sábado, 11 de dezembro de 2010

Erros de Governação do MPLA

Recentemente, li no Jornal de Negócios, que a Comissão Europeia dava a conhecer que Angola deve 9 Mil Milhões de dólares às empresas comunitárias, especialmente dos sectores da construção civil, montantes relativos à 2008 e 2009. Segundo o Comissário Europeu, Andris Piebalgs, o valor de 9 Mil Milhões de dólares, deu origem em 2009 a um deficit recorde de 8,6% do PIB, contribuindo decisivamente para o abrandamento da economia em 2010 para cerca de 4,5% contra a previsão inicial de 9,7%.
O Comissário Europeu vai ainda mais longe, afirmando, que estes atrasos funcionam como um travão para o crescimento da economia e diminuem a confiança das empresas na capacidade do Governo de cumprir as suas obrigações de pagamento.
O argumento do Comissário Europeu é válido, como já referimos inúmeras vezes aqui neste espaço, Angola em muitos sentidos sofre de um problema de crescimento rápido, um problema muito comum em muitas empresas que se encontram na mesma fase do ciclo de crescimento, e que por inaptidão dos seus gestores não são capazes gerir essa fase do ciclo de crescimento rápido, normalmente, o que acontece, é que o esforço que a empresa faz para aumentar as suas vendas não é acompanhado pelo esforço ao nível dos seus fornecedores, o que implica um aumento das suas necessidades de fundo de maneio, quando elas estão mal planeadas ou não previstas, normalmente, acontece uma ruptura na tesouraria, ou seja, existe falta de liquidez.
A consequência é que os fornecedores ficam mais receosos, reduzem o nível de crédito concedido, exigem o pagamento a pronto, ou então, suspendem o fornecimento. O que implica uma paralisação na actividade económica. Numa política saudável de cash-management tenta-se sempre pagar o mais tarde possível e receber o mais atempadamente possível, de forma, a maximizar o auto-financiamento espontâneo, mas sempre dentro de limites aceitáveis, que não comprometam a imagem e o bom funcionamento da empresa.
Creio que a economia angolana está a passar por um processo semelhante, mas com uma única diferença, está a financiar-se em demasia à custa dos seus fornecedores, de tal forma, que já se notam repercussões na sua actividade económica, com efeitos directos na performance do PIB.
É perfeitamente legitimo que os empresários ou investidores ajustem as suas expectativas, sejam mais prudentes e reduzam a sua exposição ao mercado angolano.
Quando ocorre uma ruptura de liquidez, o primeiro passo é procurar uma linha de financiamento, algo que Angola fez, recorrendo ao FMI para equilibrar a sua Balança de Pagamentos. Se as fontes de financiamento secarem, o passo seguinte será alienar os activos mais valiosos e líquidos do país. Ou então incorrer em incumprimento e assumir todas as consequências que possam advir deste facto.
Na minha opinião, Angola incorre ainda num outro risco, que chamaria de risco de rating, o país expôs-se ao escrutínio do rating na altura menos propicia (em plena crise financeira internacional) e ainda por cima expôs-se ao rating sabendo que em nenhuma circunstância obteria um bom rating. Não respeitou uma máxima dos mercados, apenas, se deve submeter ao escrutínio do rating, quem tiver a convicção absoluta de que vai obter um bom rating, caso contrário, é preferível não submeter-se ao rating.
Angola submeteu-se ao rating com a intenção de emitir dívida soberana para os mercados internacionais, mas com a crise da dívida soberana europeia os mercados ficaram fechados, se pensarmos que activos com a classificação de A atingem yields na casa dos 7 a 11%, quanto será expectável obter por um activo angolano de classe B+?
Pois o natural é esperar um preço demasiado baixo, o que se reflecte numa yield basta elevada, aliás, proibitiva para qualquer emissor, porque tanto o emissor como o investidor sabem que o Estado não vai conseguir pagar e honrar o seu compromisso, portanto, a dívida soberana não terá procura, por isso, não surpreende que a primeira emissão de dívida angolana tenha sido adiada.
Em circunstâncias normais, perante, as noticias de atrasos na regularização das dívidas angolanas, o normal, teria sido as agências de rating reverem a notação de Angola em baixa, dificultando ainda mais o acesso do país aos mercados financeiros internacionais.
A percepção do rating da República de Angola pode ainda ter efeitos mais perniciosos porque permite uma percepção mais clara para os investidores do real risco da economia angolana, portanto, se a economia tem um maior grau de risco será natural que os investidores exijam maiores prémios de risco, o que tem implicações nas taxas de desconto com que avaliam os seus projectos de investimento, portanto, muitos investimentos que a partida poderiam ser viáveis, poderão simplesmente deixar do ser, porque os investidores exigem taxas de remuneração mais elevadas e portanto uma maior capacidade na geração de cash-flows.
A consequência é bastante gravosa e penalizadora para a economia angolana porque vai dificultar a atracção de Investimento Directo Estrangeiro para o país, cuja consequência imediata é amputar as possibilidades de diversificação económica do país. Por isso, não estranha observar a fuga de capitais angolanos com destino à Portugal, nomeadamente, no reforço das suas participações nos bancos portugueses, algo que pode ser interpretado, como um claro sinal de que a classe empresarial angolana deixou de acreditar na economia do seu país.