. Não adoptemos o mesmo comportamento de intransigência fascista que levou os nossos Irmãos de Sangue a levantar a cabeça. Respeitemos e honremos a sua memória. E a única forma de fazê-lo é adoptando uma atitude democrática.