sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Nomeação de George Chicoti

A nomeação de George Chicoti constituiu uma surpresa, é possível que em certos sectores do MPLA possa ter gerado um certo desconforto, no entanto, a escolha de José Eduardo dos Santos foi uma decisão inteligente. Passo a enumerar algumas razões para sustentar a minha afirmação:
1. Esta nomeação dá um claro sinal de abertura do Governo porque George Chicoti não pertence a génese do MPLA;
2. A nomeação não foi feita com base na profunda nomenclatura do MPLA mas baseia-se em critérios de experiência e competência (Chicoti foi Vice-Ministro das Relações Exteriores e é referenciado como pessoa competente);
3. A nomeação de um dissidente da UNITA pressupõem sempre um duro golpe para o principal partido da oposição;
4. Por fim, esta nomeação permite ao MPLA criar a imagem de ser o único partido em Angola com capacidade para congregar e integrar todos os Angolanos.
No meu entendimento, esta nomeação, implica um risco mínimo para José Eduardo dos Santos mas uma exigência máxima para George Chicoti porque se o mandato correr bem, o Presidente da República pode presumir que o seu Governo é suficientemente dinâmico e flexível para que um quadro não formado no MPLA possa ter êxito, se a experiência correr mal, é sempre possível estigmatizar o falhanço devido ao seu passado na UNITA.
Penso que é do interesse de todos que George Chicoti tenha sucesso à frente do seu Ministério, o primeiro problema delicado a ser resolvido, é a embaraçosa situação da embaixada em Washington, será fundamental compreender o problema e tomar decisões com base na transparência, é uma questão de credibilidade diplomática para Angola.
As teorias da reciprocidade são coisas do passado, próprias de Estados anacrónicos, em nenhuma circunstância se deveriam ponderar, principalmente, contra a maior potência mundial, o país com mais peso nas mais importantes Instituições e Organismos Internacionais, seria um suicídio diplomático, basta analisar o conteúdo dos documentos filtrados pelo Wikileaks durante estes últimos anos, para ter noção de como os Estados Unidos fazem diplomacia e encaram as questões de política geoestratégica, não é nada conveniente ter atritos diplomáticos com os norte-americanos.
Angola necessita de uma diplomacia positiva baseada em alianças estratégicas com outros países parceiros porque o país já é demasiado castigado pelo estigma da corrupção que permanentemente paira quando são divulgados os rankings internacionais sobre esta matéria. Necessitamos de uma diplomacia competente que transmita a imagem de um país em progresso e que pretende ser um actor essencial na sua área de influência. Precisamos fundamentalmente de uma diplomacia geradora de consensos, esse deve ser o papel de Angola, ser um pilar de equilíbrio no continente africano, isto apenas se consegue com uma diplomacia séria, credível e susceptível de transmitir confiança. Estes serão os grandes desafios de Angola e agora em particular de George Chicoti, será que vão ser alcançados?