sábado, 10 de abril de 2010

O Rating dos Pecados Angolanos

Este post chega ao blog com um certo atraso, foi sensivelmente, na última semana de Março que saiu uma notícia no Diário Económico (Portugal) que fazia referência ao facto do governo angolano ter contactado uma agência de rating para obter uma notação para o seu risco soberano no âmbito de uma operação financeira que visa colocar 4 mil milhões de dólares nos mercados financeiros internacionais.
É um momento muito pouco favorável para submeter-se ao escrutínio das agências de rating e ainda menos tentar colocar divida soberana nos mercados internacionais. Principalmente, quando começa a ser do conhecimento público que vários países, nomeadamente, da zona euro, manipularam as suas contas públicas com produtos derivados para cumprir critérios orçamentais e de divida pública, o que transmite um sinal de batota, pouca transparência e credibilidade, não parece ser sensato que países conotados internacionalmente com elevados índices de corrupção se submetam a prova do rating.
Nota-se um maior grau de exigência e de intolerância por parte das agências de rating que sistematicamente têm revisto as suas notações em baixa, por exemplo a Grécia, viu o seu rating segundo a Fitch situar-se no BBB-, ou seja, praticamente ao nível das junk bonds (alto risco). Se um país integrado num espaço económico como a UE tem este tipo de notações, o que podemos esperar de Angola?
Parece-me que o rating angolano será sempre bastante penalizador para a sua economia via sua divida, não será expectável um bom rating, bem pelo contrario, um mau rating terá como consequência onerar a divida angolana porque os investidores vão exigir spreads mais elevados perante notações baixas, uma vez que estas reflectem um elevado grau de risco. A questão é que perante spreads excessivamente elevados existe um elevado risco de default, perante, este cenário será expectável que a emissão angolana tenha pouca procura.
Alias, os sistemáticos casos de corrupção que chegam inclusivamente até ao Banco Nacional de Angola, mais os exemplos de má gestão e de delapidação dos recursos públicos, que contribuem para reforçar a imagem de má governação em nada ajudam o país, principalmente, quando se pretende ter um espaço próprio nos mercados financeiros internacionais com o objectivo de financiar o crescimento económico de Angola. O rating angolano vai ser o espelho dos seus pecados e das suas fragilidades.