segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Baptismo do Rating

O país acabou por submeter-se ao escrutínio das agências de rating e ficou a conhecer a sua notação, um B+ que coloca Angola ao nível da Nigéria, tendo em conta o contexto africano. Um B+ não é propriamente uma boa classificação, é uma indicação de non investment grade, normalmente, designa as Junk Bonds. Creio que não seria expectável um rating melhor para Angola, principalmente, tendo em conta o horizonte sombrio da economia mundial e por se tratar de uma primeira notação.
O facto, de Angola ter um rating não significa por si só que o país tenha um acesso facilitado aos mercados financeiros internacionais, somente, que os investidores passam a ter uma referência para os prémios de risco que passam a exigir pelo seu capital. Algo, que pode não ser necessariamente bom, principalmente, para quem tem um mau rating porque a um maior risco corresponde sempre uma maior remuneração. Será interessante saber se Angola conseguirá colocar a sua divida nos mercados e a que preços.
A necessidade do rating resulta da ausência de poupança interna, ou seja, incapacidade de se endividar a longo prazo no mercado doméstico, portanto, ter necessidade de endividar-se no mercado externo, nomeadamente, em dólares. O que provoca um desajustamento da moeda e expõem o país ao risco de câmbio, principalmente, se ocorrer uma valorização do dólar que normalmente é sempre acompanhada pela desvalorização do crude.
É precisamente esta variável do crude que representa 95% das exportações angolanas e 50% do PIB angolano que conferem uma grande volatilidade a economia do país e um carácter especulativo a sua divida.
O rating é uma avaliação continua, portanto, pode ser revisto quando a conjuntura ou as condições estruturais se alteram, o que implica um maior rigor na Governação para evitar eventuais punições que uma revisão em baixa implicam, nomeadamente, aumento do custo da divida e o estrangulamento do financiamento. Não será de todo compatível situações do género, o Estado não honrar os seus pagamentos e não efectua-los dentro dos prazos estipulados, como não será compatível situações absurdas de corrupção no Banco Central que é suposto ser o supervisor e regulador do sistema financeiro, como não será compatível politicas económicas que ponham em causa o crescimento económico de uma forma sustentada ou o excessivo recurso a divida.
Creio que a maior virtude do rating será obrigar a uma governação mais rigorosa, já que a economia nacional vai encontrar-se mais monitorizada a nível internacional, sob pena, do país ser exposto as suas misérias e ser fortemente penalizado na percepção e na formulação das expectativas dos investidores sobre a nossa economia.