segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Incomodidade Lusófona Portuguesa

Esta semana Luanda recebe uma comitiva liderada pelo Dr. Cavaco Silva acompanhada por vários empresários no âmbito da nova presidência da CPLP que Angola vai passar a presidir. Questiono-me qual é a verdadeira intenção da visita do Presidente da República portuguesa, será efectivamente, discutir e reflectir o espaço estratégico que uma comunidade de 250 Milhões de pessoas que partilham a mesma língua, o português, deve ter ou o propósito da sua visita é apenas resolver os pagamentos em atraso do Estado angolano as empresas portuguesas?
Porque razão na comitiva portuguesa apenas há empresários e não se encontram pessoas ligadas à cultura?
A mim pessoalmente chateia-me este pedinchar português, porque Angola honra os seus compromissos sempre e quando os outros honrem os seus compromissos com Angola. Além disso, parece-me redutor reduzir a comunidade lusófona a uma mera perspectiva económica, porque a lusofonia deve ser encarada como algo mais do que uma simples conjectura de oportunidades de negócio.
Se pretendermos ter uma lusofonia forte e firme com base na língua portuguesa, creio que o primeiro foco a ser estimulado devia ser precisamente o lado do ensino da língua portuguesa e o lado cultural, por exemplo, uma forte aposta na produção literária em língua portuguesa, acompanhada pela produção cinematográfica e pelas artes plásticas. Creio que são estes os elos diferenciadores e identificadores de uma comunidade, no verdadeiro sentido da palavra, caso contrário, será apenas uma comunidade baseada nos interesses e nas vantagens de circunstância.
Parece-me que o país que melhor tem percebido esta faceta tem sido o Brasil, um verdadeiro pólo animador da lusofonia, não só porque vai ser uma economia líder a nível mundial mas também porque é um foco de inovação e produção cultural baseada na literatura, cinema, teatro e artes plásticas. Um conjunto de dimensões que conferem outro significado a comunidade e uma maior elevação da lusofonia, enquanto a posição portuguesa é sempre redutora.