terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As Duas Faces da Moeda

O processo de Independência de Angola coincide com a ascensão do MPLA ao trono do país, convém notar, que o MPLA era um partido com um axioma ideológico profundamente marcado pelo marxismo-leninismo, a tal facto, não é alheio a influência cubana e soviética que se fizeram sentir em solo angolano.
A ideia original era converter Angola num Estado Socialista, na mais dura acepção do termo, com um Estado Centralizador e uma economia totalmente planificada. O período pós-independência não foi fácil, marcado por uma guerra civil intensa que devastou o país e que incutiu uma cultura Estatal fortemente repressora e militarizada.
Durante o decurso da guerra civil pudemos assistir a queda do muro de Berlim, ao fim do regime soviético, a progressiva transição das economias comunistas para economias de mercado, muitas delas sob a forma de economias mistas, onde existe convivência entre o público e o privado. Talvez, o mais correcto seria designar este processo de abertura, de Capitalismo de Estado, um fenómeno, a que Angola não ficou alheio.
O grande rosto do Capitalismo de Estado em Angola, chama-se, Sonangol, a empresa petrolífera estatal, a sua influência é tão intensa e expressiva, que muitos analistas a consideram como um verdadeiro Fundo Soberano. De facto, a Sonangol tem muita força financeira, é um instrumento primordial da política económica angolana, no entanto, considero que muito mal utilizado, principalmente, considerando o perfil de Angola.
O país necessita de investimento produtivo, para diversificar a sua economia e reduzir a sua dependência exterior, no entanto, tal não se verifica, porque a grande obsessão da Sonangol é investir na banca, nomeadamente, no Millennium BCP, uma aposta que se tem revelado ruinosa para os interesses da empresa e supérflua para os interesses do país. Se o capital dessa aplicação tivesse sido direccionado para outro tipo de investimento, nomeadamente, para sectores produtivos que permitam um efeito de substituição das importações e a recuperação de sectores com potencial exportador, o efeito final, na economia angolana teria sido mais benéfico para o país. Não deixa de ser caricato, ver um país tão carenciado, ser tão obcecado por possuir participações financeiras em bancos. É verdade, que a Sonangol não pode substituir o mercado nem os demais agentes económicos, mas no caso angolano, creio que não será exagero afirmar que a Sonangol é o próprio mercado.
Mercado, economia de mercado, é a outra face da moeda, um conceito que foi ganhando espaço em Angola, com a abertura e a liberalização da economia, onde o expoente máximo da iniciativa privada se encontra tipificado no rosto de Isabel dos Santos, aliás, de uma forma geral, todos os grandes grupos privados angolanos estão intimamente conotados com o circulo do poder, por isso, não estranha observar que a maioria dos negócios privados desenvolvem-se sob a protecção de grandes monopólios e são detentores de enormes barreiras de entrada. O que explica, em parte, a grande falta de competitividade da economia angolana, por sua vez, o deficit de competitividade, é o detonante da grande obsessão dos investidores privados, que tal como o Estado, vivem obcecados com o negócio bancário, preterindo, o investimento produtivo. Por isso, não é estranho, verificar o sistemático reforço da posição de Isabel dos Santos no Banco BPI, porque em essência os investimentos financeiros proporcionam lucros mais rápidos do que os investimentos produtivos, sendo a lógica do investidor privado a maximização do lucro, justifica-se.
O problema é o vazio que estas opções provocam na economia angolana, uma ausência total de investimento estruturante e a descapitalização da economia. Penso que seria mais útil que o dito Fundo Soberano, estivesse mais focalizado em desenvolver os sectores com maior potencial produtivo, estimulando parcerias e fomentando a iniciativa privada. Seria de toda a utilidade capitalizar a imagem de Isabel dos Santos a favor de Angola, constituindo uma marca do país, que se caracteriza por uma Angola jovem, dinâmica e empreendedora. Será de vital importância incutir uma cultura empresarial e empreendedora no país, facilitando o surgimento de novos empreendedores e mais projectos empresariais. É fundamental que este processo de desenvolvimento e de diferenciação da iniciativa privada, não seja, enviesado pelos contactos privilegiados que certos agentes privados possam ter no seio do poder, é primordial, que a livre iniciativa seja caracterizada pela igualdade de oportunidades.