sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os Riscos do Contágio Egípcio

O Egipto está a ser palco de uma revolução política com milhares de egípcios mobilizados na principal praça do Cairo, com o firme propósito de exigir a demissão do Presidente Mubarak. É interessante, verificar a força e o papel mobilizador que as novas tecnologias podem ter, nomeadamente, as redes sociais (Facebook e Twitter), ao ponto, do Governo ter caído na tentação de silenciar as mesmas, restringindo o acesso à internet no país, uma medida que apenas teve efeitos contrários.
É importante perceber o que está a acontecer no Egipto, os primeiros indícios para compreender este fenómeno podem ser obtidos nas declarações dos expatriados que abandonam o país, eles referem que o nível de vida do país é muito baixo, os salários são muito reduzidos, o desemprego é muito elevado, o custo de vida é muito caro e com muita frequência faltam bens essenciais nas prateleiras dos supermercados.
Numa análise mais aprofundada, nota-se, que a revolução tem como protagonistas, pessoas jovens, a maioria, são licenciados e desempregados, sem qualquer perspectiva de futuro, uma massa humana injustiçada porque sente como todas as oportunidades são negadas. Existe uma percepção que o país tem um potencial de riqueza que resulta do facto de ser um produtor de crude, mas principalmente, por controlar o Canal de Suez. No entanto, não existe uma distribuição equitativa da riqueza, que se encontra concentrada numa reduzida elite e que funciona sob a protecção de monopólios.
Perante, este cenário de fundo, é possível estabelecer muitos paralelismos entre a realidade egípcia e a angolana, mas existe um risco de contágio em Angola?
Possivelmente, neste momento ainda não, mas se as assimetrias sociais se mantiverem ou se acentuarem, não seria surpreendente, assistir em Angola num futuro próximo a episódios semelhantes. O país reúne um conjunto de desequilíbrios que podem propiciar fenómenos desta natureza. Analisando a conjuntura internacional, verificamos uma subida sustentada do preço dos bens alimentares, seja, por restrição da oferta, pressão da procura ou simplesmente por motivos de especulação. Portanto, Angola não possui auto-suficiência alimentar, depende das importações, se o preço das importações aumenta, o país estará inevitavelmente a importar inflação. Sabemos que o rendimento disponível das famílias é muito escasso, portanto, com uma elevada propensão para o consumo (não há margem para a poupança), além disso, o orçamento familiar é rígido, sem margem para compensar a elevação dos preços, portanto, uma maior inflação implica sempre perda de poder de compra e asfixia das famílias. Neste sentido, o objectivo macroeconómico de controlo da inflação estipulado pelo Governo foi uma opção acertada, a questão, será verificar se as políticas económicas adoptadas atingiram os objectivos pretendidos.
Verificamos também que houve uma grande aposta do Governo para aumentar a oferta de Ensino Superior com o intuito de criar capital humano mais qualificado, penso que o fundamental, será ajustar a oferta do Ensino as necessidades do mercado de trabalho, nomeadamente, das empresas. Não faz sentido apostar em capital humano que não possa ser absorvido pela economia, os custos sociais são nefastos porque é investir num contingente humano que vai ser desperdiçado e que tem plena consciência do seu desperdício. Esta consciência do desperdício, da negação da oportunidade, conjuntamente com a percepção do potencial de riqueza do país e a sua excessiva concentração em determinadas pessoas ou grupos, acabam sempre por despertar sentimentos de injustiça, de insatisfação e de ira.
Considero fundamental o desenvolvimento do sector da agricultura e de todos os sectores que estão associados, não só para permitir uma redução da dependência exterior mas também como uma fonte de geração de riqueza e emprego. As políticas de educação e formação têm que estar intimamente vocacionadas para a empregabilidade, produzir excedentes de capital humano que não podem ser absorvidos pela economia é plantar os princípios da discórdia social.