sexta-feira, 30 de abril de 2010

The Angolan Original Sin

Para economias do perfil da angolana pode revelar-se de grande utilidade o estudo e o acompanhamento de algumas economias da América latina, principalmente, porque essas economias já fizeram o mesmo percurso que Angola se encontra agora a iniciar, seria de toda a conveniência evitar os mesmos erros clássicos que algumas dessas economias cometeram durante o seu percurso.
Um dos pecados que alguns países da América latina cometeram, em particular, o México, denomina-se, The Original Sin. Este fenómeno esta usualmente presente em mercados ineficientes, como poderia ser o mercado angolano, para compreender este conceito, temos que assumir que uma empresa presente num mercado eficiente pode endividar-se tanto a curto prazo como a longo prazo, assim como em qualquer moeda, com o objectivo de obter um ajustamento entre a maturidade dos seus activos e passivos e da moeda com a moeda dos seus cash-flows.
Se a empresa não encontrar os instrumentos financeiros que lhe permitam fazer este ajustamento, terá como consequência um Balanço mais arriscado, principalmente, se a empresa não conseguir obter financiamento de longo prazo para fazer o matching com os seus activos, a empresa terá que necessariamente endividar-se a curto prazo, ficando exposta ao risco de taxa de juro.
Da mesma forma se a empresa não for capaz de endividar-se na moeda em que os seus cash-flows estão denominados, ela terá que endividar-se em outra moeda, existindo um desajustamento na moeda, ficando exposta ao risco cambial e com um Balanço com níveis de risco mais elevados, ou então, será obrigada a aumentar o seu capital próprio para não ficar exposta ao risco.
Esta lógica que foi apresentada ao nível das empresas, também pode ser aplicada ao nível soberano, ou seja, ao nível dos Governos. Em muitos países da América latina assistimos nestas ultimas décadas, uma grande dificuldade de colocar divida denominada na sua própria moeda nos mercados internacionais, além, da dificuldade de se endividar a longo prazo no seu próprio mercado domestico, colocando os Governos perante um dilema, endividar-se a curto prazo no mercado domestico, gerando um desajustamento das maturidades, ou endividar-se a longo prazo em dólares gerando um desajustamento da moeda. A este dilema chama-se The Original Sin, que pode ter efeitos perversos se existir um aumento ao nível das taxas de juro ou então uma valorização da moeda em que está denominada a divida.
Este fenómeno tem importância porque precisamente há algumas décadas atrás foi responsável pelo default do México na sua divida soberana denominada em dólares devido a excessiva valorização do dólar que se verificou na época e que fez impossível que o Governo mexicano pudesse cumprir o seu serviço da divida e fosse obrigado a declarar insolvência.
Seria interessante que os responsáveis governamentais angolanos tivessem presentes estas lições que a história económica nos brinda enquanto iniciam a sua aventura pelos mercados financeiros internacionais.