terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Pecado da Sonangol no BCP

Quando se tornou pública a entrada da Sonangol no Millennium BCP fiquei surpreendido porque não consegui entender a mais-valia e a sinergia estratégica do investimento realizado. Já nem menciono o timing do investimento, a Sonangol entrou no BCP num momento conturbado da instituição, duas OPA´s falhadas, uma guerra pela sucessão e a exposição em praça pública de algumas praticas menos correctas.
Naturalmente, o Banco entrou numa espiral de destruição de valor, presumo, que a Sonangol deve ter perdido imenso dinheiro. Além disso, sempre achei um absurdo efectuar um investimento tão elevado para ter um papel secundário na gestão do banco, não faz sentido a Sonangol, uma empresa pública ser uma mera gestora de participações financeiras, é absurdo, porque é um negocio ruinoso para o Estado Angolano.
Convém perceber a natureza do BCP, foi um Banco que se constituiu com base numa estrutura accionista fragmentada, accionistas pequenos e ao mesmo tempo clientes do próprio banco, accionistas frágeis, foi nessa base que o BCP se converteu num caso de sucesso, um case study em muitas Escolas de Negócios.
O problema surgiu com uma sucessão mal planeada e mal aceite, que acabou em litigio e atirou o Banco para a lama, o equilíbrio de forças na estrutura accionista alterou-se, os accionistas extremamente alavancados, ou seja, endividados, tiveram todo o interesse em eleger uma administração fraca, com intuito de promover uma posição passiva em relação aos níveis de morosidade dos accionistas, portanto, existe um interesse implícito de manter o actual estado de coisas, o Banco não ser eficiente.
Uma situação que não deveria e nem pode ser do interesse da Sonangol, porque a Sonangol é simplesmente um accionista, não sofre da mesma dualidade, o seu interesse deveria ser a gestão eficiente dos recursos, somente, desta forma será possível criar valor, algo, que não está a acontecer.
Seria do interesse da Sonangol promover dois tipos de situações, promover uma OPA sobre o BCP, por parte de um outro Banco, seria um dos caminhos para recuperar o investimento realizado. Ou então, deveria promover uma concentração accionista no Banco, de forma, a impor uma administração mais agressiva e mais empenhada em acabar com as ineficiências do Banco e contribuir para uma verdadeira gestão de criação de valor acrescentado.